Sejam Bem-Vindos!

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Sejam Bem-vindos!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Novo Efetivo da Terceira Jornada do Posto Fiscal XII de Outubro (SEFAZ-MT)

Da esquerda para a direita, em pé: Benedito Tocantins, Valfredo Farias, Flávio Luna, Marcel Martins (supervisor), Franco Aldo e Nedino de Oliveira. Agachado: Marino Hernandorena.
A única ausência na foto foi a de Antônio Bertão que estava ocupado na conferência de carga.


A terceira jornada do Posto Fiscal do Estado de Mato Grosso, Josafá Jacob (XII de Outubro), na divisa de Mato Grosso com o Estado de Rondônia, recebeu o reforço de três experientes Agentes de Tributos do Estado: Marino I. Gomes Hernandorena, Antônio Bertão e Valfredo Borges Farias.
Junto com os demais integrantes da terceira jornada do Posto Fiscal XII de Outubro, os três novos colegas demonstraram muita disposição durante a jornada, reforçando o grupo, tanto na camaradagem, como na eficiência na aplicação da legislação tributária.
É o Fisco de Mato Grosso na luta contra a sonegação e a evasão fiscal.

(Por Franco Aldo – 30/08/2011 – 09:25hs)

O Último Romântico

Professor deve trabalhar por amor, não por dinheiro, diz Cid.

Governador do Ceará critica professores da rede estadual, em greve há 24 dias, e diz que quem quer dinheiro deve procurar outra atividade.

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), mandou um recado nesta segunda-feira (29) para os professores da rede estadual de ensino em greve há 24 dias - eles querem aumento de salário. Para ele, quem desenvolve atividade pública deve colocar o amor pelo que faz na frente do retorno financeiro. “Quem entra em atividade pública deve entrar por amor, não por dinheiro”, disse o governador.
A afirmação já havia sido atribuída a Cid Gomes por professores que participaram de uma negociação pelo fim da greve. Há uma semana o governador teria dito. “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado".
A imprensa pediu um “tira-teima” e Cid disse praticamente a mesma coisa, mas de uma forma mais branda.
“Isso é uma opinião minha que governador, prefeito, presidente, deputado, senador, vereador, médico, professor e policial devem entrar, ter como motivação para entrar na vida pública, amor e espírito público”, declarou. "Quem está atrás de riqueza, de dinheiro, deve procurar outro setor e não a vida pública”, completou.
O Sindicato dos Professores do Ceará (Apeoc) diz que o governo do Ceará não cumpre a Lei Federal do Piso e o plano de cargos e carreiras dos professores. A categoria quer a aplicação do piso para os profissionais de nível médio, graduados e pós-graduados.

(Por Daniel Aderaldo, iG Ceará | 29/08/2011 21:07)

Sem comentários. A má vontade com a educação no Brasil não é exclusividade do Estado do Ceará. Assim como o Governador, Cid Gomes, muita gente por aí despreza a educação pública transformando o que era para ser um instrumento de transformação social (educação pública) numa pocilga para lá de repugnante.
É um dos muitos últimos românticos da cara mais lavada que existem no comando da política nacional.
Tratar a educação pública da forma que está sendo tratada pelo Governador do Ceará é tão cruel como fechar os olhos para os milhares de eleitores ignorantes que jogaram seu voto no lixo ao elegerem um político dessa linha.

(Por Franco Aldo – 30/08/2011 – 04:25hs)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Agentes de Tributos do Mato Grosso Flagram Sonegação de Carga em Trânsito pelo Estado

Os Agentes de Tributos Estaduais do Posto Fiscal Josafá Jacob (XII de Outubro), no uso de suas atribuições legais conferidas pela GOES (Gerência de Execução de Trânsito), flagraram, no dia 26/08/2011, uma carga repleta de peças de cama/mesa/banho, em trânsito pelo estado, com diversos indícios de desrespeito à legislação tributária do Estado de Mato Grosso.
As mercadorias das notas fiscais apresentadas, originadas do estado da Bahia, tinham como destino empresas de outras unidades da federação, como os estados de Rondônia e do Amazonas. Nas notas fiscais apresentadas constavam mais de 13.000 (treze mil) itens de mercadorias como: colchas, capas de travesseiro, capas de sofá, panos de prato, jogos de cama diversos. O valor total das notas fiscais foi de R$ 72.152,00 (setenta e dois mil, cento e cinqüenta e dois reais). Ao ser conferida a carga do veículo, foi constatado que dos 13.000 (treze mil) itens de mercadorias, 5.000 (cinco mil) haviam sido vendidos em Mato Grosso sem o recolhimento do ICMS e sem a emissão de nota fiscal de venda.
O Termo de Apreensão e Depósito (TAD) lavrado foi de R$ 72.512,76 (setenta e dois mil, quinhentos e doze reais e setenta e seis centavos), sendo 18.398,76 (dezoito mil, trezentos e noventa e oito reais e setenta e seis centavos) em ICMS e 54.114,00 (cinqüenta e quatro mil, cento e quatorze reais) em multas.
O TAD foi pago no dia 29/08/2011 e a situação irregular do restante das mercadorias encontradas no veículo foi legalizada com a emissão da nota fiscal avulsa, emitida pelo próprio Posto Fiscal.
É o Fisco de Mato Grosso na luta contra a sonegação e evasão fiscal.

Por Franco Aldo – Agente de Tributos Estaduais de Mato Grosso – 29/08/2011.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

As Falcatruas de José Sarney

Sarney usa helicóptero do Maranhão em viagem particular

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para passear em sua ilha particular duas vezes neste ano. A aeronave foi adquirida no ano passado para combater o crime e socorrer emergências médicas. Foi paga com recursos do governo estadual e do Ministério da Justiça e custou R$ 16,5 milhões.
A informação está na reportagem de Felipe Seligman e João Carlos Magalhães publicada na Folha desta segunda-feira.
Numa das viagens até a ilha de Curupu, onde tem uma casa, o senador foi acompanhado de um empresário que tem contratos milionários no Maranhão, que é governado por sua filha Roseana Sarney (PMDB).
No fim do passeio, o desembarque das bagagens de Sarney atrasou o atendimento de um homem com traumatismo craniano e clavícula quebrada que fora socorrido pela PM e chegara em outro helicóptero antes de Sarney.
Um cinegrafista amador registrou imagens que mostram Sarney e seus amigos desembarcando no heliponto da Polícia Militar em São Luís em dois domingos, 26 de junho e 10 de julho.

OUTRO LADO

Sarney, afirmou, por meio de sua assessoria, que o uso pessoal do helicóptero da Polícia Militar do Maranhão se justifica porque ele tem "direito a transporte de representação e segurança em todo o território nacional, seja no âmbito federal ou estadual, sem restrição às viagens de serviço".
A assessoria afirma que os voos particulares do senador estão em consonância com a Constituição, mas não se pronunciou sobre a presença do empresário no voo e a demora no atendimento do pedreiro ferido.

(Por Folha.com - 22/08/2011 - 07h00)

O Maranhão é um dos Estados mais pobres do Brasil, a pobreza e a má distribuição de renda são visíveis a olhos vistos e a família Sarney é a grande responsável por este estado de pobreza.
Já disse várias vezes aqui nO Botequim que Sarney, uma espécie de coronel dos séculos XVIII e XIX, ainda vivo sabe-se lá ao preço de tantos assassinatos e desmandos com o dinheiro público, é uma sarna que tem por único fim dilapidar os cofres públicos e empobrecer, cada vez mais, o país. É um dos coronéis, assim como a família Magalhães na Bahia, que atrasam o progresso do país.
Mesmo assim, o coronel Sarney tem a chave do poder na mão. É o presidente do Senado e principal articulador da base aliada com o governo do PT. Para derrubá-lo, somente um grande golpe político sem dó nem piedade. Quem ousaria derrubar o poderio político do coronel Sarney?
O PSDB, principal partido de oposição, talvez, fosse esse segmento que pudesse ousar, mas pra quem conhece um mínimo de política sabe que é mais fácil um acordo entre o PSDB e o PMDB, do que uma declaração formal de guerra, até porque o que está em jogo são trocas de favores e compra de cargos, de ministérios. Não é assim que faz o PT em seu governo de pura corrupção?
Os escândalos de corrupção nos Ministérios dos Transportes, do Turismo e da Agricultura tiveram como principais protagonistas, nos dois últimos, personagens pertencentes ao PMDB de Sarney. E numa atmosfera onde tudo é movido à cobiça e à posse do dinheiro público, os desvios de verbas são práticas que se iniciam com os peixes pequenos e terminam em altas somas com os peixes grandes. É difícil acreditar que um homem, que manipula tudo o que ver, esteja alheio a esses escândalos.
O caso do helicóptero da PM (bem público) que já faz parte, há muito tempo, dos bens pessoais do coronel Sarney, e da sua família de parasitas, é apenas um pequeno exemplo de tudo de ruim que esse homem representa para o país. Uma escória, uma sarna que deve ser extinta.

(Por Franco Aldo – 22/08/2011 – às 11:11hs)

sábado, 20 de agosto de 2011

O que se Esperar de Ronaldinho na Seleção?

A surpresa da semana foi a convocação de Ronaldinho Gaúcho para o amistoso do Brasil contra Gana, no dia 5 de setembro. Aliás, uma convocação merecida, pois o craque rubro-negro vem há algumas partidas comendo a bola, e, não é à toa que o Flamengo é segundo colocado no Campeonato Brasileiro.
Ronaldinho é muito importante para o Flamengo e isso foi perceptível no último jogo do rubro-negro carioca que foi goleado pelo Atlético Goianiense por 4 X 1, em pleno Engenhão, por sinal, nesse jogo, Ronaldinho desfalcou o time, cumpriu suspensão automática. Talvez se tivesse jogado a história poderia ter sido outra.
Mas outro problema vem à tona, alguém acredita em Ronaldinho na Seleção?
O craque, desde a sua época de ouro no Barcelona, nunca fez uma partida de gala pela seleção, compatível com as suas jogadas sensacionais no time catalão. O único momento, talvez, de bom futebol foi na Copa de 2002, mas a sua tímida atuação ficou ofuscada pelo brilhantismo de Ronaldo e Rivaldo. Nas outras aparições, foi mais um em campo, uma espécie de jogador medíocre que espera do outro companheiro um momento de glória.
Ronaldinho é o cara certo, no momento certo, para a seleção de Mano e da CBF. Talvez, mais uma vez, se esconda como das outras vezes, pois já provou que quanto mais existam responsabilidades sobre as suas costas, mais apagado tende a ficar. Uma pena.
Mas o que todos nós queremos é que o craque dê a volta por cima e comande o time do Brasil, rumo à Copa de 2014.
Ainda há tempo, apesar de muita gente não acreditar e, talvez, nem o próprio Ronaldinho acredite.

(Por Franco Aldo – 20/08/2011 – às 10:58hs)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cem Anos de Solidão

Estou relendo pela 4ª vez o maravilhoso livro de Gabriel Garcia Márquez, Cem anos de solidão. A obra mistura a simplicidade dos habitantes de um vilarejo chamado Macondo e a saga da família Buendía. O provincianismo mistura-se ao fantástico (como o tapete voador dos ciganos que passa zunindo cheio de crianças do vilarejo na janela de José Arcádio Buendía, ou então, a chuva de quatro anos, onze meses e dois dias) e a isso tudo a agonia de José Arcádio Buendía em busca de conseguir encontrar, através de seus estudos em Alquimia, a Pedra Filosofal.

