Sejam Bem-Vindos!

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

GENTILEZA GERA GENTILEZA

O Profeta Gentileza e sua arte de pregação.

No início dos anos 90, antes de completar meus 20 anos, trabalhava no Centro do Rio, próximo à Central do Brasil. Saía todos os dias de casa na Zona Oeste para cumprir expediente num escritório de contabilidade, das 08:00 às 17:30hs, um suplício que ficou marcado na minha vida.
Nessas idas e vindas, sempre encontrava, próximo a um semáforo da Avenida Rio Branco, distribuindo panfletos com letras estranhas e proferindo frases ininteligíveis, o Profeta Gentileza.
Aquela figura pitoresca que mais lembrava o velho Antônio Conselheiro, imortalizado na obra Os Sertões de Euclides da Cunha, chamou-me a atenção ao ponto de suas feições e os seus manuscritos ficarem gravados em minha memória.
Algum tempo depois vim a descobrir que as inscrições em verde e amarelo nas pilastras do viaduto do Caju, onde sobressaíam os dizeres como Gentileza gera Gentileza, tinham como autor o Sr José Datrino, nome de batismo do Profeta Gentileza.
Por acaso, ao ler o livro “O espetáculo mais triste da Terra”, da Companhia das Letras, lançado em 2011, do jornalista Mauro Ventura, descobri como surgiu o Profeta Gentileza.
O livro narra história de uma tragédia, o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, armado na cidade de Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, em 1961.
O incêndio do Gran Circo Norte-Americano é considerado a maior tragédia circense do mundo até hoje. Morreram mais de 500 pessoas, a maioria crianças.
As causas do incêndio até hoje são controversas. A condenação do principal suspeito, Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, não foi suficiente para pôr fim à discussão, pois muitos duvidavam que o incêndio tivesse origem criminosa. Talvez fosse o álibi perfeito para livrar a responsabilidade do dono do circo, Danilo Stevanovich, de um incêndio por curto-circuito, já que ficara comprovada a precariedade das instalações elétricas.
Foi após esse incêndio que ceifou as vidas de centenas de crianças que José Datrino, então proprietário de uma empresa de transportes e morador de Guadalupe, abandonou a família em prol de um chamado divino.

Livro de Mauro Ventura: emocionante.
Após o incêndio o caos se instalou em Niterói. Não havia hospitais suficientes nem para atender a demanda do dia-a-dia, o funcionalismo público municipal estava em greve por atraso nos salários, não havia remédios nem cemitérios para os mortos da catástrofe.
Foi nesse clima de guerra que José Datrino surgia no local do incêndio com seu caminhão, oferecendo palavras de consolo aos parentes dos mortos. Não demorou muito para que ficasse conhecido por toda a cidade. Em todas as suas pregações, a palavra ‘gentileza’ era proferida.
Muitos afirmavam que Datrino era um louco, mas aos poucos, sua presença na região se tornou fundamental para afagar as mágoas daqueles que sofriam pela morte do filho, do irmão, do pai, da mãe.
Isso chamou a atenção da impressa e logo uma legião de repórteres vinha conferir quem era aquela figura estranha, magra, de barba comprida e que se dizia um enviado de Deus.
Segundo o livro, o repórter Saulo Soares de Sousa do jornal “O Fluminense” foi o enviado para cobrir a história daquele personagem que a cada dia se tornava um mito nacional.
Segundo Saulo, ouviu de Gentileza o seguinte discurso:

– És pobre?
– Somos – foi a resposta.
E veio outra pergunta estranha:
–Quais são os brilhantes mais brilhantes dos brilhantes do mundo inteiro?
Não respondemos e ele respondeu por nós:
– São os nossos olhos.
Continuamos esperando outras palavras e ele tornou a perguntar:
– Você troca os seus olhos por 30 caminhões, iguais aos meus, cheios de brilhante?
–Não – foi a nossa resposta.
E o homem completou:
–Então não és pobre, porque os teus olhos valem muito mais.

