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sábado, 24 de novembro de 2012

SE OS COLÉGIOS TOP DO RANKING DO ENEM PODEM NÃO SER OS MELHORES, ENTÃO QUAIS SÃO?

Acreditar que escola com nota maior é melhor é ilusão 


Escolas que separam melhores alunos para garantir boa média no Enem são exemplo de como o resultado provoca impressões equivocas.


Divulgadas as notas médias por escola do Enem 2011 é importante que olhemos para esses índices da forma correta e façamos as avaliações de forma a colaborar com as políticas públicas que melhorem o ensino médio, sem entrar na fácil, e falsa, ilusão de que escola com nota maior é escola melhor. 

Em todas as pesquisas de educação, no Brasil e no mundo, que associam desempenho em provas com outras condições do aluno, fica claro que a condição socioeconômica é a principal influência no rendimento dos alunos (lembramos que condição socioeconômica não é somente renda). Da forma como a sociedade, em sua maioria, lê a nota do Enem, isso não é lavado em consideração, e o resultado é que todos saem com impressões equivocadas em relação aos números divulgados.

Há até uma tentativa do MEC de dizer que o ranqueamento feito quando da divulgação das notas do Enem não é culpa do governo, mas o MEC é o principal indutor e responsável pela forma como os dados são vistos. Na coletiva de imprensa sobre as notas de 2011, por exemplo, mesmo dizendo que os dados não podem ser ranqueados, que comparar escolas diferentes leva a conclusões equivocadas, foram apresentados slides com as 'melhores 30 escolas' em cada uma das quatro provas e na redação.
Toda essa confusão sobre o que é educação e sobre estratégias no processo pedagógico, que leva milhares de escolas do país todo a estampar em jornais, outdoors, sites e faixas o título de 'melhor escola da cidade', tem origem na dificuldade do MEC em explicar as notas do Enem para a sociedade, na contradição entre políticas públicas do ministério (no Enade, por exemplo, a nota considera a situação que a Faculdade estava e onde ela chegou) e na falta de transparência em relação ao Enem, já que não divulga dados da prova que sejam suficientes para a análise dos pesquisadores, dos jornalistas e da sociedade.
Essa avaliação influencia vários pais na escolha de escolas para seus filhos, e o erro do MEC leva a absurdos como aquele em que uma mesma escola, da Avenida Paulista, em São Paulo, teve o primeiro e, ao mesmo tempo, o 623º lugar no ranking de nota média dos alunos no Enem. E isso por que várias escolas, aquelas em que menos de 50% dos concluintes do ensino médio realizaram a prova, não tiveram sua nota divulgada. 
E como isso é possível? Simples. A escola, com cerca de 300 alunos no terceiro ano, separou juridicamente, depois do novo Enem, aqueles alunos que acertam mais questões em seus simulados, incluiu entre eles alguns que estudavam em algumas de suas franquias, distribuiu algumas bolsas de estudo e criou uma espécie de “tropa de elite”, com alta competência para acertar questões, e colocou esse grupo em uma sala separada. O material didático desse grupo (de 42 alunos) é o mesmo, os professores são os mesmos, as origens socioeconômicas são as mesmas, os intervalos de que participam são os mesmos, enfim, quase tudo igual aos demais 233 alunos que fizeram o terceiro ano desta escola. A diferença é que os que foram separados em uma nova escola, quase 'fictícia', acertaram, em média, aproximadamente 40 questões ema cada uma das 4 provas objetivas (cada prova do Enem tem 45 questões). 
Outro destaque é que 100% dos 42 alunos desta escola prestaram o Enem, coisa que só aconteceu em outras 94 escolas do País (entre mais de 20 mil) e em nenhuma outra da cidade de São Paulo. Já entre os outros 233 alunos, curiosamente, só 62% dos alunos fizeram o Enem, porcentagem natural para a elite paulistana, mais preocupada em conquistar uma vaga na USP ou em uma particular perto de casa. A escola que representam ficou na colocação 623, nacional, entre as maiores notas no Enem. Os alunos acertaram, aproximadamente, 35 questões de Ciências da Natureza, 30 de Humanas, 32 de Linguagens e 25 de Matemática. É algo entre 30 e 40 questões, em média, para a prova toda, de diferença entre um grupo e outro. 
A explicação de que a escola foi criada para abrigar alunos superdotados e com altas capacidades para participar de olimpíadas não se sustenta. Primeiro, se isso fosse verdade, era natural que a maioria deles preferisse entrar na USP, ainda tida como a melhor universidade pública do Brasil e bem mais próxima da casa deles. Para isso, os “'superdotados” não precisariam fazer a prova do Enem. Em segundo lugar, se imaginarmos que a nota média desta turma fosse uniforme, eles não teriam nenhum aluno reprovado, por exemplo, nas primeiras chamadas de Medicina das universidades brasileiras que utilizam somente o Enem como seleção. E, de alunos 'superdotados', espera-se que no mínimo passem no vestibular.
É claro que a nota não é distribuída de forma uniforme, que estes alunos têm alta competência para a resolução de provas objetivas, mas também é claro, com todos os dados à disposição, que a escola foi criada com o único objetivo, ou com o objetivo principal, de alcançar as maiores notas no Enem e de utilizar isso como divulgação da escola e de seu sistema de ensino.
O pior é que o caso paulista não é exceção. Ele virou regra. Pelo Brasil afora, escolas separam-se juridicamente para se tornarem a melhor colocada do em seus Estados, cidades e até mesmo bairro. E criam a ilusão de que, se um aluno for matriculado ali, terá desempenho igual aos da divulgação. Primeiro que é mentira, a matrícula de filhos nestas escolas não é garantia nenhuma de que terão alto desempenho em provas. Segundo que, no caso das escolas que separam os alunos, muito provavelmente um pai que procurar fazer uma matrícula na turma separada não terá seu filho aceito. Vai ter que contentar-se com a turma 'ao lado', com a mesma infraestrutura mas com desempenho bem abaixo. 
Obs.: Como referência para o número de acertos dos alunos, foi utilizada pesquisa desta coluna, relacionando acertos e notas no Enem 2011, com 120 alunos de todo país. Como a nota do Enem é dada ao caminho de cada estudante na prova (ao construto), em uma escala de desvio padrão 100, com média 500, a tabela, e os dados citados, serve somente como referência, não é possível chegar a números, de acertos, exatos. 


