Sejam Bem-Vindos!

O Botequim é um espaço democrático e opinativo sobre os mais diversos assuntos, envolvendo a sociedade brasileira e o mundo.

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terça-feira, 15 de março de 2011

Espaço Curtas: Paralisação das Atividades do Blog

Estou com um grave problema de saúde que acarretará, nos próximos meses, na paralisação das atividades do meu blog.
Para os meus amigos e aqueles interessados gostaria de informar que estou com um deslocamento de retina gravíssimo no meu olho direito. A enfermidade custou, até o momento, na perda total da minha visão do olho afetado. Além disso, meu olho esquerdo está também caminhando para o mesmo problema. Por isso tenho que realizar uma cirurgia de urgência para ver se é possível recuperar parte da visão comprometida.
Espero, com a ajuda de Deus, que nos próximos meses, após a realização da operação, estar totalmente curado para assim continuar com a minha vida e com as atividades de meu blog.
Abraços a todos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Espaço Mundo: Dor e Sofrimento no Japão

O terremoto que devastou o Japão nesta última sexta-feira teve um impacto de 8,9 graus na escala Richter, mas mesmo assim, muitas cidades conseguiram ficar de pé devido ao preparo de suas construções para os casos de terremoto. Porém, o Japão não conseguiu evitar que os Tsunamis formados pelo forte tremor destruíssem muitas cidades litorâneas causando a morte de milhares de pessoas.
O mundo, a cada dia, vai percebendo a verdadeira proporção da catástrofe. De início, assim que os Tsunamis invadiram algumas cidades da costa japonesa, foram computadas em torno de 20 baixas. No entanto, até a manhã dessa segunda-feira, o número de mortes já está beirando a 2.000. E esses números podem até duplicar nas próximas horas.
Se não bastasse as milhares de vidas que podem ter sido ceifadas pela força da natureza, o risco agora é com o desastre nuclear. Um reator da usina nuclear de Fukushima explodiu neste sábado, causando o vazamento de elementos altamente radioativos. A preocupação do governo japonês é conter o vazamento radioativo da usina e evitar que outras usinas nucleares sofram danos devido a falta de resfriamento de seus reatores. No Japão mais de 75% da energia consumida vem de usinas nucleares.
A impressão que eu tenho é que aqui no Brasil, nós brasileiros assistimos à tragédia no Japão como algo proveniente dos estúdios de Hollywood, ou coisa parecida. Acredito que um terremoto em torno de 5 graus já seria o suficiente para destruir, por exemplo, toda a cidade do Rio de Janeiro. Resta ao menos o consolo de que terremotos dessa magnitude não são comuns no Brasil; ainda bem, pois se não, nada impediria que em algum momento, o Brasil se transformasse num outro Haiti.

(Por Franco Aldo – 14/03/2011 – às 09:45hs)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Espaço Ponto de Vista: Copa do Mundo no Brasil - Falta de seriedade até na escolha das capitais