A partir de sua morte em 1996, o Profeta Gentileza entrou no imaginário popular e vem conquistando uma legião de fãs.
Para saber mais a seu respeito, o Professor da UFF, Leonardo Guelman publicou, em 2008, a obra “Univvverrsso Gentileza”, pela editora Mundo das Ideias.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

JETHRO TULL - Crest of a Knave

Talvez não seja muito apropriado classificar a banda inglesa Jethro Tull como uma banda de rock, e pior ainda, como uma banda de hard rock. 
Seja o que for, o Jethro Tull está mais para uma espécie blues com pitadas de música clássica e tem na flauta seu instrumento marcante. 

Sua música é caracterizada pelas letras, o estilo vocal cheio de maneirismos e o trabalho único na flauta de seu líder Ian Anderson, além de uma complexa e pouco usual construção musical. 
Inicialmente calcado no estilo blues rock, o Jethro Tull eventualmente incorporou a seu som elementos de música clássica, folk, jazz e art rock
A banda vendeu mais de 60 milhões de discos ao redor do mundo. (Fonte: Wikipédia) 

Crest of a Knave é o décimo sétimo álbum de estúdio da banda britânica Jethro Tull, lançado em 1987
Com a ausência de Peter-John Vettese, o sintetizador ficou a cargo de Ian Anderson, e a gravação firmou-se na guitarra de Martin Barre. O álbum foi um sucesso de crítica e alcançou grande êxito comercial, rendendo ao Tull um Grammy de "Melhor Performance de Hard Rock/Metal Vocal ou Instrumental" dois anos depois, suplantando os favoritos Metallica
O prêmio foi particularmente controverso, pois muitos não consideravam o Jethro Tull uma banda de hard rock, quem dirá de heavy metal. O fato deste ter sido o primeiro Grammy dedicado ao metal foi interpretado como um insulto aos fãs do gênero e posteriormente, e talvez por culpa disso, Grammys passaram a ser entregues em separado a ambas categorias. 
Seguindo o conselho de seu empresário, a banda não comparece à cerimônia, e assim que o prêmio foi anunciado os fãs de heavy metal na platéia prontamente se puseram a vaiar. Em resposta às críticas por terem recebido o Grammy, a banda supostamente pagou um anúncio anônimo em um periódico musical inglês com a frase, "A flauta É um instrumento de heavy metal!" 
O estilo de Crest foi comparado ao do Dire Straits, em parte devido a Anderson não ter o mesmo alcance vocal de antes. 

A melhor maneira de tentar definir o Jethro Tull é escutá-lo. Não importa a que estilo pertença, aliás, a banda não pertence a nenhum estilo e parece que mescla ao mesmo tempo a todos, tornando-se algo diferente, novo. 
Crest of a Knave é um excelente disco. 

MENSALÃO: O Julgamento de Roberto Jefferson

Revisor do mensalão retoma julgamento e lê voto de Roberto Jefferson


O revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, retoma nesta segunda-feira, 24, a leitura do seu voto, que inclui o julgamento do delator do esquema, Roberto Jefferson. A sessão começa às 14h e é transmitida ao vivo pela TV Estadão.

Além de Jefferson, o revisor julgará a participação de réus do PP e julgará os integrantes do PL (atual PR), PMDB e PTB. A expectativa é de que Lewandowski termine de ler seu voto nesta sessão e os demais ministros votem na quarta-feira, 26. Com isso, na quinta-feira, 27, o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, começaria a julgar o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado como chefe do esquema.

Durante essa semana, a oitava do julgamento, o STF avalia os réus do núcleo político acusados de corrupção passiva. Na última quinta, Lewandowski não relacionou o esquema de pagamento de parlamentares no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva a uma suposta compra de apoio político no Congresso. “Era um acordo de financiamento de campanha”, disse durante a leitura de seu voto sobre os políticos que receberam dinheiro do valerioduto.

A posição de Lewandowski contrastou com a de Barbosa, segundo quem o mensalão foi um esquema de compra de votos. Uma eventual vitória da versão segundo a qual o mensalão foi um esquema de caixa 2 afasta o caso do governo Lula.

Transmissão. Além de assistir pela página da TV Estadão, você pode conferir informações também pelo perfil do Twitter (@EstadaoPolitica) e do Facebook (facebook.com/politicaestadao). O portal conta com o apoio de especialistas da escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Direito GV, que durante as sessões explicam a linguagem e argumentação jurídica usada pelos ministros e advogados durante as sessões.