(choveu quatro anos, onze meses e dois dias em Macondo)

José Arcádio Buendía se entrega por completo aos seus estudos e na loucura de tornar Macondo acessível às grandes invenções da humanidade. Nessa atmosfera, seus filhos crescem e cada um tem um destino diferente do outro, mas todos unidos pelo mesmo fim, a tristeza, talvez, de uma eterna insatisfação. Úrsula, mulher de José Arcádio Buendía, talvez, seja o personagem mais lúcido da história, mas também fadado ao seu destino, contemplar o fim de cada um deles, como se esse fim já estivesse escrito em algum livro do pequeno quarto de estudos de José Arcádio Buendía.

(Os ciganos, comandados por Melquíades, chegam a Macondo)

Envolvente, fantástico, perturbador. A obra de Márquez merece ser lida e relida muitas vezes. É a segunda vez que a leio neste ano e acredito que não será a última. Apesar de já conhecer algumas passagens, fico espantado, como se fosse a primeira vez.
É, no meu ponto de vista, uma das melhores obras do século XX. Vale a pena se embrenhar no mundo fantástico de Macondo e na saga dos Buendía.

(Por Franco Aldo – 17/08/2011 – 08:40hs)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Clima de Deserto de Cuiabá

Cuiabá não faz calor o ano todo, isso é verdade. Por aqui também faz frio, no inverno tivemos temperaturas variando entre 12 a 19 graus, mas no período das secas, de agosto a outubro, o clima na capital mato-grossense se equipara ao clima inóspito do deserto.
A umidade relativa do ar neste exato momento está em torno de 13 porcento. Baixíssimo. Cuiabá está em estado de alerta. Além do forte calor, em torno dos 40 graus, o tempo seco faz com que, principalmente, crianças e idosos sofram com problemas respiratórios; o surgimento de asmas e a proliferação de vírus são mais freqüentes nesta época do ano em Mato Grosso.
Isso é só o início dos problemas, pois nesta época também é muito comum o surgimento de queimadas por todo o estado. A temperatura elevada e o tempo seco facilitam o surgimento de focos de incêndio, tornando o clima ainda mais insuportável.
O Deputado Federal, Romário, está em Cuiabá visitando as obras para a Copa do Mundo de 2014. Pelas imagens da TV nota-se que o baixinho está ‘apreciando’ o forte calor e o tempo seco mato-grossense. E é curioso perceber que nem os cuiabanos suportam o excessivo calor. Ouvem-se rezas e mais rezas por chuva em toda parte da cidade.
Que Deus tenha piedade de nós, moradores de Cuiabá.

(Por Franco Aldo – 16/08/2011 – 12:11hs)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fogão 107 anos!

O Botafogo de Futebol e Regatas completou nesta última sexta-feira, dia 12 de agosto, 107 anos de muita história.
Considerado o clube que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira de Futebol, a história de conquistas do Botafogo se confunde com as conquistas da própria Seleção Brasileira, afinal os escretes de 58, 62 e 70, antes de conquistarem o mundo, venceram no Botafogo; Didi, Nilton Santos, Zagalo, Garrincha, Gérson, Jairzinho, Carlos Alberto Torres são alguns nomes de alvinegros, monstros do futebol, que além de terem se consagrados campeões do mundo, estão na lista dos maiores jogadores de futebol do século XX.
Zagalo, que completou 80 anos na última terça-feira, também tem que ser referenciado, até porque, ele é o único tetra campeão de futebol do mundo. Um verdadeiro fenômeno!
Assim como Zagalo, o Botafogo de Futebol e Regatas tem que ser homenageado por tudo aquilo que representa ao futebol mundial. Um clube que tem por escudo um símbolo de conquistas, as estrela solitária.
Parabéns, Botafogo!

Imperatriz em preto e branco


Escola homenageia o Botafogo e seus 107 anos com desfile exclusivo
"Alô, Botafogo! Olha a Imperatriz chegando aí, gente!". Foi assim que Dominguinhos, puxador da Imperatriz Leopoldinense, anunciou a entrada de 100 integrantes da escola no Estádio Olímpico João Havelange antes da vitória do Botafogo sobre o América-MG. Passistas, bateria, alas das baianas, a festa foi campleta. A escola desfilou na pista de atletismo do estádio, numa bela exibição em homenagem aos 107 anos do Botafogo. A Imperatriz nunca foi tão alvinegra.


Com o samba "Liberdade, Liberdade! Abre As Asas Sobre Nós", campeão de 1989 (ano alvinegro) e considerado por muitos como o maior da história do carnaval carioca, o desfile teve mais uma vez a assinatura do carnavelesco alvinegro Max Lopes. A torcida, de pé, aplaudiu o samba e curtiu mais uma ação pré-jogo do Botafogo.

"Sou botafoguense e, hoje, uni duas grandes paixões. O Botafogo e a Imperatriz. Foi uma festa linda, estamos estreitando cada vez mais laços com o clube. A vitória foi difícil, suada, mas valeu muito a pena. Como é bom ver o time ganhar. Estou muito feliz", afirmou Max Lopes.


A Imperatriz Leopoldinense deu volta olímpica no estádio e foi ovacionada pela torcida. Após o samba, um momento único especial no estádio. A torcida se abraçou e, junta, cantou um emocionante "parabéns pra você" ao Botafogo. Uma justa homenagem ao clube que mais cedeu jogadores para a Seleção Brasileira em Copas do Mundo.


Júlio Gracco

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Assassinato da Juíza Acioli

Juíza é assassinada a tiros em Niterói (RJ)

Uma juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, foi morta a tiros na madrugada desta sexta-feira no bairro Piratininga, em Niterói, também na região metropolitana.
Segundo a polícia, a juíza Patrícia Lourival Acioli, foi morta no momento em que chegada em sua casa.
Testemunhas disseram que os criminosos estavam em dois veículos e duas motos quando dispararam contra a juíza, que estava dentro do seu carro.
Os criminosos fugiram e não tinha sido identificados até a manhã de hoje. O caso deverá ser investigado pela Divisão de Homicídios do Rio.
Parentes da juíza disseram em entrevista ao "Bom Dia Brasil", da TV Globo, que Acioli vinha recebendo ameaças de morte havia cerca de cinco anos.

(Por Folha. Com – 12/08/2011 – 04h50)

O assunto não é dos mais agradáveis. Eu só coloquei aqui no Blog porque é uma notícia que revolta. A Juíza Patrícia Lourival Acioli foi morta a tiros na porta de sua casa e, pela reportagem, já estava sendo ameaçada de morte por um grupo de extermínio que atua em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
No passado, a Juíza já havia condenado policiais que participavam do grupo de extermínio em Niterói e, pelo que tudo indica, a execução foi de autoria desse mesmo grupo.
Falar em assassinatos e execuções no Rio de Janeiro parece um assunto tão comum quanto comentar o último capítulo da novela. Muita gente é assassinada e executada todo ano.
Por falar em execuções e assassinatos, ontem eu estava assistindo a um programa na Rede Brasil que tratava das execuções pela polícia. Por sinal um programa muito triste e interessante. Havia a participação do Deputado Estadual do RJ, Marcelo Freixo, de Marcelo Yuka, MV Bill, delegados, juízes, sociólogos. No programa discutia-se o problema das ações ilegais da polícia e, como uma das respostas, afirmou-se que a polícia é arbitrária porque é o espelho de uma sociedade desestruturada, doente.
Marcelo Freixo comentou algo assim: “todas as bocas de fumo do Rio tem o aval de funcionamento autorizado pela polícia”, “a polícia é conivente com o crime”. As afirmações não deixam de ser verdadeiras e sinceras e, talvez, numa forma de completarmos o raciocínio, poderíamos afirmar também que “o problema do Rio de Janeiro não são os bandidos, os traficantes, mas, sim, a polícia”.
Nessa névoa de barbárie, a juíza Acioli foi assassinada, e, pelo que tudo indica, por supostos policiais. Uma vergonha.
A minha preocupação é que o assassinato de um representante legal do estado de direito não pode ficar sem solução, muito menos, impune. É atentatório à segurança, não só dos cidadãos de bem, mas do próprio país.

(Por Franco Aldo – 12/08/2011 – às 09:07hs)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As Ações da PF e o Uso das Algemas

A súmula vinculante nº 11, editada pelo STF em 13/08/2008, tem o condão de proteger os cidadãos de todo e qualquer abuso por parte da autoridade policial no uso de algemas. Assim reza o texto da súmula:

"Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado".

A súmula vinculante nº 11, no meu entendimento, foi criada apenas para proteger bandidos de colarinho branco, nada mais. Não tem serventia alguma para os demais.
Quando foi editada, em 2008, diversos escândalos de corrupção incomodavam a opinião pública brasileira. Casos recentes como o de Daniel Dantas (Operação Satiagraha), o Mensalão, a Operação Xeque-mate (envolvendo o irmão do presidente Genivaldo Inácio da Silva, o Vavá, indiciado por tráfico de influência e o compadre do presidente Dario Morelli Filho, denunciado pelos crimes de contrabando, formação de quadrilha e falsidade ideológica), o escândalo do Dossiê (Sexta grave crise política do governo Lula - petistas pegos com malas de dinheiro para compra de um dossiê falso para incriminar José Serra, atual Governador de SP) e muitos outros, tiveram como atores principais, os acusados, de um lado, e a Polícia Federal, de outro. Em todos os casos, todos os acusados apontaram irregularidades nas ações da Polícia Federal. Em particular, a Operação Satiagraha, de 2004, que deixou como vilão final, não o banqueiro acusado de comandar um super-esquema de lavagem de dinheiro, Daniel Dantas, mas o delegado, hoje, deputado federal, Protógenes Queiroz. Um caso bem atípico, até porque, as irregularidades nas ações de Protógenes foram comprovadas, mas isso não é motivo para que existam escolhas no uso das algemas na hora da prisão. Se há a suspeita comprovada, a polícia deve fazer o seu papel ao efetuar as prisões, usar algemas, cassetetes, spray de pimenta e, em último caso, usar arma de fogo.
A imagem das mãos algemadas de uma pessoa ‘influente’ e de ‘prestígio’, principalmente da política brasileira, desmoraliza os brios daqueles que, talvez, um dia poderão estar no mesmo lugar. Disso, lembro-me, ainda hoje, a prisão do Coronel Jader Barbalho, em 2002, pela Polícia Federal, acusado de desvio de dinheiro público da extinta SUDAM: uma cena antológica, nas mãos um enorme livro escondendo as algemas que denunciavam seu comportamento há muito tempo suspeito.
Acho compreensível protegermos bandidos de colarinho branco, até porque, acho eu que nós todos temos um pouco de banditismos inconscientes em nossas veias. É algo cultural, ‘não é por mal’. Portanto, classificar esse ou aquele como sendo mais perigoso ou menos perigoso, ao ponto de não algemarmos, é uma forma de abrandamento de crime, é desprezarmos a moral e a honestidade. Um eufemismo bem comum em países onde a justiça e a seriedade parecem contos de fadas.
Algema não é decretação de culpa, não é sentença. Ninguém está sendo condenado por isso. É apenas um instrumento que visa proteger os policiais, a sociedade e o próprio suspeito. Mas aqui, ser algemado, por mais ardiloso que seja o bandido, parece um absurdo, um desrespeito.
Algema, polícia, operação, escândalo, acusações... Nessa atmosfera de caça aos ratos pela PF, os acusados preferem buscar apoio em outros órgãos, como foi o caso do Ministro do Turismo, Pedro Novais. Novais pediu, no último dia 9, à Controladoria Geral da União (CGU) que investigue as suspeitas de irregularidade no seu ministério, como se a PF não merecesse confiança alguma.
Das duas uma: ou a PF está fazendo um ótimo trabalho, caçando os ratos no esgoto da corrupção e da pilantragem; ou está servindo de puro instrumento político para derrubar não só oposicionistas, (aliás, todos os suspeitos dos últimos escândalos são da base aliada) mas também, aliados. Das duas, prefiro acreditar na primeira, pois a segunda é muito difícil engolir.
Ainda sobre as algemas, o Ministro Marco Aurélio, do STF, vai pedir uma investigação se houve por parte da PF desrespeito à súmula nº 11. A PF, porém, já se pronunciou, negou, ontem, as acusações de uso indevido de algemas durante a prisão de 36 pessoas na Operação Voucher, deflagrada no último dia 9. Em nota, a PF disse que o uso de algemas ocorreu "com estrita observância da Súmula Vinculante de número 11 do Supremo Tribunal Federal, que determina sua utilização para segurança do conduzido e da sociedade, ao invés de proibi-la terminantemente".
Enfim, a resistência no uso das algemas é um símbolo de como são tratados no país assuntos relativos à posse do que é público, confirmando a máxima inconsciente, “o que é público não é de ninguém”. Em países mais sérios isso daria pena de morte ou até suicídio.

