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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Espaço Literatura: José Saramago

Quando foi anunciada a morte do escritor português José Saramago, em 18 de junho de 2010, a minha reação foi de uma profunda perplexidade interior, misturado a uma passividade letárgica. Foi-se embora um dos grandes nomes da literatura portuguesa, não apenas de Portugal, mas do Brasil, de Cabo Verde, de Angola, de Guiné-Bissau, de Moçambique, e aí por diante, pois em quase todas as suas obras, a história dos grandes feitos portugueses – e aqui se inclui todos os países de língua portuguesa – se misturam as de seus heróis, embebidos numa ferrenha crítica à Igreja Católica, além de ter sido um fiel defensor da língua portuguesa; não aceitava escrever em inglês para agradar ‘a’ ou ‘b’.
Considero-me admirador de Saramago e suas obras, mas admito que não o conhecia profundamente, pois acredito que para se ter uma idéia de quem foi José Saramago não basta apenas ter lido todos os seus grandes livros, isso apenas não basta; falta algo, e esse algo não vem do escritor e suas obras, mas sim do espírito livre do receptor, isto é, do próprio leitor.
Saramago escreveu de tudo: romances, ensaios, teatro, contos, poemas, crônicas, mas foram nos seus romances que o escritor conseguiu se destacar e ser contemplado, em 1998, com o Prêmio Nobel de Literatura. Seus romances foram:Terra do Pecado, 1947, Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, Todos os Nomes, 1997, A Caverna, 2000, O Homem Duplicado, 2002, Ensaio Sobre a Lucidez, 2004, As Intermitências da Morte, 2005, A Viagem do Elefante, 2008, Caim, 2009.
O estilo de escrever de Saramago sempre foi a sua marca. Não precisava de todos os sinais de pontuação para se fazer compreender, apenas utilizava do ponto e da vírgula, nada mais; além de utilizar um parágrafo único para cada capítulo de seus livros. Segundo o escritor, numa entrevista concedida aqui no Brasil, comparou a sua forma de escrever com os sinais de trânsito, pois para uma boa direção, não é necessário a observância de todos os sinais da rodovia, basta apenas se preocupar em não colidir com os demais veículos.
Dos romances do escritor, li apenas sete deles, mas o suficiente para se ter uma – mesmo que pálida – idéia da importância de suas obras na literatura do hoje.
‘Ensaio sobre a Cegueira’, de 1995, talvez seja a sua obra mais conhecida, principalmente para o leigo, pois foi transformado em um longametragem, em 2008, sob direção de Fernando Meirelles, numa parceria brasileira, japonesa e canadense. A obra tem por objetivo mostrar a natureza humana, do pior ao melhor comportamento, numa situação de extrema calamidade, a cegueira de todos. Um grande livro que põe em questão a religião, a filosofia e a própria vida. Vale a pena não só assistir ao filme, mas ler a obra de Saramago sem rancores nem influências estereotipadas.
Dos sete livros que li de Saramago, o único que até hoje não tive a oportunidade – e me arrependo amargamente – e que se faz necessário para uma boa dimensão das intenções do autor foi o ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’, de 1991. O livro trata de uma visão humanizada de Jesus Cristo (daí a polêmica) e sua relação com seus adeptos da forma mais humanizada e carnal que possa existir, portanto foi uma obra muito importante na vida do autor.
Li ‘Caim’, de 2009, que trata da história do éden e de nossos primeiros ancestrais (Adão e Eva, Caim e Abel), mas numa visão moderna, isto é, numa relação como nos dias de hoje, mas surpreendente por se tratar de um assunto mágico e celestial.
Pra finalizar, a morte física de Saramago, aos 89 anos, foi um duro golpe para os seus fãs e para o cenário literário mundial. Saramago cumpriu muito bem a sua missão aqui entre nós – se é que existe destino certo – mas seria difícil imaginar outro ofício para o lusitano se não a de escritor.
Independente de qualquer credo ou religião, o pensamento de José Saramago continuará eternamente influenciando os leitores de todo o mundo e quem sabe, num futuro qualquer, saberemos quem foi realmente José Samarago e qual foi a sua proposta de visão de mundo.

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