O fim do ano se aproxima e para os estudantes a preocupação fica por conta da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que tem data marcada – já confirmada pelo MEC – para o mês de novembro de 2010.
No ano passado, a grande surpresa do ENEM foi a excelente colocação das escolas privadas do Piauí. Destaque para os quatro melhores colégios de Teresina que ficaram entre as 26 (vinte e seis) melhores instituições de ensino do país. O primeiro foi o Instituto Dom Barreto que ficou em 3º lugar, seguido pelo Instituto Antoine Lavoisier de Ensino (13º), pelo Educandário Santa Maria Goretti (19º) e pelo Colégio Lerote que ficou com a vigésima sexta colocação. Apesar da diferença de posições, entre o 3º e o 26º, apenas 27,54 pontos os separam nas notas dos alunos no Enem 2009. Como explicar tamanho sucesso?
O fato não deixa de ser espantoso, pois muitas questões estão envoltas no assunto, principalmente quando se trata de ensino no Brasil. Por mais espantoso que seja, não devemos nos esquecer que o comentário aqui se refere ao ensino privado, portanto o ensino público está longe de proporcionar tamanha façanha. Mesmo assim, o assunto é bem interessante, pois o que se está em voga é como um Estado pobre e sem expressão nacional conseguiu fazer com que seus alunos alcançassem o topo da educação nacional? Talvez as respostas possam ser uma pequena parte da solução para os problemas do ensino público, mas isso é coisa mais complexa. O fato é que a educação do Piauí está entre as melhores do Brasil e, talvez, o primeiro fator motivante seja a consciência dos alunos em mudar a imagem do Estado perante o cenário nacional, por sinal, uma forma de pensamento muito nobre, às vezes, inacreditável, quando se trata de educação e Brasil.
Além disso, segundo reportagens recentes, existe uma espécie de competição entre os colégios. Um colégio querendo ser melhor que o outro. Acho muito bom esse tipo de comportamento, desde que, seja apenas uma competição sadia que tenha por objetivo alcançar um alto grau de aprendizagem e proporcionar aos estudantes as oportunidades que fazem jus.
Outro fator do sucesso das escolas de Teresina é a elevada carga horária, entre seis horas e meia a sete horas por dia. Não sei por que me lembrei dos CIEPs aqui no Rio de Janeiro, pois na idéia original do saudoso Darcy Ribeiro, as crianças entravam às oito, tomavam café, e saiam, se bem me recordo, às dezessete, de banho tomado após a janta. Infelizmente uma idéia que tinha tudo pra dar certo, mas que por razões políticas, não teve a continuação que deveria ter. Bem, deixando pra lá os Brizolões e voltando ao Piauí, a idéia da carga horária elevada é bem interessante, desde que os alunos estejam dispostos a enfrentá-la.
Diante do descrito, o sucesso do Estado do Piauí deve-se, em primeiro plano, a três combinações essenciais: à vontade de mudar a imagem do Estado, à concorrência com as outras escolas e o mais importante, à vontade conjunta de alunos, professores, diretores e pais. Portanto, o fator preponderante que tem feito o Estado do Piauí se destacar no exame do ensino médio é a vontade dos alunos, dos professores, diretores e dos pais em melhorar a educação no Estado. Acho que é justamente isso que falta em nosso ensino público, pois o que mais se denota é a falta de interesse do Estado, de professores, de pais e, principalmente dos alunos. Assim, fazer do ensino público um ensino de excelência não envolve apenas a participação do Estado, mas sim a participação de todos, e acho que a ponta da linha – os alunos e os pais – tem uma responsabilidade maior na busca de uma melhor qualidade no nosso ensino. É claro que o assunto não é fácil, quando se fala em educação pública. É muito mais fácil resolver o problema do ensino brasileiro no âmbito privado, pois envolve interesses claros e convergentes, mas mesmo assim, acredito que com uma política pública séria, o ensino público do Brasil, algum dia, terá os reflexos do que existe hoje no ensino privado do Piauí.
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