Grupo pede que repressão na USP durante ditadura seja investigada
Cerca de 200 pessoas participaram ontem de ato pedindo a criação de uma Comissão da Verdade da USP (Universidade de São Paulo).
A ideia é que, nos moldes da comissão federal, o grupo faça um relato sobre professores, alunos e funcionários que foram perseguidos ou colaboraram com a ditadura militar (1964-1985).
O ato, que aconteceu no pátio do Largo São Francisco, foi organizado pelo Fórum de Esquerda, grupo formado por alunos de direito.
O evento teve apoio de professores e do grupo Levante Popular, que recentemente fez os chamados "esculachos" em frente a casas de acusados de tortura.
Em abaixo-assinado, os manifestantes pedem que a comissão seja composta por membros eleitos pela comunidade acadêmica.
O desejo é que ela possa receber testemunhos, convocar pessoas e requisitar documentos da universidade.
Um relatório seria preparado e encaminhado para a Comissão da Verdade e para o Ministério Público.
"É preciso abrir a caixa de surpresas da USP durante o regime empresarial-militar", disse o professor aposentado Fábio Konder Comparato.
O grupo não sabe quem deve criar a comissão e quantos membros fariam parte dela. A reitoria da USP afirma que apoia "toda movimentação" em busca da verdade.
Outro objetivo do manifesto é a mudança do Regimento Disciplinar da USP, que foi editado em 1972. Foi com base na norma que a universidade expulsou seis estudantes que participaram de invasão da reitoria em 2010.
Segundo a reitoria, os representantes dos alunos homologaram mudanças do regimento feitas em 1990, após a aprovação da autonomia universitária.
MODELO
A professora Deisy Ventura, do Instituto de Relações Internacionais da USP, afirmou que a comissão poderia ser um modelo para outras instituições.
"A comissão serve para nós descobrimos algumas pessoas da USP que publicam livros sobre direitos humanos, mas que colaboraram com o regime militar", afirmou.
Um dos casos foi o do professor Luís da Gama e Silva (1913-1979), apontado como um dos redatores do Ato Institucional 5, que autorizava o fechando do Congresso.
(Por Folha. Com – 25/05/2012)
É legítima a busca de justiça por parte daqueles que foram perseguidos ou que tiveram parentes torturados e mortos pelo regime militar.
A única impressão que fica é que o país não está muito preocupado com a questão. Alguns até justificam as tortura e mortes como ossos do ofício da época, mas o fato é que essa desculpa está longe de ser aceita como verdade, pois em nenhum momento de nossa história, torturas e execuções foram admitidas em nossas Constituições.
A pressão para desvendar e apontar os assassinos da ditadura vem de um movimento internacional que já surtiu efeitos na Argentina e no Chile. Portanto, é um interesse que encontra muito mais apoio nos organismos internacionais de Direitos Humanos e nos movimentos contra-ditadura do que uma comoção nacional em busca da verdade e da justiça.
Se no presente, esclarecer a verdade, na procura de apontar e punir exemplarmente os bandidos de colarinho branco, como o Cachoeiragate, é tarefa quase inacreditável, o que dizer de fatos do passado que se escondem em ossadas, documentos mofados, e depoimentos caducos de velhos que sempre imporam seu autoritarismo.
A pressão, como disse, é legítima.
A criação da "Comissão da Verdade" na USP, talvez seja uma tentativa inicial de espalhar essa ideia por todo o país. Apontar para aqueles que tiveram participação na repressão na maior instituição universitária do país é o início de um movimento, mais amplo e mais compacto, que busca sim punir os verdadeiros responsáveis pela tortura e morte de centenas de pessoas.
A criação da "Comissão da Verdade" na USP, talvez seja uma tentativa inicial de espalhar essa ideia por todo o país. Apontar para aqueles que tiveram participação na repressão na maior instituição universitária do país é o início de um movimento, mais amplo e mais compacto, que busca sim punir os verdadeiros responsáveis pela tortura e morte de centenas de pessoas.
Infelizmente, o caso do Mensalão e o escândalo do Cachoeira são as pautas principais do momento, tanto para a opinião pública e, principalmente, para as disputas de poder da política.
Enquanto isso não for resolvido, assuntos como a “Comissão da Verdade” que vem para esclarecer os excessos cometidos pelos militares ficarão na penumbra, lançando ecos, ou melhor, sussurros.
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