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domingo, 3 de julho de 2011

Singelas e Curtíssimas Reflexões sobre a Morte

Quem é que não pensa na morte? Acho que todos pensam nela, até os mais incrédulos das poesias religiosas e de suas benesses pensam na morte, mas não como uma espécie de continuidade da vida, aliás, para os religiosos, a morte é a passagem para a verdadeira vida, a vida eterna, e sim, como algo pertencente à própria vida.
Em outras palavras, a morte faz parte da vida, da única vida que temos, e só. São como as páginas de um livro que tem começo e fim. A vida tem um começo, o nascimento, e tem um fim, a morte. O problema a ser enfrentado é como a humanidade percebe e aceita esse fim.
Há alguns dias perdi um amigo de trabalho e, pelo que me informaram, a causa mortis foi infarto. Fiquei abismado e pensativo porque ele fora embora tão cedo, pois tinha lá os seus 40 anos e muita vida pela frente. A minha perplexidade é a mesma de muitos que se deparam com a morte, como se ela escolhesse apenas os mais velhos, e, de preferência, de outra família, nunca as pessoas que nos rodeiam.
Essa relação de medo e pavor da morte é associado ao que pouco conhecemos sobre ela, a morte física, e ao que nunca conheceremos, o seu verdadeiro sentido.
Um corpo desfigurado e inchado choca, e traumatiza mais ainda quando esse corpo é de alguém querido que conhecemos durante a vida. Portanto, um corpo sem vida é para nós a personificação da morte. A aparência física é a única coisa que sabemos cientificamente sobre a morte, acrescenta-se a isso, também, o fato de que nunca saberemos exatamente o que significa a morte e se existe o depois. “A morte é um mistério. Por isso, falamos tanto nela. Os homens falam mais do que menos conhecem. E assim como falam da morte, também falam do amor.” - Scarlett Marton.
Surge desse mistério a religião. A religião é fruto do pavor da morte, do pavor pelo desconhecido; um temor que faz gelar o mais céticos dos homens. É daí que surge o dispositivo que serve de conforto e de controle, a crença religiosa. Portanto, algo necessário e humanamente aceitável.
Sobre a morte, a religião põe um elemento nessa história que vem, cientificamente, a causar mais problemas do que possíveis soluções, a alma. Quando um corpo morre e dele constatamos que não existia nada dentro, além de um perfeito conjunto de órgãos responsáveis pela vida, o problema pode estar parcialmente resolvido. Mas quando se fala em alma, as coisas entram numa atmosfera que só a religião pode explicar, ou mesmo, fantasiar; e porque não?
A inclusão da alma no corpo não é exclusividade do cristianismo. Os Egípcios, os Babilônicos, os Astecas e muitos outros povos e civilizações antigos consideravam a alma como uma dádiva que poderia alcançar o status de divindade. O cristianismo veio apenas a fortificar essa idéia, mas não como uma alma superior, fortalecida pelos dons alcançados quando em vida, mas como uma alma submissa, fruto de um comportamento subserviente; o estereótipo da inércia, do comodismo. Assim, a alma alcançará a tão sonhada vida eterna (“se a mortalidade da alma pode ser terrível, não menos terrível pode ser a sua imortalidade” – UNAMUNO). É a identidade do cristão.
Nessa junção, alma e corpo, ficamos a ver navios quando se fala em morte. De um lado, temos o conhecimento científico, limitado ao que pouco se conhece, a medonha imagem da morte física e da morte do ‘eu’. E de outro, a religião com suas abstrações e eu seu conceito de alma que para muitos é um conforto, até porque revela um pensamento de infinitude, uma forma polida de se não pensar no próprio fim. É a negação da finitude e a soberba do eu nos mistérios da vida.
Enfim, seja como for, quando o assunto for a morte e seus mistérios, ciência e a religião não se excluem; uma começa quando a outra ainda não consegue explicar. Mas o certo é que a morte leva qualquer um a qualquer hora, de qualquer idade e sexo, basta apenas estarmos vivos e torcer para que a roleta russa da vida não nos premie prematuramente como bolas da vez. E isso é muito gozado, pois sabemos que todos partiremos, mas ninguém quer por livre espontânea vontade, numa linda tarde de verão, conhecer o outro lado. Tudo isso é o mistério da morte, pois mesmo com a religião, o seu temor é unânime e perfeitamente humano, compreensível.
Talvez a melhor forma de vivermos a vida seja não pensarmos na morte, até porque, não estamos preparados para concebê-la, se é que algum dia estaremos. “Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela” – Sêneca.
Para findar esse assunto sem fim, segundo Epicurio, “a morte não nos diz respeito, porque, quando aí estamos, ela não se apresenta e, quando se faz presente, nos já não estamos mais.”
Brindemos à vida.

(Por Franco Aldo – 03/07/2011 – às 12:05hs)

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