(Estado de São Paulo)

sábado, 15 de setembro de 2012

O "TOMA LÁ DÁ CÁ" DA POLÍTICA BRASILEIRA



Empreiteiras lideram ranking de doação privada


Construtora Andrade Gutierrez é a que mais doou: R$ 23 milhões para direções de 14 partidos; OAS foi a segunda maior financiadora.

Seis dos dez maiores doadores privados para campanhas de prefeitos e vereadores em todo o País são empreiteiras. A líder do ranking é a Construtora Andrade Gutierrez, de acordo com levantamento do Estadão Dados a partir da segunda prestação de contas parcial, referente ao período até o início de setembro. Além dos repasses diretos para os candidatos, foram consideradas as doações para comitês eleitorais e partidos, as chamadas doações ocultas.
A Andrade Gutierrez doou pouco mais de R$ 23 milhões. Todo o recurso foi para as direções de 14 partidos. Nenhum repasse foi feito diretamente para os candidatos. Dessa forma, não é possível saber exatamente quem foi beneficiado pelas doações da construtora. O governista PMDB e o oposicionista PSDB, juntos, receberam mais da metade dos recursos da Andrade Gutierrez. O PT ficou com apenas 6% do total.
A segunda colocada no ranking de financiadores foi a OAS, também do setor de construção civil, que doou R$ 21 milhões. Nesse caso, 76% dos recursos foram para doações ocultas, e 24% destinados para campanhas de candidatos específicos. Nos repasses da OAS feitos diretamente para candidatos, os petistas se destacam. Da lista de 18 beneficiados, 13 são do partido da presidente Dilma Rousseff. O que recebeu o maior quinhão foi Fernando Haddad, candidato à Prefeitura de São Paulo, com R$ 1 milhão. O tucano José Serra (PSDB), adversário de Haddad, ficou com R$ 750 mil.



Obras públicas. Levando-se em conta o total de doações da empresa - para candidatos, comitês e partidos -, o PT também ficou em primeiro lugar, com 36%. A seguir vieram o PMDB, com 23%, e o PSDB, com 11%. Nos repasses da OAS para comitês, o Comitê Financeiro Único do PRB de São Paulo, partido de Celso Russomanno, recebeu R$ 500 mil.

Andrade Gutierrez e OAS têm nos contratos com o setor público a principal fonte de suas receitas. A primeira, por exemplo, atua na construção de hidrelétricas, implantação de linhas do programa Luz Para Todos e reformas de aeroportos, entre outros. A segunda lista entre suas principais obras a intervenção urbanística nas favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, um projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), impulsionado principalmente pelo governo federal.

Top 10. No grupo dos dez maiores doadores privados, as empreiteiras são responsáveis por 75% do valor doado. Além da Andrade Gutierrez e da OAS, aparecem na lista Queiroz Galvão, Carioca Christiani Nielsen, UTC, WTorre. Completam o ranking dois bancos (Alvorada, controlado pelo Bradesco, e BMG), um frigorífico (JBS) e uma empresa de importação e exportação (Coimbra).
No total, as dez empresas alimentaram campanhas com R$ 92 milhões até o começo deste mês. Desse valor, apenas 14% foi encaminhado diretamente para as contas de candidatos, e o restante para comitês e partidos, que atuam como intermediários e impedem que se conheça as ligações entre financiadores e financiados.
A prevalência de doações ocultas entre os dez maiores financiadores de campanha não se repete entre o total de doadores. Até agora, 436 mil empresas e pessoas físicas fizeram doações, no valor total de R$ 1,3 bilhão. Cerca de três quartos deste valor foi repassado diretamente para os candidatos. Os comitês eleitorais receberam 12% e os partidos 14%, respectivamente.
Até as eleições, o TSE não vai divulgar dados adicionais da prestação de contas, já que a legislação prevê apenas a publicação de duas parciais. "E as doações que vão acontecer na reta final da campanha, que podem ser as maiores? Os eleitores não vão saber", comenta o juiz eleitoral Márlon Reis, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. "A doação feita por vias eletrônicas para o candidato e publicadas em tempo real na internet poderiam permitir que as pessoas soubessem para onde vai o dinheiro".
Procurada pelo Estado, a Construtora Andrade Gutierrez afirmou que "sua participação no processo eleitoral é realizada de forma oficial, de acordo com as regras da legislação brasileira e do TSE". O Estado não obteve resposta da OAS e do Banco BMG. O Bradesco disse que não comentaria o assunto.

