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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Espaço Ponto de Vista: MEC envia às escolas públicas livro que narra estupro


Todos os dias faço uma rápida passagem pelos principais sites de notícias para ficar ciente dos principais problemas de nossa sociedade e do mundo. Hoje, quinta-feira, uma notícia me chamou a atenção; ‘MEC envia a escolas publicas livro que narra estupro’, exposta na Folha.com. O nome do livro é ‘Teresa, que esperava as uvas’, de Monique Revillion.
Como educador, caí em reflexão a respeito do possível problema. E surgiu a grande pergunta: Há algum problema em se trabalhar com relatos de violência em livros escolares?
Eu sinceramente não li o livro e segundo os responsáveis (governo e autora), o relato de violência serve para que os alunos reflitam sobre a violência de nossa sociedade. Segundo o site, as cenas de violência estão presentes no conto "Os Primeiros que Chegaram", que narra, do ponto de vista da criminosa, um sequestro cometido por um casal. As vítimas são torturadas. Há frases como "arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes" e "[Zonha, o criminoso] deu um tiro no olho dele. [...] Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça."
Como professor, afirmo que a questão é muito complicada. Esse problema se parece um pouco com as cenas de violência e nudez gratuita das famigeradas novelas e que são transmitidas e assistidas por adultos e crianças. Pelos trechos do livro, exposto acima, volto a afirmar que o problema é bem mais sério, pois o tema violência é muito traumatizante em nossa sociedade. O nosso país é um dos mais violentos do mundo e isso significa que não há necessidade de se trabalhar com relatos de violência em nossos livros didáticos, se a cada esquina ela está bem presente.
Acho uma grande falácia essa coisa de mostrar algo que já está visível em nosso meio, como por exemplo, o comportamento homossexual, o estuprador, o assassino, a prostituta para que a sociedade reflita a respeito, mas não quero, também, mascarar a realidade; mostrar apenas coisas belas em detrimento dos reais problemas. O problema aqui é a violência gratuita. No Romantismo, por exemplo, uma cena de sexo não admitia os pormenores do ato, e mesmo assim causava a mesma catarse. Já no Realismo, os pormenores são essenciais, já que esta última escola representava muito mais uma espécie de perseguição política e comportamental. Voltando ao problema, pra mim, o educador que escolheu esse livro para ser trabalhado em sala de aula se esqueceu de uma coisa importante: não adianta nada você trazer pra sala de aula uma possível realidade assustadora, com palavras chulas e violentas se o educador e os alunos não estiverem preparados e conscientes do que estão fazendo. Eu ficaria bem tranqüilo se o nível de nossa educação já estivesse num patamar de primeiro mundo, aí, talvez, esse tipo de material não ameaçasse tanto o comportamento de nossos jovens.
Não sei se fui compreendido. Não estou querendo dizer que depois desse livro as crianças vão sair por ai tentando estuprar umas as outras, mas só acho que esse tipo de material foi escolhido por outras questões – apadrinhamento, descuido dos educadores, com outros propósitos maléficos – mas menos com o objetivo de reflexão.
Por que se trabalhar a violência com palavras tão chulas e assustadoras? Os nossos jornais estampam todos os dias notícias de crimes dos mais diversos, publicam imagens das mais terríveis que não precisam de palavras para serem bem compreendidas, portanto os nossos alunos não precisam de mais violência, principalmente as vindas do governo – para refletirem sobre a realidade. O que todos nós queremos é que o governo nos atenda com cultura ou, então, nos dê o caminho de como conquistá-la, pois nada nesse mundo vem de graça.
Que frases como essas, "arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes" e "[Zonha, o criminoso] deu um tiro no olho dele. [...] Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça.", fiquem apenas nesse livro para que os interessados comprem. Nossos alunos não precisam desse tipo vocabulário e muito menos dessa atmosfera já traumatizante do dia-a-dia.

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