(Por Franco Aldo – 11/08/2011 – 10:02hs)


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Brasil, O País da Corrupção e da Impunidade

Ministro do Turismo cogita sair e suspende convênios.

A operação da Polícia Federal que levou à prisão ao menos 35 pessoas nesta terça-feira (9) ameaçou a permanência do ministro Pedro Novais (PMDB-MA) --que chegou a cogitar demissão-, informa reportagem de Natuza Nery, Nádia Cabral, Ana Flor, Catia Seabra, Valdo Cruz e Rubens Valente, publicada na Folha desta quarta-feira.
Novais, porém, terminou o dia anunciando a suspensão temporária de convênios do Turismo.
O ministério publica hoje uma portaria para interromper por 45 dias a assinatura de todos os convênios com entidades privadas sem fins lucrativos, um dos alvos da investigação da PF.
Novais divulgou nota na noite de ontem em que disse ter pedido à CGU (Controladoria Geral da União) a abertura de uma comissão de Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar as suspeitas envolvendo a pasta.
Segundo nota divulgada pelo ministério, os servidores presos durante a Operação Voucher, deflagrada nesta terça-feira pela Polícia Federal, serão afastados de suas funções durante as investigações da comissão.
A operação investiga desvios relacionados a convênios de capacitação profissional no Amapá num contrato de R$ 4,45 milhões.

(Por Folha. Com - 10/08/2011 - 07h48)

Após a legítima vitória de Dilma Rousseff nas urnas, no ano passado, consolidando o processo democrático brasileiro; direito de todo o cidadão que vive num país sob a égide do estado democrático de direito, eu disse aqui que aguardaríamos a continuidade dos escândalos de corrupção que foram tão comuns durante a gestão Lula e, sinceramente, achei que fossem demorar mais um pouco, mas como sempre, eu me enganei.
Primeiro foi a nomeação absurda de Antônio Palocci para a Casa Civil; um homem há muito tempo queimado perante a opinião pública e, principalmente, perante a oposição... Não deu certo. O “íntegro” ministro ficou pouco mais de seis meses no cargo. Saiu. Não se explicou das acusações de enriquecimento ilícito, aliás, disse que enriqueceu devido ao trabalho, mas que trabalho é esse que fez multiplicar seu patrimônio vinte vezes mais? Mágica?
Saiu, isso é que importa, mas não deve ser esquecido, aliás, agora sim, deve ser investigado, processado e punido.
Depois foi o Ministério dos Transportes; do ex-ministro, Alfredo Nascimento, ao último alto funcionário, parece que todos estão envolvidos com propinas, desvios de verbas públicas, o diabo.
E quando tudo parecia se acalmar, estoura novo escândalo, só que agora é em outro ministério, o da Agricultura. É desnecessário frisar os motivos do novo escândalo, visto que são os mesmos, mau uso do dinheiro público.
Agora, o escândalo com o Ministério do Turismo... Um absurdo. Uma vergonha.
A impressão que eu tenho é que o Governo do PT-PMDB está infestado de ladrões por toda parte. Nunca se viu na história brasileira momentos de tanto descrédito na política e nos homens que governam o país.
Alguns metidos a entenderem da coisa dizem que a corrupção sempre existiu, principalmente, durante o período militar, mas que os órgãos de impressa e os órgãos de controle (polícia, corregedorias, ministério público) não tinham a liberdade de investigarem. Aí, eu respondo: pode até ser verdade, mas nada disso justifica um governo que faz panfletagem de casas populares e bolsas para os pobres, mas dilapida o patrimônio público por trás, às escondidas, à mão-armada.
Aqui no Brasil, não precisa ser político para entender de desonestidade e falcatruas. O pensamento do maucaráter ignorante é o mesmo de um maucaráter inteligente, culto. A única coisa que muda são as roupas e o modo de falar, só isso. A essência é a mesma: a mesquinharia, a posse, o desvio.
Este tipo de texto que costumo produzir aqui nO Botequim é dos mais inúteis, para não dizer uma perda de tempo. Todos nós temos um pensamento formado a respeito da política brasileira. Mas a única coisa que me incomoda é aceitarmos o pensamento do tipo ‘é assim mesmo’.
Não, isso não. Se somos passivos nas ações, pelo menos sejamos ativos na mente. O dia em que entregarmos de vez nossos sonhos, nossos pensamentos, é melhor agarrarmos de vez a Bíblia e observarmos com os olhos de há dois mil anos o fim do nosso presente.

(Por Franco Aldo – 10/08/2011 – 09:21hs)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Celso Amorim e a Rejeição das Forças Armadas

Na posse de Amorim, Dilma busca convencer militares: ‘Ele é o homem certo no lugar certo.’

O embaixador Celso Amorim tomou posse à frente do Ministério da Defesa nesta segunda-feira, 8, no salão nobre do Palácio do Planalto. Na cerimônia, o novo ministro elogiou os militares e destacou o papel das Forças Armadas na defesa dos recursos naturais e das fronteiras. “Identifico nos militares valores dignos de admiração”, disse. Por sua vez, a presidente da República, Dilma Rousseff, enalteceu a figura do novo ministro e tentou afastar a desconfiança com sua gestão nas Relações Exteriores do governo Lula. Amorim “tem qualidades pessoais que o aproximam muito dos senhores militares de longa formação”, disse a presidente. “É o homem certo no lugar certo.”
Em discurso breve, Amorim agradeceu o convite de Dilma e prometeu atenção com os direitos humanos, sem descuidar da defesa dos interesses nacionais. ”Somos detentores de riquezas, cabe ao Estado resguardar nossas extensas fronteiras. Além da defesa da população, devemos proteger nossos recursos naturais”, disse Amorim.
“Um país pacífico não pode ser confundido com um país desarmado e indefeso”, ressaltou o novo ministro. “Cabe a mim empenhar e obter os recursos indispensáveis e equipamento adequado das Forças Armadas, conto para tanto com a compreensão dos colegas da área financeira”, discursou Amorim, ressaltando que “de maneira serena”, cabe a ele “mais ouvir do que falar”.
“Há um descompasso entre a crescente influência internacional e a nossa capacidade de respaldá-la no plano da Defesa. Devemos reforçar a cooperação com países da região, pretendo atribuir ênfase relacionamento defesa com países africanos, juntamente com o Itamaraty, continuaremos a dar nossa contribuição”, afirmou. Amorim também destacou o papel do serviço militar como “instrumento de ascensão social” e disse que as Forças Armadas devem, cada vez mais, refletir as características do povo brasileiro
A presidente Dilma Rousseff fez diversos elogios ao novo ministro. O tom do discurso soou como uma resposta à suposta insatisfação gerada nos meios militares pela escolha de Celso Amorim para substituir o demissionário Nelson Jobim. “Mudanças importantes sempre provocam tensão, mas elas requerem cuidado, elas cobram sensatez e exigem escolhas bem refletidas”, disse Dilma ainda na abertura de seu discurso.
“O convoquei porque tenho a convicção de que ele (Amorim) é o homem certo no lugar certo”, garantiu a presidente, que ressaltou tê-lo escolhido “com cuidado e reflexão”. Amorim “tem qualidades pessoais que o aproximam muito dos senhores militares de longa formação”, disse, destacando características como cultura e preparo técnico, moderação em manifestações públicas, método na atividade como homem público e, sobretudo, disciplina e o respeito à hierarquia.
“Celso Amorim é um patriota, um homem talhado para essa fase do Brasil, que é um País de cabeça erguida, consciente da sua soberania”, disse. A presidente afirmou ainda ter certeza de que Amorim ajudará o ministério da Defesa a vencer seus maiores desafios, tanto os mais urgentes quanto os mais estratégicos. “A experiência de Amorim será valiosa para o Ministério da Defesa. O Brasil enfrentará importantes questões que envolvem diretamente as nossas forças armadas. Há acordos bilaterais em andamento, há negociações para compra de armamento e aquisição de tecnologia bélica, além da inadiável exigência de proteção e controle de nossas fronteiras terrestres e nosso mar territorial”.
Ao final, Dilma disse que o “partido do Ministério da Defesa é a pátria” e que a ideologia da pasta “é a da submissão aos interesses nacionais”. “Trocas de comando fazem parte da rotina, desde que se troque o comandante, mas não se deixe de fazer o que precisa ser feito”, observou.
Substituto. Amorim assumiu após o pedido de demissão de Nelson Jobim, que deixou o cargo na última quinta-feira, 11. Jobim foi pressionado pela presidente Dilma Rousseff a pedir demissão após terem se tornado públicas as críticas que ele fez às ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em entrevista à revista Piauí. Antes, o então ministro da Defesa já havia causado mal-estar no governo ao admitir que votou em José Serra (PSDB) nas eleições de 2010.

(Por Bruno Siffredi – Estadão. Com – 08/08/2011)

Mesmo antes de se tornar oficial a nomeação de Celso Amorim para o comando do Ministério da Defesa, o descontentamento dos militares veio à tona, principalmente entre os generais do Exército. A antipatia ao novo Ministro vem de uma experiência nada agradável com o também embaixador, José Viegas Filho, que comandou o Mistério da Defesa de janeiro de 2003 a novembro de 2004. Além disso, Celso Amorim, nas funções de Embaixador, segundo os generais do Exército, “contrariou princípios e valores dos militares”.
É compreensível a postura de rejeição dos militares. O que os generais querem é um ministro de braço forte que brigue pelos seus interesses, seja em questões salariais (aliás, as Forças Armadas pagam o preço do passado), seja pelo apoio a implantação de novas estratégias na proteção de nossas fronteiras; isso sem falar num melhor aparelhamento da tropa, como aquisição de novos armamentos, aeronaves e a disponibilização de um orçamento anual menos magro. Os milicos querem alguém de peito, mas seria uma incoerência do próprio governo colocar alguém que possa, no futuro, trazer aborrecimentos e declarações bombásticas, como foi o caso de Nelson Jobim. Celso Amorim é o ‘homem certo’ na função certa, segundo declarações da Presidenta Dilma.
Seja como for, está começando mal a gestão Celso Amorim. Os militares são totalmente contra: "Desde quando diplomata gosta de guerra? É como botar médico para cuidar de necrotério. Parece brincadeira" – declarou um general do Exército ao Estadão.
Outros reclamam da postura passiva do Ministro, para não dizer, flutuante: “Amorim nunca contrariou ninguém durante sua gestão e quando sua posição foi colocada em xeque, mudou de opinião. Isso, na área militar é muito ruim”.
Resumindo, não vai acontecer nada durante o comando de Celso Amorim no Ministério da Defesa: Os militares ‘baterão’ continência pra ele, vai haver uma ensebação de ambos os interesses (governo e militares), planos e estratégias no combate ao narcotráfico e proteção de nossas fronteiras ficarão, como sempre, no papel, o orçamento continuará mais magro como nunca e o salário dos militares continuará ‘a la Professor Raimundo’. Qualquer previsão diferente disso será pura demagogia e claramente inverossímil.