(Por Amanda Rossi e Daniel Bramatti – Estadão)

O que leva uma grande empresa como a Andrade Gutierrez a doar mais de 23 milhões de reais para as campanhas dos partidos políticos? Ora, a certeza de abocanhar os milhões e milhões de reais do dinheiro público que serão destinados aos mais diversos tipos de obras públicas por todo o país.
É o jogo do toma lá dá cá, e, legalmente isso é possível.
Entretanto não podemos perder de vista algumas questões que poderão se tornar algo moralmente reprovável.
Quando o assunto são obras públicas, os princípios constitucionais administrativos como o da legalidade, moralidade, impessoalidade, razoabilidade e da eficiência são muitas vezes solapados, simplesmente ignorados. As doações milionárias representam a certeza da falta de concorrência que culmina na execução de obras e serviços públicos por cartas marcadas. E tudo isso, até que se prove o contrário, está sob o amparo da lei.
Descaradamente é um tipo de relação comprada, do tipo: “Eu banco a sua eleição e você me garante as obras públicas milionárias”.
E se não bastasse tudo isso, a maioria dessas obras, como a construção da Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, vem recheada de irregularidades como superfaturamento de preços, pagamento de propinas milionárias e, talvez, o pior, o péssimo serviço prestado, culminando com atrasos e estragos do mau serviço até em tão prestado.
Nesse jogo de cartas marcadas todos ganham: políticos e construtoras. Os primeiros com as propinas milionárias recebidas, já as construtoras superfaturam seus preços, garantindo assim rendimentos astronômicos. Nessa relação, quase sempre, o serviço é pessimamente prestado e o custo final extrapola os limites do absurdo.
De início, essa relação pode até ser legalmente aceitável, mas só o futuro e uma fiscalização rigorosa poderão dizer se é eticamente e moralmente prováveis.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

BOTAFOGO SE APROXIMA DO G4

Botafogo vence o Náutico com show de Elkeson.
O Botafogo venceu seu terceiro jogo consecutivo no campeonato brasileiro, ontem no Engenhão, 3 X 1 no Náutico. 
O Fogão está com 37 pontos no momento e a 2 pontos do 4º colocado (Vasco), seguido pelo São Paulo (36) e Internacional (35). 
O próximo confronto do alvinegro carioca será em casa contra o Inter, rival direto pela briga no G4, portanto um jogo eletrizante e que a torcida terá um papel preponderante. 
Ainda sob os olhares desconfiados da torcida e pela indiferença da imprensa, o Botafogo venceu o Náutico por 3 x 1; sua terceira vitória consecutiva. Se o holandês Seedorf não repetiu a atuação do jogo contra o Cruzeiro, em Belo Horizonte, em que o time de General Severiano sapecou um 3 X 1 de virada, pelo menos Andrezinho e Elkeson fizeram uma parceria infernal, afinal os dois gols de Elkeson (um de letra) foram oriundos de assistências de Andrezinho que fechou o caixão do Náutico fazendo o terceiro gol. 
Com 2 X 0 de vantagem, no segundo tempo, o Botafogo não jogou bem. Deu muitos espaços ao Náutico que descontou com Araújo, num pênalti duvidoso muito bem cobrado. O Timbu pressionava, mas a pontaria de Araújo não estava bem. 
O Botafogo recuou, talvez por cansaço, entretanto aos 46 do segundo tempo, num contra-ataque, Seedorf rolou a bola para Andrezinho que bateu rasteiro e contou com a ajuda do goleiro Gideão; Fogão 3 X 1. 
O Botafogo tem missão difícil nesta quinta contra o Internacional, em casa. Se vencer poderá voltar ao G4 da competição. A torcida terá papel fundamental, pelo menos é isso que espera o técnico Oswaldo de Oliveira. 