Os preparativos para a Copa do Mundo aqui no Brasil estão daquele jeito brasileiro de ser, atrasadas e com muitas promessas de gasto do dinheiro público. Alguém duvida que teremos escândalos envolvendo superfaturamento e desvios de verbas públicas? Eu não.
A falta de seriedade com a coisa pública já começou antes mesmo de o Brasil ser escolhido pela FIFA para sediar a Copa do Mundo de 2014. A escolha das capitais que sediarão os jogos foi determinada por puro conchavo político; quando deveria ser levado em consideração fatores como: o campeonato regional e a infraestrutura existente. Mas aqui tudo se resolve na política, se é amigo, está dentro para gerir a dinheirama que virá, se é inimigo, contente-se em pelo menos disputar.
Como exemplo das polêmicas escolhas, podemos citar a escolha da cidade de Cuiabá que venceu a disputa com Campo Grande-MS e Goiânia-GO. Das três, Cuiabá é a menos favorecida pois, além de contar com uma infraestrutura precária (ruas estreitas, transporte caótico, falta de um aeroporto, falta de hotéis, etc), o Mato Grosso, pra piorar, tem um falido campeonato regional, que quando muito, leva algumas centenas de torcedores aos estádios. E isso sem falar do forte calor, uma característica da capital mato-grossense.
Portanto, dessas três cidades, Goiânia seria a mais indicada, pois tem um bom campeonato regional, com clubes de expressão no cenário nacional, e sua infraestrutura é bem mais adequada levando-se em conta as demais concorrentes.
Ao invés de construir a Arena Pantanal, orçada em mais de 340 milhões de Reais! , que fosse reformado o Serra Dourada, pois depois da Copa, o que será da Arena Pantanal? Será palco de show de duplas sertanejas? Provavelmente sim, pois aqui no Matogrosso não há futebol que garanta a manutenção de um estádio, que com certeza, será detentor de muitas despesas; um ‘Elefante dos mais Brancos’ diga-se de passagem.
Outra escolha desarrazoada foi a de Manaus como representante da Região Norte. Ora, o Amazonas é detentor, pra variar, de um pífio campeonato regional, contando com clubes que não figuram no cenário nacional, além de sérios problemas de infraestrutura. Assim como aconteceu em Cuiabá, com a implosão do Verdão, o Estádio Vivaldo Lima, “O Vivaldão”, também foi posto abaixo e será construída uma moderníssima arena esportiva. Outro ‘Elefante Branco’ que será motivo de prejuízos futuros.
Ao invés de Manaus, Belém, capital do Pará, seria a indicação mais prudente e razoável. O Pará tem clubes de expressão nacional, como o Remo e o Paysandu que levam milhares de pessoas, todos os anos, aos estádios. Disto posto a construção de uma arena moderna e dispendiosa, talvez, fosse muito mais fácil administrar no Pará do que em Manaus.
Esses dois exemplos de falta de seriedade e moralidade são alguns dos muitos que estão por aí.
Só pra se ter uma idéia, até agora a Infraero não se mexeu no que concerne a sua parcela de responsabilidade nas reformas dos principais aeroportos do país.
Muitas obras de infraestrutura nas cidades que sediarão os jogos ainda não começaram.
Em São Paulo ainda temos a indecisão em qual local será construído o estádio que abrirá a Copa do Mundo.
Bagunça, falta de seriedade, descaso com a coisa pública. Assim será a Copa do Mundo aqui no Brasil.

(Por Franco Aldo – 10/03/2011 – às 19:31Hs)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Espaço Esporte: A Volta de Adriano à Casa da Mãe Joana

Após ter seu contrato rescindido pela Roma da Itália, Adriano, depois de muito aprontar com o time italiano, pode voltar mais uma vez para o Flamengo, sua verdadeira casa.
Após sua polêmica saída da Inter de Milão, em 2008, quando abandonou o clube italiano alegando problemas psicológicos, o ‘Imperador’ parece não ser mais o mesmo; a falta de profissionalismo e a suspeita de um caráter comprometedor afundam cada vez mais a imagem de Adriano no cenário do esporte nacional e internacional. Drogas? Falta de caráter? Exemplo de um comportamento que clama por uma sadia educação moral? O que será?
O fato é que após a conquista do Campeonato Brasileiro de 2009 pelo Flamengo, o jogador não parou mais de se comprometer com problemas ligados a sua suposta falta de profissionalismo (excesso de peso, falta aos treinos,...) e com a polícia, principalmente com as suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas no morro do Cruzeiro.
A impressão que eu tenho em tudo isso é que Adriano deixou o Flamengo em 2010, para defender as cores da Roma, mais para fugir de seus problemas pessoais no Rio do que vontade pura de defender as cores do clube italiano.
E o mais espantoso em tudo isso é que o Flamengo parece que não aprendeu com os erros do passado; Adriano aprontou muito no início de 2010 e teve como conseqüências a demissão de Andrade por suspeitas de falta de comando. Como culpar o técnico se a direção do clube tratava o jogador como um verdadeiro imperador? Adriano fazia o que bem entendia; faltava treinos, engordava a olhos vistos e pra piorar, junto com o goleiro Bruno, figurava nas páginas policiais dos principais jornais do Rio. A gota d’água foi a perda do campeonato carioca de 2010 para o Botafogo, quando Adriano desperdiçou um penalty defendido por Jéferson.
A volta de Adriano significa muito mais que o retorno a casa, mas sim, o retorno à casa da mãe Joana.
Sempre é bom lembrar que o ‘bonde sem freio’ é comandado por Ronaldinho Gaúcho, uma espécie de mico de circo que vive em cima de carros de bombeiros autovangloriando-se , muito mais pela irritante bajulação que está envolta da sua vida, do que justificadas atuações nas partidas que disputou.
Portanto, o ambiente será o propício, mais uma vez, para se transformar em uma grande discórdia do que na montagem de um grande time.
Se a conquista de uma Taça GB encima do pobre Boa Vista foi de um carnaval desarrazoado, com a chegada de Adriano a festa vai ficar completa; pagodes, funks, comemorações antecipadas. Não precisa de muita coisa não, basta um gol qualquer, e de preferência de Ronaldinho, para a festa ficar completa. É um risco, pois até o momento, o Flamengo não jogou como deve jogar; ganhou nos penaltys do Botafogo e ganhou por 1 X 0 do Boa Vista. Muito pouco pra quem tem o elenco que tem e, principalmente, um jogador que foi, por duas vezes, o melhor do mundo.