(Por Franco Aldo – 09/08/2011 – 08:25hs)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Clássico dos Chocolates

Na economia, o mundo sofre com a queda de quase todas as bolsas de valores (Bovespa, Alemanha, China, Itália, Reino Unido) e não podemos nos esquecer que é devido ao iminente calote da dívida norte-americana.
Fora esse assunto complexo e longe das nossas vontades, ontem, o que se viu no Engenhão (bem que eu gostaria de dizer Maracanã, pois o jogo foi digno de um Maraca lotado) foi um passeio do Botafogo em cima do Vasco, 4 X 0. E poderia ter sido mais elástico, se Loco Abreu não tivesse perdido debaixo das traves de Prass.
Eu não queria comentar nada a respeito do Botafogo que tem um time regular e um técnico mais regular ainda. Mas não é sempre que ganhamos do Vasco com um placar como esse, apesar de na história do confronto das duas equipes, o clássico, Botafogo e Vasco, sempre é jogo pra sair muitos gols, basta lembrarmos do primeiro jogo da Taça Guanabara de 2010, quando o Vasco aplicou 6 X 0 no Botafogo, decretando a saída de Estevan Soares. Podemos então apelidá-lo de clássico dos chocolates, pois é bem comum sair uma goleada, de ambos os lados. É só olhar as estatísticas.
Portanto, para os alvinegros, a semana começou muito bem. Mas não acredito que esse time do Botafogo vá muito longe. Acho que Caio Júnior ainda está na corda bamba e basta um novo tropeço para que a pressão volte a pedir a sua saída.

(Por Franco Aldo – 08/08/2011 – 12:34hs)

domingo, 7 de agosto de 2011

CONTO: A Luta Política num Canto Qualquer do Pará

Tonico de Castro procurou um quarto de pensão para se hospedar, depois voltou para o bar de Zé cabeludo para se encontrar com Pedro. Já se passavam das oito da noite. Tonico tomava uma pinga com Pontegi. O caboclo dizia que já-já o doutor Pedro chegaria. Pontegi se tornara o braço direito de copo e de reflexões de Pedro. Durante as horas de bebedeira, Pedro recitava-lhe suas novas composições poéticas, seus novos pontos de vista, conversavam sobre filosofia, política e principalmente sobre o destino de Jardinópolis. Eram assuntos que, apesar de complexos para a sua mente, interessavam a Pontegi. O caboclo ficava maravilhado. Às vezes concordava, sem saber por que. Quando o assunto era política, Pontegi arriscava seus limitados pontos de vista. Pedro escutava-o como se estivesse falando com outro político. Respeitava o seu modo de ser e de ver o mundo. Aquela mudança de vida, vindo parar no bar de Zé cabeludo, tinha algo de benéfico para Pedro. Ele passou a conhecer mais de perto os costumes do povo de sua cidade, passou a conhecer melhor os seus hábitos, seu folclore, seus sofrimentos. Conheceu um mundo que só conhecia através de depoimentos, dos livros, das ideologias socialistas. Passou a sentir o calor da gente simples. Conheceu as malandragens da vida do bar, os contos e as conversas fiadas dos cachaceiros, das putas, do peão, do explorado, de Zé cabeludo. Conheceu as histórias populares sobre a conquista da terra, as histórias do pai do coronel Jacinto, o tão temido coronel Constâncio. Eram conhecimentos que Pedro não negava a ninguém. Estava feliz por ter conhecido aquela vida. Se sentia feliz por estar vivendo naquele ambiente. Pedro se sentia um homem realizado. Pedro agora podia começar a planejar sua trajetória política. Sonhava com uma profunda transformação social em Jardinópolis. Conhecia todo mundo, era bem visto por todos. Sua condição de filho do prefeito já não surtia efeito. Os forasteiros que chegavam à cidade e que logo se engajavam nas arruaças da birosca do Zé, eram tomados por simpatia pelo doutor poeta, mesmo sem o título de filho do prefeito. Pedro era tido como um mestre. Era requisitado a prestar conselhos a diferentes figuras marginalizadas de Jardinópolis. Todos gostavam dele. Pedro se tornava inconscientemente um líder...
Pontegi e Tonico já levantavam o quarto copo de caninha quando Pedro surgiu. Estava sóbrio e pensativo. Vestia uma camisa amarrotada de manga comprida branca. Uma calça de tergal surrada azul-marinho. Os cabelos despenteados. A barba por fazer, estado que logo impressionou Tonico. Pedro, assim que avistou Tonico, liberou um sorriso acolhedor e se dirigiu aos braços do amigo de longa data. Cumprimentaram-se e sentaram os três dando continuidade na bebedeira e na conversa.
A conversa de Tonico com Pedro varou boa parte da noite. Pontegi quase não participou da conversa, limitou-se apenas a escutar, mas foi o ralo que acabou esvaziando três garrafas de pinga da boa. Pedro lhe contou seus problemas em Jardinópolis, contou sobre sua nova vida. Dizia que havia renascido e que agora poderia atuar com os pés no chão. Contou os seus planos pro futuro. Estava radiante... Por outro lado, Tonico disse que estava em Jardinópolis também por planos nobres. Sabia da existência de um jornal de esquerda na cidade e sabia que Pedro era o seu fundador. Por isso veio para Jardinópolis como representante oficial do MST. Tonico e o Movimento dos Sem Terra tinham planos para a mobilização de trabalhadores explorados da região!...Era barulho à vista....
Pontegi já não se agüentava mais, nem sentado, capotou prum lado da birosca. Pedro e Tonico continuaram sua conversa. Tonico contou todos os seus planos e pediu ajuda a Pedro. Pedro disse que os dois deveriam se encontrar em outro lugar para resolverem melhor seus interesses. Tonico concordou, mas pediu pelo menos o ponto de vista de Pedro sobre aquilo que tinha dito. Pedro disse que estava direito, mas tinha que saber mais detalhes, não queria ver seu povo envolvido com barulhos de morte. Tonico concordou e marcaram para o outro dia, às dezoito horas na pensão onde estava, o novo encontro.


*****

É bem verdade que Tonico de Castro não concordava a fundo com as idéias políticas de Pedro. Tonico era mais radical. Gostava de organizar manifestações, reivindicações, greves, barulhos, e até, se fosse o caso, quebra-quebra. Não concordava com nenhuma forma de injustiça, com nenhum tipo de exploração. Logo que ingressou na universidade, arrumou uma confusão danada na biblioteca do curso de Filosofia. Um bate boca sobre questões filosóficas com um professor de Literatura, que segundo diziam, não regulava bem. De um lado Tonico, defendendo as idéias sobre o conceito de alma livre de Nietzsche. Do outro, o professor Carlos Conceição, exaltado, antipático às concepções do filósofo maldito. Só faltaram cair no tapa. Tiveram que ser separados pelos funcionários da biblioteca, pois os alunos que assistiam à discussão tomavam partido do barulho, apoiando uns ao Tonico e outros ao professor Conceição. Quase virou uma pancadaria só.
Ao contrário de Tonico, Pedro era mais calmo, aberto ao diálogo, seja lá qual fosse o problema. Achava que tudo tinha que ser resolvido com uma boa conversa. Tudo tinha que ser esclarecido, um legítimo político. Apoiava a participação popular nas decisões que envolvesse a coletividade. Durante sua vida acadêmica, participou de movimentos de protestos contra os desmandos do governo federal, mas de forma pacífica, negociando com as autoridades policiais, negociando com a ordem pública, negociando com a imprensa. Tinha um jornalzinho que circulava pelo Campus universitário chamado O Labirinto: Jornal de política e literatura, onde anunciava suas idéias de transformação social, sua poesia, seu protesto contra a exploração do trabalhador. Às vezes citava nomes de políticos de sua cidade natal, como o coronel Siqueira, o José Vitor, o doutor Pacheco, o coronel Jacinto... Mas tudo sem barulho, sem quebra-quebra.
A reunião marcada pras dezoito se estendeu até quase uma da manhã. Tonico de Castro expôs todos os seus planos. Disse que o sucesso do movimento só teria êxito se Pedro apoiasse. A população da cidade estava com ele. Nada faria o coronel Jacinto de ruim contra o povo, muito menos seu pai que como dizia era “pau-mandado”. Tonico argumentou, argumentou... Pedro ouvia, refletia, perguntava, tecia hipóteses. Não concordou em tudo com Tonico. Tonico era radical demais em todas as decisões. Propôs, de início, um trabalho de planfetagem nas fazendas, nos garimpos, na cidade, por um período suficiente para convencer o peão, o explorado, o trabalhador braçal das fazendas, dos garimpos, as putas e os mendigos da cidade a todos ingressarem no MST, a reivindicarem melhores condições de vida, de salários, de horas de trabalho, contra o fim da escravidão; a reivindicarem terras pra suas famílias, terra para poderem sobreviver como seres humanos. Tonico queria reunir os trabalhadores de Jardinópolis e convencê-los a cruzarem os braços, a fazerem uma greve geral por tempo indefinido. Queria reunir a população marginalizada pra invadir o mundaréu de terras do coronel Jacinto; aquelas terras que só serviam para amparar as bostas das vacas. Aquelas terras produtivas, paradas ao tempo. Milhares e milhares de hectares de terra parada que só servia para embustes do maldito coronel, para impressionar aos outros coronéis, para a contemplação de seus gananciosos olhos de vidro. Esses, de início, eram os planos de Tonico de Castro que desde cedo entrou para a política de esquerda. Durante seu tempo de estudante universitário fora filiado ao partido comunista, seu ídolo sempre foi Luís Carlos Prestes. Segundo ele, “o único herói e político que já existiu no Brasil”. Com esse sangue de esquerda, arrumava qualquer briga que favorecesse o povo. Já tinha sido preso várias vezes. Para alguns, era um marginal, para outros, um exemplo de militante. Abandonou o PCB logo que viu o partido se ruir. Andou sem coligações por um bom tempo, mas depois conheceu Antonio José Rainha Júnior, o fundador do MST. Para Tonico ele era o novo cavalheiro da esperança.
Pedro concordou com o trabalho de panfletagem, mas discordou de Tonico no sentido de uma organização coletiva. Achava que uma reunião desse tipo era um prato cheio para uma batalha sangrenta e covarde. Disse que Tonico não conhecia os jagunços, não conhecia os coronéis, muito menos não conhecia seu poder na região. Disse que tinha gente pobre que passava fome e que lhe era fiel, que morria de medo deles. Uma espécie de conformismo mental, temperado por idéias distorcidas, trabalho de fé popular e do poderio escravizador dos mandatários da região. Práticas que acabaram virando folclore.
Tonico insistiu, queria o apoio de Pedro a qualquer custo. Disse que mesmo o jornal estando fechado, eles poderiam utilizar a estrutura física para montarem a sede do partido, ou melhor, a sede do movimento. Pedro relutou e relutou, mas acabaram chegando num acordo. De início fariam um trabalho de panfletagem em toda a cidade. Inseririam idéias contra a exploração dos coronéis, contra aos maus tratos ao trabalhador, por melhores salários, por uma jornada de trabalho mais branda, pelos direitos trabalhistas. Começariam um trabalho de persuasão popular para que, futuramente, Pedro de Moraes pudesse concorrer – sem medo de vencer – as eleições em Jardinópolis, sem precisar de apoio de nenhum corrupto da cidade – os imortais “homens bons” –, apenas contaria com o apoio do povo. Caso não desse certo esse plano de Pedro, Tonico poderia por em prática o seu plano mais audaz. Convocar o povão a cruzar os braços, a passeatas, a invasões, a qualquer tipo de barulho. Tudo em nome da Liberdade, da Igualdade e da Terra!