FICHA TÉCNICA

BOTAFOGO 3 X 1 NÁUTICO 

Local: Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, no Rio de Janeiro (RJ) 
Data: 9 de setembro de 2012 (Domingo) 
Horário: 16 horas (de Brasília) 
Árbitro: Jaílson Macedo Freitas (BA) 
Assistentes: Bruno Boschilia (PR) e Thiago Brigido (CE) 
Cartões amarelos: Patric, Josa (Náutico)
Gols: 
BOTAFOGO: Elkeson, a 1 e aos 33 minutos do primeiro tempo, Andrezinho aos 46 do segundo tempo
NÁUTICO: Araújo, aos 9 minutos do segundo tempo 

BOTAFOGO: Renan, Lucas (Gilberto), Brinner (Vinicius), Dória e Lima; Gabriel, Jadson, Fellype Gabriel (Cidinho), Andrezinho e Seedorf; Elkeson
Técnico: Oswaldo de Oliveira 

NÁUTICO: Gideão, Patric, Ronaldo Alves, Jean Rolt e Lúcio; Elicarlos, Dadá (Josa), Souza (Kim) e Rhayner, Araújo e Dimba (Rogério) 
Técnico: Alexandre Gallo 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

MARIGUELLA, QUEM É VOCÊ, AFINAL?

Carteira de Mariguella de membro do Partido Comunista.
A edição do mês de agosto da Revista Cult trouxe o interessantíssimo artigo ‘Mariguella, quem é você, afinal?’, uma alusão ao filme da documentarista Isa Grispum Ferraz, sobrinha de Carlos Mariguella, que estreou no mês passado. 
Mas quem foi Mariguella? 
Mariguella é considerado um dos grandes nomes da resistência nacional contra a opressão dos governos ditatoriais, principalmente na Era Vargas e durante a década de 60. Em 1969, publicou o famoso manifesto Minimanual do Guerrilheiro Urbano que viria a se tornar uma espécie da obra-prima da literatura de guerrilha. 

** O Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi escrito para servir de orientação aos movimentos revolucionários e libertários. Circulou em versões mimeografadas e fotocopiadas, algumas diferentes entre si, sem que se possa apontar qual é a original. Nesta obra, detalhou táticas de guerrilha urbana a serem empregadas nas lutas contra governos ditatoriais. Nos anos 80, a CIA – Central Inteligence Agency, dos Estados Unidos, fez traduções em inglês e espanhol para distribuir entre os serviços de inteligência do mundo inteiro e para servir como material didático na Escola das Américas, por ela mantida, no Panamá


O filme de Isa Ferraz tem por objetivo descrever o homem, o líder revolucionário e o tio Mariguella sob vários prismas, várias facetas. 
Para alguns, Mariguella não passou de um bandido comunista que teve o fim merecido. Para a esquerda, foi um líder que se consubstanciou num verdadeiro herói, pois abdicou toda a sua vida por um ideal, por seu sonho. 
Talvez, o efeito Mariguella ainda esteja muito recente na consciência política de alguns, seja por lembranças negativas ou mesmo positivas. Diante disso, só a história dirá, num momento futuro, quem foi realmente Carlos Mariguella. 
Confira o artigo da Cult sobre o filme Mariguella na visão de Isa Ferraz: 


Marighella, quem é você, afinal? 


Um mito para uma geração de resistentes, as ações e a história do guerrilheiro brasileiro chegam ao cinema.

“O tio Carlos é o Carlos Marighella” são as palavras que abrem o filme dirigido pela socióloga e documentarista Isa Grispum Ferraz, na época uma garota de dez anos a ouvir do pai as palavras que tombariam sobre sua cabeça com o peso da responsabilidade. Hoje, 42 anos depois, o resultado de mais de duas décadas de pesquisa, captação de recursos e desenvolvimento traz às telas a trajetória de um ícone da resistência brasileira. 
Militante, baiano, autor de Manual do Guerrilheiro Urbano e de tantos outros manifestos e símbolo da luta armada contra a opressão da ditadura militar, Marighella foi,como afirma Isa, uma figura que “não se deixou filmar”. A fim de preencher as lacunas rasgadas pela constante perseguição, o filmeMarighella, que estreia neste mês em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, apresenta a figura do ativista construída pela narração da sobrinha e textos lidos pelo ator Lázaro Ramos. 
Em entrevista à CULT, Isa – realizadora de O Povo Brasileiro (2000), sobre a obra do antropólogo Darcy Ribeiro– fala sobre a experiência de adaptar às telas o percurso de uma figura símbolo do combate à repressão. 