(Por Franco Aldo – 09/03/2011 – às 13:57hs)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Espaço Conto: História Pra Boi Dormir

Seu João, o cinquentão, era um típico auxiliar de escritório que trabalhava no Rio Comprido, Rio de Janeiro. Morava em Bangu na zona oeste. E todos os dias, madrugava na estação de trem de Guilherme da Silveira para conseguir um lugarzinho pequenino no trem-lotado-de-cada-dia. Ao fim do expediente, era a mesma rotina, um sofrimento só; trem lotado, evangélicos pregando, tarados sarrando, alguns mal cheirosos e os famosos ambulantes dos trens suburbanos que vendem até veneno pra sogra.
Só que todas as sextas, seu João, o quarentão, tinha destino certo antes de ir pra casa. Numa sexta, como às outras, saiu do escritório muito estressado e resolveu primeiro passar em um supermercado pra comprar alguns biscoitos e outras guloseimas. Ao chegar ao caixa, para pagar as compras, olhou pra mulher atendente que estava fazendo cara de nojo, refletiu e não culpou a sua antipática atitude de funcionária mal paga, pois além desses problemas, imaginou também a sua possível e precária situação social. Talvez a funcionária nem soubesse assinar o seu nome direito, pensou seu João, visto que aparentava ser já de idade. Leitor amigo, não estou discriminado ninguém já que é natural pra uma pessoa de idade se encaixar no perfil anteriormente relatado. Ora, quem nunca escutou o avô ou o tio ou a tia dizendo que em sua época estudar era pra gente de dinheiro? Pois bem, minha caixa de supermercado além de idosa, trabalhava fastidiosamente pra receber no final do mês dois milhões de cruzeiros! Muito zero pra pouco valor não é? Vamos deixar esse lengalenga pra lá. Assim, Seu João, o cinquentão, se sentiu muito bem como funcionário de um escritório de despachantes, já que pra ingressar no mesmo era necessário ter o primeiro grau completo e também ter algum cacoete “de homem de negócios”.
Após pagar sua compra, dirigiu-se a mulher e lhe disse um muito obrigado. A mulher fez uma cara de espantada e com muito esforço respondeu quase imperceptivelmente um tímido ‘de nada’, como se sua boca estivesse fechada por um zíper. Satisfeito, Seu João, aquele mesmo..., o do trem lotado..., o do cheira sovacos... saiu em direção ao Centro da cidade. Pegou um ônibus vazio, já que por volta das dezenove horas a multidão trabalhadora já estava bem longe, nas baixadas, nas zonas mais marginalizadas da cidade, e seguiu pro Centro comendo suas guloseimas. Seu destino..., o bar do barba, uma antiga birosca na rua Marechal Floriano que abrigava diversas personalidades como: bêbados conscientes e muitos artistas recalcados, como alguns poetas de quinta categoria, músicos sem futuro, pintores sem imaginação, etc. No bar do barba, Seu João, o cinquentão, se sentia em casa, pois bebia, bebia e bebia, às vezes até sem dinheiro, mas não havia nenhum problema, pois, “o barba botava no prego”. Quando Seu João chegou, não havia mais lugar nas mesas, estavam cheias de grupinhos que debatiam diversos assuntos relacionados às artes. Como estava sozinho e não ligava pra tomar uma em pé, Seu João, o cinquentão, se acomodou logo encostando à parede. Bebeu a primeira garrafa de cerveja, depois a segunda, na terceira, um sujeito alto, branco, magricela, vestido com calça de tergal cinza, estilo “me dá dinheiro”, com uma camisa social branca, parou a seu lado e puxou conversa:
– Amigo!? todas às vezes que venho aqui, nunca há lugar. Os poetas e músicos da Praça Mauá e do Castelo sempre chegam primeiro!
– Mas você, mora aonde? – perguntou Seu João.
– Moro em Olaria, ou melhor, no morro do cruzeiro – respondeu o desconhecido.
– O que faz você vir de olaria aqui pro bar do barba?
– Pois sou poeta, todas as sextas, quando saio da gráfica, venho correndo pra cá! – respondeu o estranho muito entusiasmado.
