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sexta-feira, 16 de março de 2012

GARRINCHA, "ALEGRIA DO POVO" - Na Visão de NELSON RODRIGUES


As palavras de Nelson Rodrigues levam o leitor a delirar de saudades de uma época mística e romântica do futebol. Uma período de ouro que pra muita gente, nos dias de hoje, foi quase uma lenda. Os mais jovens e incrédulos duvidam, os mais velhos e sentimentais suspiram.
Ao falar do balé de Manuel dos Santos, mais conhecido como Mané Garrincha, Nelson propôs traduzir em palavras algo inefável, que contrariava todas as leis da natureza: os dribles desconcertantes de uma lenda do futebol, de um homem que não parecia ser homem, apenas algo sobrenatural.
Mas, a lógica pregou uma peça nos mais céticos, a natureza aprontou das suas ao presentear um brasileiro de origem indígena, completamente torto e semi-analfabeto, com a maior dádiva que o futebol pode oferecer: a magia dos dribles.
Nelson compara Garrincha a Chaplin, como num balé: O palco, o gramado do Maracanã; o ator, um brasileiro de uma cidadezinha de nome maroto “Pau Grande”; o público, o povo; a música, o ballet, no seu melhor estilo.


Vocês se lembram de Charlie Chaplin, em Luzes da ribalta, fazendo o número das pulgas amestradas? Pois bem, Mané deu-nos um alto momento chapliniano. E o efeito foi uma bomba. Na primeira bola que recebeu, já o povo começou a rir. Aí é que está o milagre: — o povo ria antes da jogada, da graça, da pirueta. Ria adivinhando que Garrincha ia fazer a sua grande ária, como na ópera.
Como se sabe, só o jogador medíocre faz futebol de primeira. O craque, o virtuose, o estilista, prende a bola. Sim, ele cultiva a bola como uma orquídea de luxo. Foi uma das jogadas mais histriônicas de toda a vida de Mané. Primeiro, pulou por cima da bola. Fez que ia mas não foi. Pula pra lá, pra cá, com a delirante agilidade de 58. Lá estava a bola, imóvel, impassível, submissa ao gênio. E Garrincha só faltou plantar bananeiras.
Esse rapaz da Raiz da Serra compensou-nos de todas as nossas humilhações pessoais e coletivas. Vocês sabem que, do nosso lábio, sempre pendeu a baba elástica e bovina da humildade. Em 58, ou 62, o mais indigente dos brasileiros pôde tecer a sua fantasia de onipotência. E, por tudo isso, as multidões, sem que ninguém pedisse, e sem que ninguém lembrasse, as massas derrubaram os portões. E ofereceram a Mané Garrincha uma festa de amor, como não houve igual, nunca, assim na terra como no céu.


Melhor que as palavras são as imagens:


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