(Por IG, 23/11/2012, Mateus Prado Educador analisa o Enem, os vestibulares e o ensino brasileiro) 

É claro que o ranking das escolas que obtiveram altas notas no ENEM não representa, necessariamente, o título de melhor instituição de ensino. Existem muitas escolas que usam as provas do ENEM com o objetivo de promoção. Por isso investem em turmas especializadas, com os melhores alunos, com o fito de gabaritar a prova e elevar o nome da instituição de ensino. E para muitas, parece que o objetivo é só esse. 
Mas como identificar uma boa escola? As notas de um certame são, em princípio, uma boa dica, aliás, deveria ser uma das, não o único parâmetro. 
O MEC, como principal responsável pela qualidade do ensino no Brasil, deveria facilitar essa resposta. Entretanto não o faz porque existe uma ‘visão engessada’ de que um ensino bom e de qualidade é aquele experimentado pelos nossos pais e avós. Um ensino tradicional, muitas vezes pautado na memorização, e que hoje tem uma ferocidade assustadora ditado pela concorrência; é o ensino do resultado, da eficiência, muitas vezes restrito a uma minoria.
Um colégio é considerado de ponta se seu nome figura na lista dos 100 (cem) primeiros do Brasil. Faz um pouco de sentido pensar assim. Entretanto, talvez, não seja a forma mais realista.
Uma boa escola é aquela que forma para a vida e para a formação do indivíduo. Que tem bons professores, um bom material didático. Não precisar figurar no topo da lista, mas precisa preparar o ser humano para os desafios. A consequência disso? É o sucesso, natural e espontâneo. 

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