– Ah sim! Admiro muito os poetas por isso que venho sempre também pra cá. Mas não me lembro de você em outras sextas? – disse seu João.
– É que eu costumo ficar sentado naquele cantinho ali, tá vendo? Mas eu sempre te vejo chegando e depois eu não vejo mais nada! – respondeu o estranho soltando uma gargalhada estridente.
– Como você se chama? – perguntou já na quarta cerveja o Seu João, o cinquentão.
– Me chamo Joaquim Crispim, mas pode em chamar Crispim.
– Sou João Raimundo Severino da Silva, mas pode me chamar de João, alguns me chamam de João, o cinquentão, pelo fato de eu estar solteiro até hoje!
– Estou observando que você se entristece com isto? – comentou o Crispim, já acompanhando na cerveja o Seu João.
– Não que seja exatamente por isso, mas com as circunstâncias que me impendem! – vociferou abalado o Seu João o........
– Mas o que poderia te impedir de constituir família? És um homem livre, não é?
– O Estado me impede! – bravejou Seu João, já na quinta cerveja.
– Sinceramente meu amigo João não estou entendendo nada, seja um pouco mais claro, por favor?
– Com o salário de fome que recebo como auxiliar de escritório, como vou constituir família? Já que é tradição o homem ganhar mais que as mulheres, além disso, teria que casar com uma mulher que estivesse disposta a trabalhar, coisa que eu não ia gostar, já que também é tradição a mulher ficar em casa tomando conta dos filhos.Você me entendeu agora?
Crispim olhou pro Seu João, o cinquentão, e pediu a sexta garrafa de cerveja ao barba, aliás, que não tinha nenhuma barba. Para o Crispim a cerveja ainda estava muito gostosa e bem gelada. Pro Seu João, o quarentão, já não sentia gosto algum. Alguns minutos de silêncio transcorreram depois do desabafo do Seu João.
– Escuta João, eu não sou a pessoa mais indicada pra te dar conselhos, já que também não sou e nunca fui casado. Sou poeta, boêmio, adoro as paixões repentinas, como também adoro encerrá-las, não porque penso da mesma forma que você, mas por convicção filosófica. Amo a vida, as mulheres, a poesia, a bebida, amo todos os prazeres terrenos, logo nunca irei me casar porque não me vejo preso a nada. Mas acho que as pessoas devem buscar a felicidade de qualquer forma, independente de qualquer empecilho ou dificuldade. Você está me entendendo? – disse Crispim em tom poético ao Seu João, o cinquentão, que ficou cismando com a ajuda das palavras do novo amigo e também com a ajuda da cerveja.
Tentando mudar de assunto e também ajudar o Seu João, Crispim resolveu incentivar o amigo a buscar nessa noite o carinho e o conforto de um colo feminino. Apontou na direção de uma mesa que ficava na sua direita, onde duas mulheres bebiam e conversavam. Uma era morena, de corpo gostoso, lábios grossos, cabelos alisados, vestia uma calça Lee bem apertada, onde se aflorava demasiadamente cada contorno de suas entranhas. Parecia ser gente do samba. A outra era branca queimada de sol, também bem torneada de corpo, mas parecia já de idade, usava uma mini-saia jeans e uma blusinha de alça vermelha. As duas pareciam já estar de porre e percebendo o sucesso da investida, Crispim convidou o Seu João, o cinquentão, a se sentarem à mesa com as mulheres. Seu João ficou um pouco vermelho, denunciando sua completa timidez, mas a cerveja lhe deu coragem para aceitar a investidura, já que em sua concepção, um homem que se preza nunca foge da guerra.
Crispim chegou perto da mesa das duas mulheres e disse quase poeticamente:
– Com licença senhoritas, poderíamos sentar com vocês pra conversarmos um pouco?
Os olhos de Seu João observavam atentamente atrás do corpo de Crispim. A morena fez uma cara de reprovação, mas a branca aceitou instantaneamente abrindo sorrisos e encarando o Seu João, o quarentão. Crispim sentou-se ao lado da morena, escolhendo nitidamente suas intenções. Seu João, o cinquentão, ficou ao lado da branca que o fitava com olhares de peixe morto, revelando suas intenções.
