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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Espaço Ponto de Vista: A Lei das Palmadas



O Presidente Lula enviou, no dia 14 de julho, ao Congresso Nacional, o projeto de lei que visa coibir os castigos corporais aos menores de idade, assim, palmadas e beliscões serão tratados como agressão à criança e ao adolescente e terão redação particular no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O assunto, é claro, está causando polêmica, pois muitos estão se perguntando se, depois de votada e aprovada, a lei terá como característica principal a interferência direta na educação do seio familiar brasileiro. Nas palavras de nosso Presidente, “Os críticos vão dizer que estamos tentando impedir que os pais eduquem seus filhos. Ninguém quer proibir que uma mãe seja mãe nem que um pai seja pai. O que queremos é mostrar que é possível fazer as coisas de uma forma diferente"... “Todo mundo sabe que na época da palmatória não se educava melhor que na época do diálogo.”
Logo de cara, num momento tão conturbado e recheado de acontecimentos muitos mais importantes, se preocupar com as palmadas dos pais, acho, eu, uma tremenda falta do que fazer.
Antes da morte do menino Wesley, num CIEP em Costa Barros, a sociedade carioca via perplexa as diversas reportagens a respeito das agressões de alunos a professores nas escolas públicas. Isso é um problema muito sério, por sinal muito sensível, pois como lidar com esse tipo de situação que já há muito tempo vem ocorrendo em nossas escolas? Como tratar e separar o aluno impulsivo do aluno delinqüente? Será que nossos professores são os únicos culpados nessa interação? Isso sim é uma questão a ser debatida e discutida para que medidas sérias sejam implementadas, visando coibir e reduzir esse triste comportamento. É bom lembrar também que estamos em pleno ano eleitoral e nosso presidente deveria estar muito mais preocupado com questões mais sérias, como, por exemplo, os projetos que seu futuro candidato, Dilma Rousseff, irá defender para vencer a batalha eleitoral. Mas é bom deixar pra lá esses problemas, pois no fim, tudo se resolve. O problema mais importante do momento são as palmadas que os pais não podem mais dar nos seus filhos, ou melhor, os pais deverão pensar duas vezes antes de aplicar o extremo corretivo.
Ainda sobre o polêmico tema, a criança quando é malcriada e desobediente é assim por puro reflexo do comportamento dos pais; seja no mimo demasiado ou no mau costume dar tudo sem cobrar nada em troca. Por outro lado, se no seio familiar o diálogo for imperante ao ponto de vencer a TV e a internet, parabéns! Assim, os pais podem se vangloriar que estão com a faca e o queijo nas mãos, mas todo mundo sabe que um dos grandes problemas familiares, hoje em dia, que suscita estudos profundos de nossos psicólogos e também pedagogos, é a falta de diálogo que muito solapa o convívio familiar.
Na minha família, por exemplo, e acredito que em muitas neste país, o diálogo não prevaleceu ao ponto de corrigir por si só o mau comportamento, mas nas famílias que ainda preservam uma base sólida de coesão familiar, o diálogo é facilmente substituído pelo exemplo, isto é, pelo comportamento de boa conduta dos pais. Por sinal, durante a minha infância, lembro-me muito bem das muitas surras que levei da minha mãe e do meu pai, e isso nada prejudicou a minha formação, a minha educação familiar, aliás, acho que ajudou e muito. Os motivos das surras eu sabia muito bem e, talvez, pelos bons exemplos dos meus pais tinha a consciência de que aquilo que eu tinha feito não estava certo. Portanto, tapas, beliscões, palmadas – sem a intenção do espancamento e dos maus tratos – fazem parte do último recurso dos pais para frearem os impulsos dos seus filhos. E isso é perfeitamente normal.
Na família de nosso presidente, o diálogo foi sempre o salvador da ordem familiar, portanto, o presidente Lula é um homem privilegiado, pois vem de uma família que certamente é uma das poucas exceções existentes no Brasil, visto que seus pais criaram os seus muitos filhos sem levantar a mão uma única vez, mas, talvez, o tom de voz tenha sido levantado várias vezes. Quem é que conhece melhor um filho se não um pai ou uma mãe? Por isso mesmo acho uma extrema tolice essa lei que trata desse tipo de comportamento, mas é claro que não estou aqui concordando com o espancamento, isso é crime já consolidado no ECA, é outra história.
Quanto à lei da palmatória em si, como será aplicada? Ou melhor, como será fiscalizada? Será que o nosso presidente vai criar um órgão que seja responsável pela fiscalização das peles das crianças dentro de casa, para conferir se há ou não manchas que denunciem algum beslicão...?
Brincadeiras a parte, acho que a lei da palmada será mais uma lei posta no papel que será inócua, mas acredito, por outro lado, que reacenderá o debate de pais e educadores a respeito da educação de nossas crianças.

- Por Franco Aldo, Rio, 29 de julho de 2010 -

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