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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Espaço Ponto de Vista: Mais uma Vítima de nossa secular selvageria



Na triste sexta-feira do dia 16 de julho, o menino Wesley Guilber de Andrade que assistia a uma aula de matemática, dentro de sala de aula no CIEP Rubens Gomes, em Costa Barros, foi estupidamente assassinado por uma bala perdida.
No sábado, dia 17, estava eu diante do computador, já escrevendo as primeiras linhas deste triste e vergonhoso episódio, quando decidi deixar as coisas se amainarem para poder tecer um ponto de vista sem o uso predominante da emoção..., mas me arrependi. O arrependimento foi mais por sentir que tudo aqui no Brasil se perde com o decorrer do tempo, ou melhor, o combustível, a vontade de mudar se enfraquece com o passar das horas e parece que muita coisa perde o seu sentido, isto é, a sua gravidade depois que outra notícia toma a atenção da opinião pública. Antes, os holofotes da impressa estavam voltados exclusivamente para o caso do goleiro Bruno, depois veio o episódio de Wesley, e agora, o atropelamento e morte do músico Rafael Mascarenhas que é melhor ser identificado apenas como o filho de Cissa Guimarães, pois aqui os títulos de nobreza ainda não acabaram. A idéia do “você sabe com quem está falando” ainda toma conta do nosso inconsciente... Infelizmente ainda reflexos da casa grande e da senzala.
Deixando de lado o nosso inconsciente e voltando para o caso Wesley, mais uma vez o Estado provou a sua incompetência no que diz respeito à segurança pública. E quando eu aludo a Estado, estou me referindo aos governos da esfera federal, estadual e municipal, pois todos eles têm uma grande parcela na responsabilidade do caso.
O assassinato do menino Wesley – prefiro o termo assassinato à morte, pois a criança foi executada por culpa do Estado – não foi a primeira e infelizmente não será, pelo menos em curto prazo, o último. Lembremos o caso do menino João Hélio, brutalmente assassinado no dia 7 de fevereiro de 2007, vítima de assalto; a criança ficou presa, pelo lado de fora, ao cinto de segurança de seu próprio carro e foi arrastada pelas ruas do Rio ao ponto de ter todo o seu corpo destroçado. Uma barbárie que teve também como vilão a omissão do Estado em promover a segurança dos seus cidadãos.
A diferença na morte de Wesley e na morte de João Hélio reside na responsabilidade direta do Estado naquela e na responsabilidade indireta nesta. A responsabilidade direta está no fato de que foi o Estado, através de seu menoscabado aparelho chamado Polícia Militar, o responsável direto nas ações contra os bandidos da região, culminando na sua omissão de promover a premissa básica de toda e qualquer manobra militar, a segurança da população. Outro dia escutava atentamente num botequim aqui perto de casa o debate de duas pessoas a respeito do caso e uma das pessoas disse que “quando se tem bala perdida, o povo diz logo que o tiro veio da polícia, nunca os bandidos tem culpa”. A questão aqui é que sempre que houver tiroteio entre bandidos e polícia, culminando com morte por bala perdida, o Estado, ou melhor, o aparelho polícia será sempre responsabilizado, pois é de sua responsabilidade dar, em primeiro lugar, segurança para as pessoas de bem, ou seja, o cidadão. No caso do menino Wesley a responsabilidade ainda é maior, pois o tiro de fuzil parece ter saído mesmo do armamento da polícia.
Quanto à responsabilidade indireta no caso de João Hélio, não é muito difícil percebermos que em muitos pontos do Rio carecem de um melhor policiamento. Foi o que ocorreu nesse caso, os bandidos fizeram tudo de mais terrível que possa existir em termos de crueldade e não apareceu um defensor da lei para salvar o pobre menino. A comoção por todo o Brasil foi muito grande e apesar disso, o que foi feito para que tragédias como essa possam ser evitadas??
Para encerrar, a nossa sociedade está cada vez mais sendo consumida pelas chamas do inferno, pois os nossos defensores da lei estão cada vez mais voltados para “o outro lado”, que digam os militares envolvidos no caso da morte de Rafael Mascarenhas, pois quando todo mundo achava que existia apenas um vilão nessa história, o estudante Rafael Bussamra, surgem os policiais militares sendo acusados de receberem propina por liberarem o carro do assassino. Isso é demais!!
Que Wesley, João Hélio, Rafael Mascarenhas e muitas outras vítimas da incompetência do Estado estejam num plano bem melhor que o nosso; repleto de paz e seriedade. Vamos esperar que pelo menos a idéia da Copa e das Olimpíadas seja motivo para melhorarmos definitivamente a nossa segurança e reduzirmos a nossa selvageria.

- Por Franco Aldo, Rio, 26 de julho de 2010 -

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