Os quatros se apresentaram; a morena se chamava Andréia, a branca se chamava Dalva. O papo começou e logo foi dirigido a se falar em poesia, incentivado pelo Crispim que tentava impressionar Andréia. Como o Seu João, o cinquentão, nada entendia de poesia, ficou calado demonstrando toda sua ignorância sobre o assunto. Enquanto isso, o garçom não parava, era mais e mais garrafas de cerveja. As horas se passaram e já era tarde da noite, Crispim já tinha desistido de Andréia, Dalva e Seu João tagarelavam coisas indecifráveis, pois já estavam bêbados e somente os bêbados conseguem se entender. Até que Crispim resolveu ir embora, falou alguma coisa ao ouvido do Seu João e saiu cambaleando pela Rua Marechal Floriano em direção à Central do Brasil.
Andréia e Dalva moravam juntas num pequeno apartamento em Piedade, trabalhavam numa empresa de confecção na Rua da Alfândega. Dalva era gaúcha, tinha sido expulsa de casa por vadiagem. Andréia era do Rio, da favela da Rocinha, também saiu de casa por desavenças com o pai. Às quatro da manhã, as duas resolveram ir embora, mas o estado de embriaguez do Seu João, o cinquentão, era lastimoso. Em certo momento começou a desabafar todos os problemas de sua vida, à procura de uma mulher pra se casar; o baixíssimo salário; o trem lotado; a funcionária do supermercado, fez também uma declaração de amor para Dalva. Apesar de também estar em outra dimensão, Dalva ainda queria conhecer melhor o Seu João e aconselhou Andréia a aceitar a idéia de levá-lo pra casa.
Assim, Seu João passou o restinho da noite em companhia de Dalva. A partir desse dia, os dois viraram namorados. Dalva, ao sair do trabalho, sempre esperava na estação de trem da Central do Brasil o Seu João, o cinquentão, que vinha do Rio Comprido de trem parador numa tranqüilidade só. Os dois passaram a morar juntos na casa de Dalva, em Piedade, pois a possibilidade de morar em Bangu foi logo descartada pelo Seu João, pois já visualizava sua mulher no trem-lotado-de-cada-dia, cheio até o teto, escutando as pregações contra o inferno, cheirando sovacos, sendo sarrada por algum maníaco, e comprando bananada de mil cruzeiros.
Caro leitor, diante dessa repentina mudança na vida de Seu João, o cinquentão, podemos, agora, deixar de lado o apelido de ‘cinquentão’, pois mesmo sem papel passado, já estava praticamente casado com Dalva. Mesmo ganhado menos que Dalva, Seu João contentou-se com a situação, até porque, as despesas da casa eram rachadas meio a meio, sobrando, assim, um pouco pra cerveja.
Agora que está praticamente consolidada mais um final feliz na novela da vida, um leitor mais exigente poderia perguntar a si mesmo, que fim levou Andréia e o Crispim. Andréia ao saber da união de Dalva com o Seu João, que na época ainda era o cinquentão, ficou irada da vida e resolveu abandonar a amiga; foi morar no morro da mangueira, bem próximo onde morava em Piedade. Já o Crispim nunca mais teve contato com Seu João, mas continuou a freqüentar todas as sextas o famoso bar do barba, sempre com aquelas idéias de aproveitar a vida, isto é, mais valendo o que se pensa em detrimento do que você aparenta ser.
Bem, já até poderia encerrar essa história pra boi dormir, mas existem coisas que só a novela da globo é capaz de realizar e fazer acreditar, um final feliz.
Passados alguns anos, a vida de Seu João e Dalva começou a se arrastar. Seu João bebia mais do que antes, e até, às vezes, agredia Dalva. Os dois não se encontravam mais na Central do Brasil, no horário do rush. Dalva chegava em casa todos os dias bem tarde da noite, dizendo estar fazendo serão. Seu João desconfiava da mulher, mas não tinha nenhuma prova. Até que resolveram se separar, cada um foi pro seu lado e assim a vida continuou......

