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sábado, 7 de julho de 2012

NA FLIP, AS ATENÇÕES PARA JONATHAN FRANZEN

Estrela da Flip, Franzen diz que escritores "exageram sua própria desgraça" 


Apesar de ter começado com pequenos desencontros e uma lista de perguntas que a plateia não deveria fazer, a apresentação do americano Jonathan Franzen, uma das mais aguardadas da Flip 2012, acabou transcorrendo pacificamente na noite desta sexta (6). 
O início foi um tanto confuso: Franzen foi avisado de que leria um trecho de seu livro mais recente, "Liberdade", mas não havia exemplar disponível. "Esse é o primeiro problema que eu tive com qualquer coisa relacionada à Flip", disse, antes de elogiar o evento e a cidade. Também fez piada ao pegar um exemplar na plateia: "É um livro grande para trazer dos EUA". 
O jornalista e crítico literário Ángel Gurría-Quintana, mediador da mesa, começou apresentando o convidado e avisando ao público que ele não aceitaria quatro perguntas que já se cansou de responder: "Quais são as suas influências?", "Onde e a que horas você escreve?", "Você dirige os personagens ou eles dirigem você?" e "Sua ficção é autobiográfica?". 
Como piada, Gurría-Quintana fez a primeira das perguntas, antes de Franzen ler o início de "Liberdade" em ritmo acelerado. 
Na sequência, ele aproveitou uma pergunta que citava a célebre frase de Tolstói sobre as famílias infelizes para comentar sua visão sobre o ofício de escrever. 
"Se tudo está OK com a pessoa, porque você vai querer ler sobre ela? A lista de falhas morais dos escritores é longa e tendemos a exagerar nossa própria desgraça, nossa ansiedade. Exageramos tudo, porque a vida ordinária não é suficientemente interessante, então precisamos sair dela e inventar um mundo exagerado." 
Mais tarde, ele compararia sua profissão ao mito de Prometeu acorrentado, cujo fígado é consumido eternamente por uma águia. "A diferença é que não há águia, sou eu mesmo bicando meu próprio fígado diariamente. Você abre algo em si e fica se machucando diariamente, por vários anos. Eu provavelmente não precisaria de terapia se não estivesse tentando escrever." 

11 DE SETEMBRO 

Hesitante em algumas respostas, ocasionalmente ofegante e disperso ("Acordei às 6h hoje, fiquei a manhã toda observando pássaros, estou começando a soar tolo", disse, a certa altura), Franzen também tratou dos temas políticos presentes em suas obras, após o mediador lhe perguntar se "Liberdade" (2010) havia sido sua resposta ao 11 de Setembro. 
"O 11 de Setembro não foi um ataque terrorista, foi um ataque midiático e político baseado em um ataque terrorista. A cada cinco minutos nos diziam que o país havia mudado para sempre. Eu tinha essa bronca contra a politização e a midiatização do 11 de Setembro. Demorei tanto tempo para lançar esse romance para que ninguém mais esperasse que eu fosse escrever sobre o assunto." 
Segundo o autor, o processo de criação de "Liberdade" foi "uma zona completa". "Seis meses antes de terminar eu estava tentando escrever um romance inteiramente baseado em documentos encontrados, mas isso não funcionou." 

LITERATURA COMO ENTRETENIMENTO 

Ao falar sobre a necessidade de a literatura entreter e atrair o leitor, Franzen elogiou escritores brasileiros contemporâneos. 
"Vivemos em tempos de distrações, como você atrai e mantém a atenção das pessoas? Com uma narrativa convincente, e os autores brasileiros contemporâneos que eu tenho lido parecem entender isso. Estou falando de [Bernardo] Carvalho, [Chico] Buarque e [Milton] Hatoum." 
Notando que sua lista de autores nacionais era estritamente masculina, ele disse estar "aceitando sugestões de boas autoras brasileiras". "Comentem comigo na fila de autógrafos, por favor, e da próxima vez não vou citar só homens." 
Voltando a falar sobre sua profissão, expandiu seu raciocínio sobre literatura como entretenimento. 
"A verdadeira função de um romance sério hoje não é meramente entreter, mas usar a capacidade de entreter e absorver o leitor para preservar a possibilidade da individualidade, do livre-arbítrio. E essas duas coisas são fundamentais para o que uma pessoa é." 
Antes de encerrar, despediu-se em tom bem-humorado: "Esse foi o sermão desta noite, vocês foram uma plateia muito gentil, obrigado". 

(Por Folha.com 06/07/2012) 

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