*****

Passaram-se uns meses, Tonico e Pedro puderam por em prática seus planos. De início a relutância foi grande, a peãozada não compreendia de que se tratava aquele negócio de movimento, aquelas panfletagens desembestadas, que muita gente não compreendia o que estava escrito. Chico d’égua, preto sisudo, matador profissional, jagunção do coronel Zé Vítor, aderiu ao movimento. Sonhou com sua coragem de preto maldito e a possibilidade de crescer na vida...., ser um coroné, um mandatário, por que não? Chico d’égua era respeitado na fazenda da catinga, terra do coronel José Vitor. Homem brabo, sem meias palavras. Foi persuadido por Tonico de Castro; tarefa muito fácil, foi só explicar a possibilidade de angariar aquelas terronas todas que o capiau danado logo se interessou. Outro brabo persuadido por Tonico e seu povo foi o Dominguim das Ostras; bandidão procurado, vivia debaixo das asas do coronel Teixeirinha, dono das terras do baixo lago. Dominguim já havia aprontado nas cercanias de Aprocuaçu e Terra Nova, cidades próximas a Jardinópolis. Matou um muleiro, mascateiro, muito respeitado nas cercanias de lá, chamado Florindo. Esse tal de Dominguim era um covarde. Seu Tonico realmente não sabia com quem tava se metendo, Pedro de Moraes já tinha avisado, os coronéis não se resumiam apenas neles mesmos, tinham sua gente, seu povo, que por mais explorados que fossem, eram fiéis ao seu ditador. Mudar a idéia dessas pessoas? Tá louco! Isso era plano pra mai de anos. O povo de Jardinópolis não sabia o que era direto, muito menos revolução. Sabia que existia um danado que comandava seu rebanho, e que os mesmos deveriam obedecer. Era obra de Deus. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Tonico de Castro conseguiu conquistar a confiança de muitos, mas também teve seus problemas. Seu Teodoro, jagunção do coronel Jacinto, não caiu naquela não. Não era trouxa nem nada, sabia que aquilo só acabaria em morte. Era um dos fiéis do mandantes. Teodoro da Fonseca Seixas, nome de gente importante, mas foi filho de um muleiro de Montes Claros, lá no nortão de Minas. Veio pro Pará com menos de cinco anos, e logo conheceu a família da dona Ermecilda e do coronel Constâncio, pai do coronel Jacinto. Se tornou um líder contra os revoltosos. Juntou gente braba também, Terezo José, Raimundo dedão, Militão, Manel navalhada, Anastácio, Sinhozinho... Era gente sinistra. Tudo matador, pior que animal. Gente que matava por um cruzeiro... O negócio era matar, pra botar na colheita, no currículo.
Os generais já estavam escalados só faltavam os soldados; os peões, os garimpeiros, os vagabundos, a gente maioria que iria compor a grande massa inconformada contra a exploração, contra o mal humano da escravização, a favor da terra.
Foi tarefa árdua de ano e meio. Com um povaréu estimado de mil e oitocentas pessoas. Gente já certa de participar do movimento armado, Tonico de Castro informou a Pedro, e este o alertou. Não tinha sido o combinado. As eleições em Jardinópolis seriam no próximo semestre. As propagandas eleitorais já estavam a todo o vapor. Pedro concorria pelo Partido da Frente Popular (PFP). A maioria dos boêmios da cidade iria votar nele. Os cachaceiros, as putas, os vagabundos, os peões, alguns jagunços mansos, eram os eleitores certos de Pedro. O outro candidato que fazia frente as suas pretensões era o próprio pai. O seu Justino de Moraes concorria, mais uma vez, a reeleição. Apoio total dos coronéis. A riqueza de sua campanha foi tremenda. Até alguns, já certo do apoio a Pedro, mudaram de opinião, verteram a casaca. Será pela facilidade da democracia? Será por opinião própria de pessoas preocupadas com política? Ou será por um prato de feijão? Ou com medo de sofrer represálias? Tratando-se do Pará tudo poderia acontecer. Muitos dizem que isso aqui é terra de ninguém. Eu sou contra essa afirmação, acredito ainda em milagres.
O trato de Pedro e Tonico, que antes foi muito bem elaborado, caiu por terra. Tonico quebrou a promessa, não se conteve. Organizou um movimento armado previsto para o dia 21 de abril, dia da inconfidência brasileira. Seu plano era de início foi tomar, simultaneamente, a prefeitura e as fazendas do coronel Jacinto, Zé Vitor, Maneca Dantas, Maciel Correa e outros. Um dia antes, todo o plano vazou. Os revoltosos, antes mesmo de iniciar a balburdia, foram contidos pelos seus coronéis, jurados de morte. Outros foram intimados pela polícia da cidade. O delegado, Pestana Silva, e o Cabo, Floriano Siqueira, tiveram trabalho árduo pra prender os suspeitos da revolta. O bar de Zé cabeludo foi invadido por policiais e jagunços. Zé foi preso por ser um dos suspeitos do movimento. Tonico de Castro foi caçado em toda a parte, mas não foi encontrado. Recebeu um aviso de um fiel partidário e vazou pra capital. Pedro de Moraes, também, foi caçado e preso pelo delegado Pestana Silva, mas horas depois já estava em liberdade por ordens de seu pai. O certo é que o movimento organizado por Tonico, trabalho de meses, foi por água a baixo. Como a inconfidência, tivemos aqui em Jardinópolis um Silvério dos Reis, um delator, um fofoqueiro, um x-9. Mas quem poderia ter feito uma coisa dessas? Foi um plano muito bem elaborado. Os mais temidos jagunços tinham o controle da situação. O povo humilde estava de acordo. Iriam participar do movimento contra a exploração, contra as mortes, contra o poderio dos coronéis. Mas quem poderia ter delatado o movimento?... Alguns dias depois, Pedro descobriu que tinha sido Pirangi, seu braço direito no bar do Zé cabeludo, é quem tinha denunciado todo o esquema dos planos de Tonico de Castro. Pirangi, agora, estava longe. Após a denúncia escafedeu-se da cidade. Alguns diziam que tinha ido pra Belém, outros pra João Pessoa, até pro Rio de Janeiro. Pedro de Moraes na cadeia refletia, refletia. Após sua soltura procurou saber de sua situação política. Em nada comprometeu, pois nada foi comprovado. Continuou sua campanha para as eleições que se aproximavam.
A traição foi planejada. Desde cedo, o bar de Zé cabeludo foi alvo de informantes dos coronéis. No bar do Zé, além das conversas fiadas de cachaceiros sem futuro, respirava-se política, poesia, literatura e até um pouco de filosofia. A influência de Pedro de Moraes contribuiu muito para esse ambiente boêmio, e por que não de intelectuais? Os filhos dos coronéis Maneca Dantas e José Vitor, também, participavam das grandes confraternizações. Pedro conhecia cada um deles. Era gente de mente aberta. Não era igual aos pais. Gente que acreditava não haver motivo para escravização na cidade. A riqueza é deles, dos coronéis. Por que não abdicar uns hectares pra essa gente tão sofrida? Um punhadinho de terra que fosse, qual seria o problema? Os filhos eram contra a exploração do peão, do garimpeiro, do vaqueiro e até do jagunço. Os filhos boêmios desses coronéis eram a favor da dignidade humana, dos direitos dos trabalhadores, apoiavam a candidatura de Pedro de Moraes pra prefeito da cidade. Eram diferentes de seus pais; Lucio Dantas, por exemplo, era biólogo, a contra gosto de seu pai, o coronel Maneca. Não se davam bem. Se não fosse a mãe, dona Dorinha Dantas, Lucio já tinha sido expulso de casa pelo pai.
Antônio Vitor era outro esquerdista de carteirinha. Tinha sido expulso duas vezes durante seu período na Universidade de Belém. Era formado em sociologia. Como Lucio, também, não tinha boas relações com seu pai. Vivia bêbado, enrabichado por uma tal de tininha, filha de feirante da cidade. Os dois filhos da nata Jardinense foram os primeiros suspeitos de terem dedurado os planos dos esquerdistas. Só muito tempo depois foi esclarecido, por Pedro, que o verdadeiro traidor tinha sido o maldito Pirangi, sumido desde o início do furdunço. O vara-pau tinha lhe contado tudo. Repetia dezenas de vezes aos curiosos revoltados, acompanhando um bom trago. Em suas explicações, buscava compreender o porquê da traição de Pirangi. A final, Pedro lhe pagava muito bem. Recebia muito mais do que muito peão que dava duro o dia todo no sol nas fazendas. Será que também Pirangi se sentia um explorado, como todos os outros nessa cidade? Será que estávamos agindo igual a eles? Sempre acompanhando uma boa dose, Pedro refletia, refletia. Já tinha acabado uma carteira de cigarro barato. Pediu outra ao Zé. Acendeu outro cigarro... Então, surgiram Lucio e Antônio Vitor que puxaram conversa com Pedro. Queriam saber detalhes da traição, tentariam se possível encontrar o traidor pelas cidades adjacentes. Pedro disse que não precisava. O que era dele estava guardado pra ele, era só dar tempo ao tempo. Em seguida, puxou uma mesinha enferrujada e molhada de copos de cerveja com três cadeiras, onde os três se sentaram, e Pedro começou a contar o que tinha ouvido do vara-pau.