quarta-feira, 2 de março de 2011

Espaço Ponto de Vista: A Cegueira Assusta

Fui acometido por uma infecção no olho direito chamada Uveíte posterior. Quem olha pra mim não percebe que estou doente, pois não há qualquer vermelhidão ou mancha que denuncie meu estado de enfermidade. O único sintoma, e o mais grave, é a perda momentânea da acuidade visual. Estou enxergando apenas 10%. Às vezes bate um desespero, pois parece que uma película, que mais lembra um pára-brisas enlameado de um automóvel, tomou conta de todo o meu olho, impedindo que eu enxergue com tinidez. É horrível!
O resultado de tudo isso é que tenho que fazer as coisas mais simples do dia-a-dia com muita cautela e atenção. Dirigir nem pensar. Noções de profundidade e distâncias ficaram comprometidas.
Às vezes penso como seria a minha vida se eu perdesse a minha visão? Uma pergunta assustadora, mas que me leva a refletir muita coisa. O receio de temer a perda da visão está ligado, é obvio, ao impedimento de não poder mais contemplar aquilo que, para nós, representa as coisas belas da vida. E o conceito de belo, para nós que enxergamos sem deficiência, é a contemplação do exterior, num endeusamento que quase sempre sentimos apenas com um dos sentidos; uma paisagem, a mulher amada, nossos pais, as flores, o mundo. Portanto, acho eu que os cegos têm uma percepção maior da vida, pois sentir a vida apenas com os olhos, muitas vezes, nos leva a julgar, de forma equivocada, situações e coisas sem o conhecimento do seu devido valor.
Tudo isso me faz lembrar daquele famoso ditado que diz assim: “o maior cego é aquele que não quer ver”. É uma frase de efeito e de muita reflexão, que nos faz concluir que os verdadeiros cegos não são apenas os que possuem um problema físico, mas sim todos aqueles que se negam a perceber as coisas dignificantes da vida. Esse ditado e sua profundidade foi muito bem trabalhado por José Saramago, em ‘Ensaio sobre a Cegueira’; a obra retrata a vida de pessoas normais, que num passe de mágica, ficam cegas. A barbárie, a falta de humanidade, amor, esperança, solidariedade são alguns sentimentos trabalhados na obra de Saramago.
Portanto, penso que a vida de um cego deve ser bem diferente da que vemos e sentimos com os dois olhos. Não que seja pior ou melhor, mas apenas diferente, pois o ser humano tem que se adaptar a novos sentidos, ou melhor, tem que aprimorar os sentidos que antes eram subutilizados; o tato, a audição e o olfato devem ser adaptados à nova vida.
Espero ficar logo curado dessa enfermidade, mas também, espero não cair – se é que já não estou – na cegueira do dia-a-dia aqui no Brasil.