Resistência ontem e hoje 

Acho que o Brasil tem uma coisa que é diferente, e uma figura como o Marighella talvez seja muito brasileira. A frase que melhor explica o Marighella foi a última frase do último depoimento, que ele deu para uma jornalista amiga dele, da Bahia, chamada Ana Montenegro. Isso já no fim, depois do sequestro do embaixador. Ela pergunta: “Marighella, mas quem é você, afinal?”. Ele falou assim: “Sou mulato baiano”. Era o homem mais procurado da América Latina. O Marighella estava impregnado de Brasil. 
Também por ter passado muitos anos na cadeia, ele teve tempo de estudar o Brasil. Lia e estudava muito o cangaço, todos os movimentos populares do século 17 pra cá. Ele foi estudar para poder entender e pensar o Brasil. Tudo isso culmina na formação comunista rígida. 
Para dizer a verdade, eram todos moleques, mas que naquela época abriram mão de tudo. É isso que eu queria mostrar para as pessoas de hoje, para os jovens que não abrem mão nem de um iPod ou de um tênis “x”. Naquele momento, pessoas de classe média, classe média alta, estudantes da USP, universitários, meninas lindas, novinhas, abriram mão de tudo e saíram para cair na clandestinidade e não saber onde iriam dormir na noite seguinte. Em nome de que era isso? Em nome de uma ideia de Brasil, de uma ideia de país. Você pode achar que eles eram todos loucos, mas há de se pensar nisso. 
Eu acho que a diferença para hoje é que, naquele momento, o mundo estava numa transformação geral, um monte de coisas fervilhando, seja no Vietnã, seja em Cuba, na Argélia, os movimentos negros nos Estados Unidos, a libertação feminina, os valores estavam todos se transformando e as pessoas procurando algo além. Havia uma busca de uma coisa diferente, hoje não há busca de nada, acredito eu. 
As pessoas estão muito autocentradas, essa nova geração não está interessada. Acham que sempre vão descobrir a roda e vai começar tudo de novo. Acham que as vanguardas são agora e esquecem de tudo o que aconteceu antes. O Marighella (e mais um monte de gente) se doou para um ideal. Mas hoje não existe isso. Até pelos políticos que vemos hoje, o que é óbvio e não vale a pena nem gastar tempo, pois é ridículo. Acredito que o que falta no Brasil é educação pra todo mundo e educação é cultura. É pensar. 

O símbolo e o homem 

O Marighella conversou com a história do país e foi mudando, isso talvez seja a coisa mais interessante do personagem. Por isso acho que virou um ícone tão forte. Foi conversando com o tempo dele sempre, se referenciando no que estava acontecendo pelo mundo. Não dá pra entender a figura do Marighella sem olhar para o que estava acontecendo pelo mundo na época. 
Ele chegou a ser quem ele é por conta da personalidade dele, essa coisa expansiva e flexível, com muita curiosidade e a percepção do que estava em sua volta. Ao mesmo tempo, essa coisa da vida familiar dele, de um baiano, filho de anarquista, neto de escravo malês, também o marcou. Era um cara que amava a vida, mas que também sabia ser duríssimo, terrível, rigoroso, disciplinado… A pessoa que, afinal, escreveu o Manual do Guerrilheiro Urbano precisava ser um super-herói. Acho que Marighella virou um mito basicamente por causa da resistência dele na prisão. A tortura foi violentíssima. Arrancaram todas as unhas dele, queimaram os pés com maçarico, foi uma barbaridade com um cara de 21 anos. E ele não abriu a boca. Isso começou a correr pelo país. “Quem é esse mulato?”. 
Quase ninguém resistiu no golpe, acho que única voz foi dele, que levou o tiro e começou a gritar “abaixo a ditadura!”. Imediatamente, depois que se recuperou, voltou para ação já formulando a luta armada. Em 1964 inicia esse processo. Ele não se conformou com a aceitação pela cúpula do Partido [Comunista] de que era isso, não tinha o que fazer. A acomodação era uma coisa bem Partidão. A política, né? Chega uma hora em que o Marighella diz: “Não, isso daí não deu certo no Brasil”. Marighella entendeu o momento talvez um pouco antes dos outros. 