*****

A verdade seja dita. Horas antes de estourar a grande revolta armada, Tonico de Castro estava trabalhando na sede do movimento, no antigo do jornal A Gazeta. Redigia textos revolucionários, incitando o povo a cruzar os braços e sair pelas ruas clamando seus direitos, em sua aparente paz de moço intelectual de esquerda. Já se passavam algumas horas depois das doze, a cidade saía daquele aspecto letárgico de fim de tarde. O sol ainda era de matar e o calor escaldante. Tonico suava, suava... Em sua cabeça fervilhante de idéias agressivas e revolucionárias pulsava todas as suas energias. A cada texto produzido sentia uma catarse de um gozo eterno, cheio de pensamentos de glória, de vitória... de conquista. Não sabia ele que enquanto estava se dedicando aos últimos preparativos para eclodir a revolta, Pirangi, seu secretário, estava na delegacia com o delegado Pestana Silva.
A sede do antigo jornal A Gazeta era uma casa de madeira de três cômodos e um banheiro. Apesar de ser de madeira, era uma casa muito grande. Em um dos cômodos funcionava o escritório do partido, antigo escritório do jornal. Em outro, antiga sala de tipografia, funcionava uma espécie de atelier, onde eram confeccionados os panfletos e os cartazes usados na divulgação do movimento. E o último cômodo era usado para as reuniões dos partidários. No atelier existia uma espécie de alçapão no piso de madeira. Esse alçapão iria dar nos fundos da casa, onde bem em frente havia um muro que separava o terreno da casa do igarapé cachorro-morto. Foi através desse alçapão que Tonico conseguiu fugir... Mergulhando no igarapé e desaparecendo por completo.
A missão de persuadir o povão a reivindicar os seus direitos afetou muitos trabalhadores de diversos setores da cidade. Trabalhadores rurais, peões, jagunços, garimpeiros, faxineiros, trabalhadores de escritório, gerentes sem futuros, recepcionistas, balconistas, vendeiros, camelôs, putas, vagabundos, cachaceiros, e por que também não policiais de baixa graduação?. A exploração em Jardinópolis também atingia os trabalhadores dos serviços públicos, como os policiais. As únicas autoridades de respeito na cidade eram o delegado Pestana Silva e o cabão, quase sargento, Floriano Siqueira. O resto eram soldados sem futuros, os meganhas. Mal vestidos, mal alimentados, mal treinados, mal armados, mal educados e mal pagos. Foi também este segmento que foi atingido pelas práticas políticas e revolucionárias de Tonico de Castro e Pedro de Moraes. A maior parte dos soldados foi convencida de que a sua contribuição para a polícia da cidade era muito importante. Tinham que ser valorizados. A polícia só existia por que existiam os soldados, eram os soldados que faziam tudo; faxina, guarda, ronda, ordem unida pra ficar bonito e uniforme, sem contar nas missões perigosas de pegar um jagunço matador aqui... de prender um ladrão degolador ali..., etc, etc. Muitos foram convencidos de sua importância na polícia. Deveriam receber um salário justo, não igual ao delegado Pestana Silva – uma exorbitância só –, mas um salário digno que desse o sustento a suas famílias. Aí, não foi difícil conseguir a simpatia do soldado Terezo Maia, nome esquisito, como era esquisito o próprio soldado. Magro feito uma vara, era chamado de vara-pau pelos amigos. Foi vara-pau quem avisou Tonico de Castro sobre a traição de Pirangi, avisou também da investida policial naquela noite. Tonico só teve tempo mesmo de juntar suas roupas e se escafeder da sede do movimento. Nem deu tempo de avisar a Pedro. Minutos depois alguns soldados comandados pelo cabo Floriano Siqueira, por ordens severas do coronel Jacinto, invadiam a sede do antigo jornal da cidade. Cena que se repetia pela segunda vez, arrombaram a porta principal e vasculharam tudo. Não encontrando o senhor Tonico, recolheram as provas existentes e tacaram fogo na casa de madeira. Minutos depois, Pedro era preso no bar de Zé cabeludo, junto com o dono do bar.
A noite já era bem escura, quando, num canto qualquer, e bem longe da cidade, Tonico observava um ponto luminoso onde se desprendia labaredas de fogo. Não imaginava que aquele sinal de fogo era a representação da fácil vitória dos coronéis.

*****

Enfim chegou o grande dia... As eleições municipais em Jardinópolis. Os candidatos se empenhavam, agora, em convencer aqueles eleitores ainda indecisos. O atual prefeito, Justino de Moraes, que defendia sua reeleição, estava confiante na vitória. Seu partido o PMDP (Partido da Mobilização Democrática Popular) era o mais rico e influente dos partidos políticos da cidade, contava com um número de vinte e três vereadores na Câmara Municipal, as treze vagas restantes eram divididas com o PFP, de Pedro, o PSPB de Marinho da Cruz e o PC (Partido Comunista) do Diogo da Silva. As pesquisas feitas por um órgão da prefeitura davam a vitória certa a Justino de Moraes, apontando como segundo lugar, o candidato do PSPB, Marinho da Cruz, candidato também apoiado pelos coronéis. Os únicos candidatos que não eram apoiados pela máfia de Jardinópolis eram o Pedro de Moraes, filho do prefeito Justino, e o Diogo da Silva, do PC, agricultor trabalhador que esteve ligado ao Partido Comunista da capital. Era também dia de grande expectativa, pela primeira vez na história da cidade, as eleições seriam realizadas numa máquina, numa urna eletrônica! Muita gente não concordava com isso. Pra muitos, o povo da cidade não estava acostumado com essas modernidades. E pra quê? A população da cidade não passava de três mil pessoas. Mesmo com o crescimento mensal de migrantes nordestinos e amazonenses, não chegava nem se quer a duzentos ao ano. Alguns diziam que essas máquinas eram pra acobertar os caxixes dos coronéis. Outros achavam que era a modernidade, o progresso.
Já para os candidatos, as opiniões se divergiam. Seu Justino era a favor, lógico. Pedro e Diogo eram contra. Marinho da Cruz, representando seu papel de coadjuvante e angariador de votos para um futuro apoio no segundo turno, dizia que se nos outros estados eram usadas as urnas, por que negar essa comodidade a Jardinópolis? A decisão de se por urnas nas eleições da cidade foi um acerto do presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Jardinópolis com as forças políticas que governavam a cidade. Um acerto com a ala da direita, com os donos da cidade.
Dia de muito sol e calor. Dia de alegria. Dia de se decidir o destino da cidade. Nos bares o clima não era o mesmo. Dia de eleição era dia de lei seca. Não se podia beber antes do término das votações. O TRE de Jardinópolis, junto com a polícia do delegado Pestana Silva, fiscalizavam as biroscas da cidade. Algumas insistiram em vender cachaça, foram flagradas e multadas. Outras adotaram soluções inteligentes, vender de portas fechadas, mas a de Zé cabeludo foi demais. Depois de ter sido acusado de revolucionário e baderneiro, preso e espancado, Zé agora estava revoltado com o poder político da cidade. Apoiando Pedro em tudo que precisasse, decidiu que a sua birosca seria o local de concentração da vitória popular. Fechou o bar por fora, mas por dentro estava aberto para todos que quisessem comemorar a vitória de Pedro de Moraes à Prefeitura da cidade. Descaradamente, colocou um som nas máximas alturas e disponibilizou barris e barris de chopp para suprir a demanda do povão. Dentro do bar, uma multidão de cachaceiros, peões, putas, baixos funcionários... Estava o peão Batista já algum tempo sumido, o Lúcio Dantas e o Antônio Vitor, e também, o próprio candidato Pedro de Moraes. Todos estavam bebendo, discutindo política, futilidades, passando a mão nas coxas de alguém. Uns suavam, fumavam, fediam. Mas todos estavam à espera do veredicto final, a vitória do doutor Pedro; o fim da exploração na cidade.
Pedro perdeu a eleição e depois foi novamente preso. Acusado de ser comunista e de baderna, ficou um ano no xilindró.
Tonico de Castro tentou um levante armado com jagunços da região, mas foi morto após uma intensa troca de tiros.
A política de Jardinópolis continuou a mesma. Não mudou nada. As últimas resistências foram sepultadas com o glamour do esquerdismo que morria a cada ano, a cada derrota... Era a vitória do capitalismo, do dinheiro..., dos coronéis.

(Escrito por Franco Aldo em 2005)

sábado, 6 de agosto de 2011

Lendas do Rock Nacional: Hojerizah

Que a década de 80 foi a década de ouro do rock nacional, isso todo mundo sabe; bandas como Legião Urbana, Titãs, Ira, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha fizeram a cabeça da galera, mas algumas bandas tiveram uma espécie de sucesso efêmero, às vezes, de um disco, ou simplesmente, de um hit. A banda Hojerizah foi um desses grupos que estourou as paradas de sucesso.
Formado por Tony Platão Flávio Murrah, Marcelo Larrosa e Álvaro Albuquerque, o Hojerizah lançou, em 1984, o compacto (disco de vinil pequeno, geralmente vinha com duas músicas, uma de cada lado) com os hits “Pros que estão em Casa” e “Que Horror” pelo selo da BB Records/Polygram. Seu primeiro LP surgiu somente em 1986, simplesmente intitulado Hojerizah, pela BMG-Ariola.
Com os sucessos “Pros que estão em Casa”, “Senhora Feliz”, “Tempestade em Viena” e “Sol”, do primeiro disco, não demorou a surgir o segundo disco da banda. Em 1987, “Pele” tinha por fim dar continuidade ao sucesso do primeiro disco, mas não teve um grande apelo popular, apesar de ser também um excelente disco. Hits como “A Lei” e “O Fogo” colocaram o Hojerizah em destaque definitivo no cenário dos monstros do rock nacional.
Muita gente costuma identificar o Hojerizah como a banda de um hit só, “Pros que estão em Casa”. Concordo que foi seu grande sucesso e, talvez, sua pior música, mas o Hojerizah é uma banda diferente, estilosa.
Comandados pela voz poderosa de Platão, com letras para lá de inovadoras e um estilo único, o Hojerizah atraiu uma legião de fãs, a maioria apreciadora de um bom rock. Ao contrário do Plebe Rude e Camisa de Vênus que escancaravam com músicas engajadas politicamente, o Hojerizah limitou-se a cantar pura poesia, não a poesia tradicional com versos e palavras de amor, mas a poesia convidativa à viagem, ao prazer; puro rock.
Pra quem não conhece o Hojerizah, recomendo a aquisição dos dois primeiros discos, “Hojerizah”, de 1986, e “Pele”, de 1987.
Músicas da banda:

1. A Lei
2. A Pele
3. A Verdade Simples
4. Avenidas
5. Belos E Malditos
6. Canção Da Torre Mais Alta
7. Cinzas Que Queimam
8. Dentes Da Frente
9. Em Torno Da Mesma Volta
10. Gritos
12. Inocente Flor
13. O Fogo
14. Passos
15. Pecados
16. Pessoas
17. Pros Que Estão Em Casa
18. Roma
19. Senhora Feliz
20. Setembro
21. Sol
22. Tempestade Em Viena
23. Tempo Que Passa

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CONTO: O Peão que traiu a mulher com a filha do Coronel