(Por Franco Aldo – 02/03/2011 – às 11:34hs)

terça-feira, 1 de março de 2011

Espaço Ponto de Vista: As Bundas e a Fiscalização

Hoje de manhã, quando assitia ao telejornal, fui surpreendido com a notícia do aumento do IPTU em diversas cidades brasileiras. Só no Rio de Janeiro, o aumento do imposto foi de mais de 5,70%. Por sinal muito elevado. E aí veio a pergunta da apresentadora que me deixou pensativo, para onde vai tanto dinheiro? Pois, segundo ela, o Brasil é o país da falta de fiscalização.
Eu sempre ouvi dizer por aí que para o Brasil crescer em qualidade de vida e ter uma melhor distribuição de renda é necessária muita fiscalização na correta conduta do emprego das verbas públicas. Portanto falta fiscalização na boa aplicação dos recursos públicos, falta fiscalização nos mandatos de nossos parlamentares, no cumprimento das leis de trânsito, falta fiscalização na saúde, na segurança, falta fiscalização na nossa educação; desde a fiscalização dos contratos de merenda escolar até a fisclização nos recursos para construção de escolas e compra de material didático escolar. Falta fiscalização do povo, verdadeiro usuário de tudo que possa ser considerado público. E o verdadeiro conceito de público não se confunde com o triste conceito de não pertencer a ninguém, mas pertencente ao coletivo, à sociedade. E parece que o próprio povo se distancia daquilo que é seu; nas escolas públicas, por exemplo, quantos pais se preocupam em se aproximar da escola que seus filhos estudam? Quantos procuram saber de algum projeto de melhoria da escola de seus filhos? Quantos buscam a prestação de contas de algum órgão?
Falta, também, fiscalização da nossa própria conduta moral. Falta fiscalização do nosso egoísmo; temos que nos fiscalizar para sermos um pouco menos mesquinhos e mais cidadãos. Portanto a fiscalização aqui no Brasil é uma atividade quase nula.
Sempre soube, também, que o Brasil é o país das bundas; das bundas queimadas de sol das praias, das bundas do carnaval que se aproxima, das bundas dos cidadãos lesados por seus candidatos políticos, das caras de bundas que fazemos ao recebermos um péssimo atendimento numa repartição pública, das bundas que fazemos pela nossa inércia do dia-a-dia, enfim somos as verdadeiras bundas lenientes. Mas o que isso tem de comum com a idéia de fiscalizar?
A idéia do fiscal é de uma pessoa dotada de valores morais, cumpridora de suas obrigações e obediente às leis que lhe são impostas. Além disso, o fiscal tem a tarefa de vigiar uma parcela das obrigações conferidas a alguns cidadãos e, para isso, tem ciência das leis que regulam determinadas tarefas. Assim a tarefa de fiscalizar é determinante na identificação dos valores morais de uma sociedade, pois o ato de fiscalização é uma parcela de poder conferida pelo governante maior a uma pessoa dotada de valores e que tenha por finalidade controlar e manter o bom funcionamento do setor fiscalizado.
O Ato de fiscalizar é um ato nobre. Se fiscaliza-se por profissão, o fiscal tem que ser bem remunerado e dotado de valores que estão acima de qualquer ato corruptível. Se fiscaliza-se por cidadania, o fiscal está desempenhado seu dever de cidadão, alertando o poder legal a respeito da irregularidades encontradas. Portanto todos nós devemos ser fiscais, mas para isso temos que esquecer um pouco as bundas. É difícil, pois lá fora todos nos conhecem pelas nossas apetitosas bundas e pagam muito por isso. Se por acaso deixarmos muitas de nossas bundas de lado, talvez, o engajamento social, numa mostra de fiscalização cidadã, seja frutífero em determinados setores, alavancando, num futuro, na melhora de alguns serviços e setores da sociedade.
Vamos fazer as bundas sabarem neste carnaval, vamos tostar as bundas nas praias brasileiras, vamos dar as bundas a quem quer bunda, mas vamos deixar de ter cara de bunda..., isso não. Povo esperto é aquele que samba, mostra a bunda, mas na hora do cumprimento das coisas, fiscaliza e faz cara feia para os infratores.

(Por Franco Aldo – 09/02/2011 – 10:30hs)