Recorte fílmico 

Eu sempre tive essa inquietação de entender melhor a figura do Marighella. Em 1986 eu escrevi um roteiro, primeiro roteiro, entrei na Lei Mendonça, naquela época. Fui aprovada, mas não consegui captar nenhum tostão, esse tema ainda era maldito. O tempo foi passando, comecei a ir atrás dos recursos, aquela velha história, aquele sufoco pra conseguir o dinheiro. Basicamente, a gente foi se informando melhor, porque aos poucos esse nome foi saindo da sombra, foram surgindo mais informações, mais publicações, mais livros e eu sempre tive essa pulsão de ir atrás dessas informações. 
Em nenhum momento me propus a fazer um filme jornalístico, um documento, uma pesquisa histórica, com se eu fosse uma estranha e esse tema não me dissesse respeito. Assumi como linguagem, desde o momento zero do filme, tratar como a sobrinha, uma pesquisa de uma pessoa envolvida afetivamente com aquilo. Portanto, é um recorte. O Marighella é um personagem de uma complexidade fascinante, porque você
pode olhar ele de “n” recortes. Ele atravessou e atuou em todos os momentos-chave do século 20. 
Achar material sobre o Marighella foi muito difícil. Ele nunca se deixou filmar nessa vida. Ele conseguiu passar pelo século 20 sem ter uma imagem em movimento. A única imagem em movimento do Marighella que agente achou ,seja aqui, seja em Cuba, na Rússia, na China, lugares onde ele visitou como autoridade comunista, é ele morto no Fusquinha e a câmera da TV Tupi chegando para pegar o corpo. E fotos, o que a gente conseguiu apurar são no máximo 20 e poucas, 30 fotos. Eu não tinha imagem do Marighella pra fazer um documentário longa-metragem. 
Qual era o meu recurso? Ouvir as pessoas que o conheceram nas várias etapas da vida dele. Conversei com alguns dos velhos militantes do Partidão, ainda da Bahia, no começo da militância no Partido Comunista. É um retrato filtrado pela emoção e pela memória de cada pessoa. E aí eu fiz a minha costura. É intencionalmente polifônico. É uma visão construída a partir de muitas visões. 


Totem e tabu 

Eu fui adquirindo muitos ângulos novos sobre ele, pois a minha convivência foi muito diferente. Desde sempre, ele vivia na minha casa e minha mãe sempre dizia assim: “Era tão normal ter o Marighella em casa que a gente não prestava muito a atenção. Ele fazia parte”. Todos sabiam o que estava acontecendo, meus pais também são de esquerda, mas ninguém se dava conta da repercussão. Meus pais foram do Partidão e, depois
que o Marighella saiu, eles também se desencantaram, como muita gente se desencantou, principalmente depois do golpe. Tem muita gente que saiu para vários outros partidos. Eles, meus pais, não eram militantes, nunca foram para a ilegalidade, mantinham as aparências, mas tinham um envolvimento…
Bom, só guardar o Marighella em casa, digamos que tá de bom tamanho, né? Ele podia aparecer a qualquer hora, tinha um quarto só pra ele. Depois do tiro no cinema, inclusive, ele passou muitos dias lá em casa e ficava se exercitando o tempo todo. Em 1971, dois meses antes de morrer, depois que meu pai foi preso, fomos para a Europa. Na Itália, quando estávamos andando na rua no centro de Roma, minha mãe disse “olha” e mostrou uma parede de um sindicato onde tinha alguns cartazes colados. Havia centenas deles, colados um ao lado do outro, estampando a cara do Marighella, grandona, em verde e amarelo. Isso foi muito forte para mim, por que pensei: “Meu tio na Itália, que louco”. 
E pelo tamanho do problema, eu era proibida de falar. Ninguém podia saber, a gente só foi poder falar sobre o assunto quando a minha tia voltou do exílio, em 1979, com a anistia. Nem os meus melhores amigos podiam saber do Marighella. Daí você começa a perceber a dimensão do problema. Ele era capa de todos os jornais e revistas, então o meu pai tinha medo que eu o identificasse e dissesse “olha, o meu tio!”. Ele teve de dizer pra mim “você vai ter que guardar isso como um segredo”. É uma responsabilidade grande com dez anos de idade. 
Foi um impacto horrível, eu lembro do lugar da cidade em que gente estava passando, exatamente do lugar, quando ele me contou. Ele estava me levando para escola, então comecei a chorar e voltei pra casa. Daí nunca mais vi meu tio nem minha tia, eles não apareceram mais em casa. Eles não podiam ameaçar a nossa vida. Eu era muito apegada ao Marighella e ele a mim. E é interessante notar que o Marighella tinha contatos por todos os cantos do mundo. O Miró mantinha contato, o Rosselini, o Visconti, o Godard… Surpreendeu-me o tamanho dele no mundo, que eu não imaginava. 
Perguntaram-me várias vezes enquanto eu fazia o filme: “E o outro lado, você não vai pôr? A direita, os inimigos?”. Eu falei: “Não, porque esse lado já falou por si, seja pela omissão, seja pelo assassinato, seja pela tortura, por tudo o que houve, pelos cartazes de ‘procura-se’, tudo foi dito. Eu não preciso ir atrás disso pra saber o que eles achavam. Preciso ir atrás de quem não tinha voz pra dizer o que achava”. Eu não quis ouvir o outro lado mesmo, de verdade. 