Antes mesmo das cinco, Batista já aguardava o encontro com muita impaciência. Virgínia só foi aparecer depois de vinte minutos de atraso. Batista suava, suava muito, estava fedido. Cheiro de homem do mato, de peão. Virgínia chegou bela como nunca. Estava vestida com um vestido transparente azul-claro, onde a calcinha branca e minúscula, quase imperceptível, transparecia na imensidão daquelas nádegas lisas. Batista ficou louco. Mesmo antes da conversa queria agarrá-la, mas se conteve. Virgínia fazia de propósito, sabia que Batista não se agüentaria por muito tempo. Veio daquele jeito porque queria algo. Sua viagem para Belém só iria acontecer na semana seguinte, e mais três ou quatro dias de sexo sem compromisso não faria mal a ninguém. Veio muito sedutora e charmosa. Apoiou-se na mureta de madeira do curral, empinou sua enorme e alva bunda, onde ficara a observar o descampado à frente. Perguntou o que Batista queria. Batista, no momento, estava muito excitado, não sabia o que responder. Tomou fôlego e disse que estava apaixonado por ela e que não queria deixá-la. Virgínia, porém, fez uma cara de espantada, como se fosse surpresa aquela declaração. Era muito matreira e experiente em negócios de sexo e paixão. Sabia que homem no mundo não resistiria por muito tempo ficar longe de seus carinhos, de seu charme, de seu cheiro prazeroso, de seu fogo. Assim era Virgínia, amada e odiada por muitos. Mulher sedutora e inteligente, a mulher da vida do peão Batista, dos seus sonhos, do seu tesão profundo, de sua essência de macho capiau, a mulher que poderia lhe fazer feliz, de dar-lhe um filho. Um filho que provavelmente seria muito bem feito. Se existisse um teste de qualidade, logo seria acusada a grande porcentagem de amor oriunda do corpo de Batista. Verificaria que a semente de Virginia fora totalmente invadida por uma multidão de Batistas, loucos, em desabalada carrera.
Virginia se fez de desentendida. Tentou convencer o peão a voltar ao seu juízo, na medida em que tentava encontrar o seu... De súbito, os dois se atracaram pelo chão sujo, como dois animais no cio, se beijando, se chupando, apalpando ambas as profundezas de suas carnes. O suor misturado com saliva em todos os cantos dos corpos. O sangue quente aflorado nas partes mais escondidas, o cheiro de bosta de vaca no curral imundo. Eram detalhes que conferiam à cena uma atmosfera bestial e sem limites, onde ambos esperavam a derradeira hora do gozo. Virgínia já não possuía mais a minúscula calcinha branca, tinha sido arrancada e rasgada – ou engolida? – pelo Batista. Os dois se amavam como dois animais selvagens, como se fosse a última vez que iriam se ver. Foi um dos sexos mais intensos na vida da fogosa Virgínia e um dos mais demorados também, feito com capricho, detalhado, lento e vagaroso, mas com um poder de sucção sem igual, feito por gente que se conhecia bem; que se entendia; que se amava...
Por parte do Batista, um amor proibido decerto, ora... Onde já se viu homem casado trair a mulher de casa? Era contra as leis de Deus. Não era direito. E Batista sabia muito bem disso. Logo que começou seu relacionamento, às vezes, passava noites em claro. Não sabia se era a ansiedade de possuí-la no outro dia, ou algum tipo de remorso por sua traição. Sinceramente não sabia. Mas pra quê se preocupar? Gerusa era apenas uma mulher rude e ignorante como ele, mas sem o apetite do prazer que tanto lhe sobrava, sem o asseio de Virgínia, sem as suas idéias de mulher inteligente, sem a sua beleza, sem a sua sensualidade. Além do mais, a igreja já tinha sepultado seu corpo e sua mente. Vivia nos tempos dos Faraós do Antigo Egito, na época das profecias de Moisés, na época de Jesus Cristo... Estava feia e acabada, fedia como um gambá. Tinha dia que não tomava banho. Como ser fiel a mulher desse jeito? Não dava, não tinha como. Era a conclusão mais íntima do peão Batista. Queria era aproveitar aquele corpo divino, prazeroso. Queria cada vez mais aprofundar as tensões de seu gozo. Queria um mais forte e mais prolongado. Queria era aproveitar... Que se dane Gerusa! Que se torne uma mulher de verdade, tarada!.. Que fique com sua maldita igreja!..... Aaahhh, aahh...
Batista ficaria vivendo assim o resto de sua vida. Gerusa em casa e ele comendo a filha do patrão. O que os olhos não veem o coração não sente – não é esse o ditado popular? Sim, mas os olhos de Gerusa viram!...Viram e se esbugalharam de pavor. Aquela cena dos infernos. Aqueles corpos em estado bestial. Aquela fúria carnal, sexual, animal... Foram os motivos para que ela recitasse um trecho do Apocalipse e saísse gritando: É o fim do mundo! É o fim do mundo!
Diante daquela visão medonha de Gerusa a observar os dois quase alcançando o nirvana do prazer, Batista resolveu fechar os seus olhos e gozar com todas as suas forças. Se pudesse, se transformaria num corpo líquido e único de esperma e entraria no corpo de Virgínia, selaria o fim da sua existência física ali mesmo. E como foi bom! Mas durou muito pouco... Virgínia que, até em tão, não tinha percebido a presença da mulher do peão a observar seus corpos unidos que formava um só corpo, levou um susto tremendo ao escutar as pregações apocalípticas de Gerusa. Rapidamente virou-se e viu aquela mulher maltrapilha e maltratada correndo feito louca e gritando a chegada do fim do mundo... O gozo já tinha passado. Virgínia ficou espantada. Olhava para o peão e este de cabeça baixa não sabia o que dizer. Pra ele, também, o gozo já tinha passado. E pior, aquela imagem de Gerusa olhando para ele e sua indiferença com ela, com o flagra, com a vergonha, agora começava a perturbar forte a cabeça do peão. O que fazer agora? Era a pergunta mais óbvia que vinha na mente de Batista. E Virgínia, o que achava de tudo aquilo? Aliás, não ficaria nada bem, a filha do Coronel Jacinto ser vista como uma vaca, uma piranha, uma qualquer, que dava pra qualquer um. Batista não sabia, estava perdido. Não iria nem pra casa àquela noite. Não tinha coragem. Pensou em apenas poucos segundos, como se estivesse a meditar já por várias horas. Pensou até em largar tudo, fugir. Ir embora de vez. E Virgínia, será que iria com o ele? Não, Batista conhecia bem a sua fêmea. Ela não fora feita pra viver agarrada com homem debaixo dum teto. Ela é livre, muito livre. Quer é viver a vida. Gozar com muita gente ainda. Ele que acabou caindo nessa. E agora não tinha ninguém. Nem Gerusa, nem Virgínia.
Enquanto na cabeça do peão um turbilhão de coisas se passava, Virgínia vestia sua roupa suja (sem a calcinha) e, quando acabou, disse:

– Batista, acho melhor você ir atrás dela. Ela pode cometer uma loucura – Disse Virgínia penteando os cabelos cheios capim pendurado.

– Ela já estava louca faz tempo! Deve ter ido embora pra casa da mãe, lá em Poço Grande, e com razão. Não foi direito o que fiz com ela. Apesar de tudo, se não gostava mais.... que deixasse de vez, e não ficasse com a infeliz desse jeito. Pobre Gerusa, sua cabeçinha fraca já deve estar pensando que o diabo levou minha alma... Não tenho mais coragem de por os pés em casa. – E olhando para Virgínia perguntou:

– E você minha potranca...? Que que tu acha que devo fazer? Ir atrás da pobre? Ir embora? Ou continuar em casa como se não tivesse acontecido nada?... O que eu queria mesmo era ir embora contigo, isso sim!

– Ora Batista, não seja infantil, desde o nosso primeiro encontro te disse que não queria nada sério. Não sou mulher de me apaixonar fácil assim. Gosto de você por nossas horas de prazer. Não me arrependo de nada que fiz até hoje. E você ponha os pés no chão. Se por acaso a gente resolvesse se juntar, meu pai nunca iria consentir e acabaria dando um sumiço em você. E como já te disse, não é isso que quero pra minha vida... Vá atrás de sua mulher e peça perdão, mesmo que não fiques com ela, mas pelo menos explique o que aconteceu. É a única coisa que você pode fazer.

As palavras de Virgínia soaram fortes na cabeça do peão. Na mente de Batista se formava uma confusão geral. A frieza daquelas palavras apontava para o único problema daquela confusão, ele, Batista, peão ingênuo, usado pelos caprichos daquela mulher rica, bonita, que poderia ter toda sorte de homens em sua vida; homens bonitos, ricos, inteligentes... Não um peão de fazenda, semianalfabeto, bronco, fedido. O que aquela mulher tinha visto nele? Ele que estava tão bem com Gerusa, mesmo com seus problemas de hormônio.
Batista tentava encontrar, em sua limitada cabeçinha de peão, as respostas de suas atormentações. Lembrou de Gerusa e a sua ingenuidade. Na verdade ele era mais ingênuo do que ela, não conseguiu acordar de sua insensatez com aquela mulher fora de sua realidade. Todos os dias, criticava interiormente as condutas de sua mulher; seu pensamento; sua aparência, mas não percebia que ele é que estava mudado... Diferente ao seu mundo, um estranho em sua cabana, mais um seduzido pelos amores de Virgínia.
Antes mesmo dos dois saírem do curral, o casal foi surpreendido pelo olhares desconfiados do coronel Jacinto!
Virgínia empalideceu. Batista sentiu o nó na garganta que não descia e nem subia, estava petrificado – de terror? De vergonha? Ninguém sabe, mas foi o primeiro a tentar se explicar:

– Coroné, o senhor aqui! – nitidamente surpreendido.

– Ora seu Batista, que pouca vergonha é essa aqui. Você com minha filha! E essa gritaria dos diabos? E você Virgínia? Me dê uma explicação convincente! Eu já estava desconfiado, bem que o Teodoro disse para eu abrir o olho contigo, cabra-safado!

– Pa..Pai... Não é nada disso que o senhor tá pensando!

– Você tá pensando que sô idiota! Vocês dois estavam fazendo o quê no curral, a essas horas, sozinhos?! E você desse jeito, toda suja e rasgada!... Já sei... Seu Batista devia estar fazendo o seu serviço sujo, currando você! Sua safada! – imediatamente aplicou um tapa na face de Virgínia.
Batista tentou esboçar uma reação, mas o coronel instintivamente puxou uma arma que estava em sua cintura e apontou para o peão.

– Fiquei ai no seu canto seu cabra, que depois agente se acerta. Aqui o negócio é de família.

Virgínia, ao se recuperar do tapa, disse a seu pai que iria lhe contar tudo o que tinha acontecido, que abaixasse aquela arma, que o Batista não tinha culpa de nada. Ela que tinha começado. Pediu a seu pai que o deixasse ir, que não cometesse nenhuma injustiça. Disse que a gritaria tinha sido da mulher do Batista, que flagrou os dois se amando. Acabou convencendo o coronel que Batista já tinha problemas demais em casa.
Logo depois, o bruto abaixou a arma e disse para o peão capá-mula, que noutro dia os dois conversariam...

(Por Franco Aldo – Escrito no ano de 2005)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Triste Educação do Ciep João Goulart

Escola com Criança Esperança e Affroreggae é a pior do Rio no Ideb.

Projetos sociais, frequentes visitas de presidentes, UPP e PAC não fizeram diferença na educação de Ciep do Cantagalo, em Ipanema.

