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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cinegrafista Morre em Favela do Rio - Estado e PM são responsáveis?

Após morte de cinegrafista, favela continua ocupada pela PM

Ao menos um fuzil AR-15 foi apreendido após a morte do repórter cinematográfico da TV Bandeirantes Gelson Domingos da Silva, 46, na favela de Antares, em Campo Grande, zona oeste do Rio. Domingos foi assassinado na manhã de domingo (6) com um tiro de fuzil supostamente disparado por um traficante durante confronto com a Polícia Militar.
A operação policial terminou na noite de domingo, com quatros suspeitos mortos e nove presos. Além do fuzil, a polícia apreendeu três pistolas, quatro carregadores de fuzil, três carregadores de pistola, cinco rádios transmissores, 2.000 papelotes de cocaína, 100 pedras de crack, 13 frascos de lança-perfume (loló), 1.500 porções de maconha, 10 motos, um celular e R$ 3.154.
O objetivo da ação era checar informações da área de Inteligência do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Choque de que líderes do tráfico fortemente armados se reuniam no local. No entanto, apenas o suspeito Renato José Soares, conhecido como "BBC", apontado como gerente do tráfico, estava entre os presos.
Não foi registrado tiroteio na região na madrugada desta segunda-feira. No início da manhã, homens do Bope, do Batalhão de Choque e do 2º CPA (Comando de Policiamento de Área) reforçaram o policiamento na favela.
O corpo do cinegrafista Gelson Domingos será enterrado nesta segunda-feira no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, zona portuária do Rio. A cerimônia está marcada para as 15h.
De acordo com o Grupo Bandeirantes, que lamentou a morte do funcionário, Silva deixa três filhos, dois netos e esposa.
Antes de trabalhar para a Band, ele tinha passado por outras emissoras, como SBT e Record. Integrava a equipe da TV Brasil havia dez anos, e na emissora estatal conquistou um Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com o trabalho "Pistolagem", sobre assassinatos na região Nordeste. Nos últimos dois meses, conciliava a estatal com a TV Band, no programa "Brasil Urgente Rio".
Segundo a empresa, "sempre foi reconhecido pela experiência e cautela no trabalho que exercia". "O Grupo Bandeirantes se solidariza com a família e está prestando toda a assistência", diz a nota.

(Por DIANA BRITO – Folha. Com - 07/11/2011 - 10h21)

A favela de Antares, em Santa Cruz, é considerada uma das mais violentas do Rio de Janeiro. A história de descaso e abandono pelo poder legal nessa região ultrapassa décadas, e a violência sempre foi sua marca maior.
Antares fica localizada em Santa Cruz, um longíquo bairro do Rio de Janeiro. Longe dos prazeres que o Rio oferece, Santa Cruz é um bairro rural, mas que possui, hoje, muitas indústrias, além de um forte comércio.
O conjunto habitacional de Antares foi construído na periferia de Santa Cruz entre os anos 70 e 80, junto com outros conjuntos como o Otacílio Camará (Cezarão), Olímpio dos Santos (Urucânia) e João XXIII.
Nesses conjuntos, a violência sempre foi fator preponderante. Ainda me lembro dum episódio ocorrido há uns 15 anos, talvez menos, não me recordo, num confronto entre bandidos que tentavam tomar o ponto de vendas das drogas em Antares. Foi numa praça do bairro que uma verdadeira cena de filme de terror deu bom dia aos moradores, ao raiar do sol. A praça estava repleta de cadáveres, uns decepados, outros totalmente massacrados por tiros. Os corpos foram dispostos nos bancos, nos brinquedos do playground em todo lugar. Uma cena chocante que fez de Antares ser um lugar temido por todos, até pela polícia.
A morte do cinegrafista da Band, Gelson Domingos da Silva, 46 anos, põe em check algumas questões. A primeira diz respeito à responsabilidade da polícia militar na admissão da cobertura jornalística em confrontos com trocas de tiros, pois, hoje me dia, é comum equipes de reportagens acompanharem as operações policiais, seja no confronto com risco de tiroteio, seja na perseguição e captura de bandidos.
Até que ponto é viável a participação de jornalistas em operações policiais sem por em risco as suas próprias vidas?
É claro que quem entra com a polícia numa favela tem que estar preparado para o pior, mas de quem é a responsabilidade num caso fatal como o de Gelson? Da polícia? Da Band? É difícil apontarmos culpados, mas, talvez, a PM poderia ter sido um pouco mais prudente, quando permitiu a participação da equipe da Band tão próximo ao fogo cruzado. É um caso que tem que ser investigado.
A outra questão diz respeito à própria pocilga que se tornou o conjunto habitacional de Antares.
Os anos e anos de descaso do poder público transformaram o bairro num dos locais mais temidos do Rio de Janeiro. As respostas dos porquês de tudo isso podem ser encontrados na própria localização do bairro. Longe das grandes atrações turísticas do Rio, aliás, longe de tudo e de todos, o sentimento de pertencimento ao Rio de Janeiro passa longe para aqueles que vivem em Santa Cruz, principalmente em Antares.
‘Naturalmente’ o poder público tem muito mais preocupações em manter a ordem em locais mais próximos aos grandes pontos turísticos da cidade, geralmente locais muito mais valorizados, como a Zona Sul, parte da Zona Norte, Barra da Tijuca e outros pouquíssimos bairros do Rio de Janeiro. Os demais bairros, principalmente os localizados na Zona Oeste e Baixada Fluminense, ficam à deriva quando o assunto é segurança pública. Isso também é um fator que explica o surgimento das milícias, principalmente na Zona Oeste.
Antares é violento porque o estado permitiu ser violento. Lá, não mora artista da Globo. Turista que vem ao Rio nem sonha (ousa) pôr os pés por lá. Quem mora em Antares ganha mal, se veste mal, come mal, enfim... vive mal. Num grito de socorro, de lá, que interrompe o silêncio da noite, quem escutará? É claro que ninguém.
Teoricamente, Antares e Santa Cruz fazem parte do Rio de Janeiro... Mas apenas teoricamente.
A morte do cinegrafista da Band tem que ser investigada. Antares tem que ser tomado pelo poder legal constituído, e verdadeiros projetos de socialização devem ser implementados. É um lugar carente. Carece de tudo: de segurança, de saúde, de cultura... De amor.

(Por Franco Aldo – 07/11/2011 – às 12:18hs)

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