De herói a bandido, de bandido a herói 

Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 1911. Aos 18 anos, iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia. Tornou-se militante do Partido Comunista no mesmo ano. Foi preso pela primeira vez em 1932, após escrever um poema com críticas ao interventor Juracy Magalhães, e então novamente em 1936, quando foi torturado pelo chefe da polícia Filinto Müller durante o governo de Getúlio Vargas. 
Transferindo-se para São Paulo, Marighella passou a agir em torno do combate à ditadura imposta por Vargas. Em uma terceira prisão, em 1939, foi recolhido aos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande pelos seis anos seguintes, onde trabalhou com a educação cultural e política dos presidiários. Anistiado em 1945, participou do processo de redemocratização do país e reorganização do Partido Comunista na legalidade e foi eleito deputado federal pelo Estado da Bahia. 
A repressão do governo Dutra cassou o seu mandato e Marighella foi obrigado a voltar à clandestinidade em 1948. Nos anos 1950, exerceu militância ativa em São Paulo nas lutas armadas populares. 
Em 1964, Marighella enfrentou policiais do DOPS carioca, que o localizaram em um cinema no bairro da Tijuca. Confrontou os policiais com socos e gritos de protesto, recebendo um tiro à queima-roupa. Desligou-se do Partido Comunista em 1966, explicitando a disposição para lutar junto às massas. A partir de 1968, Marighella foi apontado como “Inimigo Público Número Um”, o que levou a sua morte, um ano depois, pelos agentes do DOPS sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury. 
Alguns meses antes de morrer, escreveu o Manual do Guerrilheiro Urbano, um dos seus textos mais famosos e que se tornou uma referência para grupos de combate e resistência na Europa, África e Meio Oriente. 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

GLORIOSA - A CAMISA ROSA DO BOTAFOGO

Fernanda Maia, a musa gandula do Botafogo.
O Botafogo de Futebol e Regatas está lançando sua nova estratégia de marketing, a camisa rosa do Botafogo, exclusivo para o público feminino, chamada de ‘Gloriosa’.
Após o fenômeno de vendas das camisas do Seedorf, o clube, apesar de não viver um bom momento no campeonato brasileiro, tenta emplacar com a novidade.
Alguns engraçadinhos, principalmente torcedores do clube que estão descontentes com o planejamento do Departamento de Futebol e com o técnico Oswaldo de Oliveira, estão pedindo o lançamento da camisa amarela, uma chacota alusiva ao atual estado de espírito da equipe.


A modelo Fernanda Maia, que viveu momentos de estrela como gandula do clube, faz a apresentação da camisa.


Esquecendo um pouco o pífio e até ingênuo planejamento do clube para a disputa do campeonato brasileiro, o Botafogo sai na frente de todos os outros clubes quando o assunto é marketing.
Se vai emplacar ou não, isso é outra história, mas que a camisa é bem feminina e bonita, não resta dúvida.