O Complexo Rubem Braga, no Morro do Cantagalo, em Ipanema, abriga o Espaço Criança Esperança, da Rede Globo, o AffroReggae, o projeto Dançando para não Dançar e o Ciep Presidente João Goulart, da Secretaria Municipal de Educação. Já visitaram o local, inúmeras vezes, o prefeito Eduardo Paes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral. A primeira-dama da França, Carla Bruni já esteve no complexo, que recebe visitas diárias de turistas estrangeiros.
O conjunto de favelas Cantagalo/Pavão-Pavãozinho recebeu R$ 71 milhões em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), um elevador panorâmico que virou ponto turístico e uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), instalada em 2009.
Paradoxalmente, apesar da permanente atividade cultural, da estrutura, da projeção e da atenção política, a escola municipal de Ipanema foi a que teve pior desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre as 970 avaliadas da rede municipal do Rio, 1,8 nos anos finais do Ensino Fundamental. No ano anterior, a nota havia sido 3,7. Na Prova Rio, feita em 2010, o resultado também foi ruim: 3,6, deixando a João Goulart em 683º, ainda no pior terço das escolas municipais.
Nos anos iniciais do Ideb, resultado também decepcionante: é a segunda pior nota, 3,1, entre os colégios do município; no Ide-Rio (Índice de Desenvolvimento de Educação Rio), teve a 960ª posição, com 3,4.
“O espaço aqui é bom, a única coisa que estraga é a escola. O resto é legal”, disse a aluna Rayane Santos, 13.
“Os professores não passam muito as coisas. Não me surpreende em nada essa nota. É ruim. Os alunos não prestam atenção, por isso não sabemos nada. Os professores saem da sala quando os alunos estão fazendo bagunça. Só às vezes tem dever de casa. A aula é boa, mas os alunos bagunçam. Depois da refeição, todo mundo joga tangerina, fruta, um no outro, jogam comida debaixo da mesa, pegam a colher e a fazem de catapulta para jogar arroz...”, conta Joice Santos.
A entrada da João Goulart é uma porta de vidro, ladeada por uma bandeira do Brasil em um mastro. Dali, vêem-se uma escada com corrimão e, à direita, andaimes, carrinhos de transporte de material de obra, uma escada desmontável e tapumes – provavelmente restos de uma obra recente.
A cinco metros da porta da escola está o projeto Criança Esperança, da Rede Globo; a outros 10 metros, o projeto Dançando para não Dançar; no andar de baixo, o grupo cultural Affroreaggae. Na sexta-feira (29), um grupo de cerca de 30 estrangeiros estava no local, rotina quase diária desde a instalação do elevador.
Caroline Corrêa, 14 anos, estudou na escola João Goulart até a 3ª série, mas saiu porque “não estava aprendendo nada”. Foi para a Escola Municipal Roma, uma das mais bem colocadas no município, com Ideb de 5,4 nos anos finais, o triplo da nota do ex-colégio. “É muita diferença”, disse Caroline.
A australiana Ruth Hienna, que mora no Rio há um ano e fala bem português, visitava o espaço na sexta-feira (29), disse que a situação é curiosa.
“É curioso, mas nem tão surpreendente. Há muito preconceito no Brasil, muita desigualdade. O governo não está nem aí para a educação. Se a economia está bem, então está tudo ótimo. Mas educação é chave para um país. Parecem estar fazendo o mesmo que a Austrália: evitam educar os aborígenes para não perderem poder”, disse Ruth Hienna, de origem afro-aborígene.
A secretária de Educação, Cláudia Costin, afirmou ao iG que o mau resultado da João Goulart, divulgado em julho de 2010, também deixou todos no órgão “chocados”, por conta do “ambiente cultural rico” que cerca a escola.
A secretaria mudou a direção e a coordenação pedagógica da escola este ano e instituiu uma série de programas de reforço e estendeu o horário de funcionamento para sete horas diárias.

(Por Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 03/08/2011 07:00)

Algumas coisas têm que ser esclarecidas. O Ciep João Goulart faz parte de um complexo, onde estão inseridos o Espaço Criança Esperança e o AffroReggae. Daí, talvez, venha o espanto. A proximidade com projetos assistenciais famosos, bem como, o complexo ser o cenário ideal para poses de personalidades do mundo, dá a impressão que a educação do Ciep também seja referência e exemplo para todos que queiram ver, diferentemente dos outros Cieps espalhados pelo Estado. Porém, a realidade é bem diferente, pois, segundo a reportagem acima, o Ciep esta longe de ser considerado uma escola. É uma pena.
A respeito dos movimentos assistenciais (Criança Esperança e AffroReggae) não tenho muita coisa a dizer, pois apenas se limitam às atividades de dança e esporte.
Quanto à verdadeira educação, o Ciep João Goulart é mais um espaço de total desinteresse do estado, dos professores, dos pais e dos alunos. E isso está claramente registrado na triste pesquisa do Ideb sobre a nossa pífia educação. O vilão é sempre o mesmo, o estado. Mas prefiro acreditar que pais, professores e alunos tenham sua parcela de culpa nos problemas da falta de aprendizagem.
Se o estado não faz a sua parte; pais, professores e alunos não podem cruzar os braços e esperar a morte chegar. E se há omissão dos órgãos responsáveis pela educação, que sejamos mais proativos na busca de melhores condições de vida.
Reivindicar, protestar, exigir direitos parece não fazer parte da cultura do brasileiro, mas se quisermos melhorar a nossa vida e a vida de nosso país, temos que começar a pensar no coletivo, na busca de melhorias, para assim, exercemos a nossa cidadania.

(Por Franco Aldo – 03/08/2011 – 08:09hs)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Essência da Legião Urbana

(Marcel ao lado do seu amigo, Dado Villa-Lobos)

Outro dia fiz uma pergunta ao Marcel sobre a Legião Urbana. Perguntei quais as três músicas, segundo ele, caracterizariam a essência da banda. É claro que a pergunta foi dificílima, pois cada um teria sua música favorita, até porque, poderíamos, aqui, apontar mais de 20 músicas da banda que poderiam perfeitamente simbolizar sua existência.
Mesmo assim quis saber a resposta e sinceramente não me lembro quais foram as músicas que o Marcel escolheu. Aliás, a única que me lembro foi ‘Faroeste Caboclo’, por sinal muito bem escolhida. Mas posso ousar aqui com o meu ponto de vista a respeito da banda. As minhas três músicas são: ‘Ainda é Cedo’, do primeiro álbum; ‘Tempo Perdido’, do Dois e ‘Pais e Filhos’ do quarto, poderia, ainda, colocar uma quarta música, 'Que País é Este', do terceiro disco.
Analisando os álbuns da Legião, é bem perceptível uma evolução de conduta e pensamento nas músicas, até por que, o cérebro, Renato Russo, clamava por algo, por transformação; um ser inquieto, a frente do seu tempo..., um poeta que não queria ser poeta, muito menos símbolo de uma geração, que renascia num mundo em plena transformação.
O primeiro álbum, intitulado apenas ‘Legião Urbana’, foi um disco com muitas influências do punk, tão compactuado pelos meninos de Brasília, foi lançado em 1985; temos como exemplo ‘Geração Coca-cola’, ‘Será’, ‘Ainda é Cedo’ e Baader-Meinhof-Blues. Um sucesso. Aliás, um estrondo. Nenhuma banda da época produziu músicas tão bem trabalhadas e tão ritmadas como o primeiro disco da Legião.

(O primeiro disco, 'Legião Urbana', lançado em 1985)

O segundo, ‘Dois’, foi a consagração, lançado em 1986. Lembro-me muito bem quando costumava caminhar pelo meu bairro, as casas, que ousavam tocar música alta, tocavam Legião. Hits como ‘Eduardo e Mônica’, ‘Faroeste caboclo’, ‘Tempo perdido’ e ‘Quase sem querer’ eram ouvidos exaustivamente em casa, nas rádios, nas festas de bairro, nas festas americanas, em todo o lugar. Nesse tempo era brega e pobre ouvir funk.

(O álbum 'Dois', a consagração, lançado em 1986)

Já o terceiro disco manteve a essência dos filhos da revolução. Em 1987, a Legião Urbana lançou o inesquecível ‘Que país é este’, um álbum de forte apelo político, mas ainda com os lampejos do movimento punk. Foi o disco de hits inesquecíveis como ‘Que país é este’, ‘Eu sei’, ‘Faroeste caboclo’ e ‘Angra dos Reis’. Nessa época, quando a Legião Urbana lançava um álbum novo de grande sucesso, a expectativa de todos ficava no próximo álbum, no próximo disco. Era como aquelas coisas muito gostosas que comemos, que quanto mais se tem, mais dá vontade de comer. Nessa altura, era impossível imaginar que a banda pudesse produzir um disco ruim.

('Que País é Este', de 1987)

O quarto disco, ‘As quatro estações’, lançado em 1989, colocou a Legião Urbana na eternidade. Não conheço outra banda de rock nacional nos fins dos anos 80 que tenha alcançado tanto esplendor poético, com músicas bem arranjadas e ritmos tão variados, ao ponto de cada música parecer ter vida própria, aliás, alma própria. Todas as faixas fizeram sucesso! As onze faixas eram tocadas exaustivamente em todos os lugares. Se ‘Há tempos’, hit que abriu os sucessos do álbum, já estava mais do que rodada nas rádios, então surgia ‘Pais e Filhos’ que foi uma espécie de terremoto poético, um sucesso espantoso. ‘Pais e Filhos’ consagrou o álbum e selou de vez à eternidade Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

('As Quatro Estações', a obra prima da Legião, lançado em 1989)

O quinto álbum, intitulado ‘V’, lançado em 1991, seguiu um pouco a essência do quarto, mas guardada as suas proporções. Hits como ‘Metal contra as nuvens’, ‘Vento no Litoral’ e ‘Teatro dos Vampiros’ lembravam um pouco aquilo que foi ‘As quatro estações’, mas nascia um pouco da melancolia que se faria presente nos últimos álbuns da banda. Apesar das letras não serem exclusividade de Renato Russo, sua melancolia pareceu ter contagiado os demais integrantes, aliás, Russo era o líder, portanto era ele quem ditava o ritmo, era ele a alma do grupo.

(O quinto álbum, 'V', de 1991. Início de uma melancolia)

O sexto disco foi lançado em 1993. ‘O descobrimento do Brasil’ é um disco muito bem produzido e com belas composições. Aqui, a melancolia de Renato Russo começa a ditar os novos horizontes da banda. Nada lembra a Legião dos três primeiros discos. Parece o álbum da consolidação de um amadurecimento que muitos rejeitavam, principalmente os fãs, mas, mesmo assim, o disco lançou belas músicas como ‘Perfeição’, ‘Os barcos’, ‘Vamos fazer um filme’ e ‘Giz’.

('Descobrimento do Brasil', lançado em 1993)


O sétimo disco, ‘A tempestade ou o livro dos dias’, foi o último lançado pelo grupo quando Renato Russo ainda estava vivo, em 1996. Se achávamos que depois de ‘As quatro estações’ a Legião Urbana estava descendo a ladeira da melancolia, perdemos a nossa dúvida com esse disco. ‘A via láctea’ é o exemplo da enfermidade do cantor. Todas faixas lembram sofrimento, dor, paixão não correspondida. A única música que lembra um pouco o início da banda é ‘Dezesseis’.

(O sétimo disco de estúdio da banda, 'A Tempestade ou O Livro dos Dias', de 1996)

‘Uma outra estação’ é o oitavo, e último, álbum de estúdio do grupo. Quando Renato morreu, já estava pronto, mas só fora lançado três meses depois de sua morte, em 1997. Foi um disco que vendeu mais pelo saudosismo do cantor do que pelas próprias músicas. Aliás, muitas músicas são desconhecidas, até hoje, por muita gente. Destaque para ‘Uma outra estação’, ‘Marcianos invadem a Terra’, ‘Comédia romântica’ e ‘A tempestade’. Quem conhece esse disco pode ser considerado fã número um da Legião Urbana.
Até hoje ouço os disco da Legião Urbana e é difícil não lembrar os anos 80, pois a banda respira anos 80. Foi um período em que a democracia brasileira estava engatinhando, pois acabávamos de soltar os grilhões do regime militar. A juventude transpirava agitação e rebeldia, o mundo inteiro ouvia, comia e bebia rock. Aqui o rock foi adaptado aos nossos anseios, ao nosso modo de ver e sentir o mundo. Foi nesse período que surgiu a maior banda de rock nacional de todos os tempos, a Legião Urbana.

(O último disco de estúdio da Legião. Lançado em 1997, três meses após a morte de Renato Russo)

(Por Franco Aldo – 02/08/2011 – às 22:12hs)