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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Espaço Ponto de Vista: A Estréia de 'Tropa de Elite 2'

Em meio a um imenso esquema de segurança armado pelo diretor José Padilha, O DIA descobriu que a primeira cena do ansiosamente aguardado ‘Tropa de Elite 2’ é o atentado ao Coronel Nascimento, personagem de Wagner Moura. A sigilosa continuação do fenômeno do cinema, orçada em R$ 12 milhões — que só estreia no circuito em 8 de outubro (em 600 salas, o dobro do primeiro filme) —, se desdobra em um punhado de produtos relacionados ao sucesso de bilheteria, que já estão à disposição de quem quiser se antecipar.
No site do filme , há quatro dias já é possível customizar sua própria camiseta e desfilar de caveira por aí. O livro ‘Elite da Tropa 2’, que está conseguindo números expressivos de pré-venda, e o CD com a trilha saem no mesmo dia do filme. “Já vendemos cerca de mil livros. Parece pouco mas, para esse tipo de pré-venda online, é mais que o esperado”, festeja Alexandre Mathias, editor-executivo da Ediouro. “Nossa expectativa é grande, trata-se de uma obra de peso. Esperamos vender rapidinho a tiragem inicial de 60 mil exemplares”, prevê.

LIVRO NO COFRE

Mathias conta que é uma das pouquíssimas pessoas que já leram a história escrita a oito mãos pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, o delegado Cláudio Ferraz e os policiais André Batista e Rodrigo Pimentel. “Os originais ficaram restritos a quatro pessoas da editora. Tivemos um cuidado muito grande na manipulação desse conteúdo. Trabalhamos quase sempre apenas com material impresso, nada de e-mails, e a leitura era feita em locais com privacidade. Até quando foi para a gráfica, colocamos gente de nossa confiança vigiando, para que o livro não vazasse”.
Apesar do sucesso, Mathias acredita — e espera — que tamanha preocupação não vá se repetir. “Acho que não haverá um terceiro volume, não. Aliás, quero sinceramente que esse seja o último e que o assunto da violência seja tratado mais entre a sociedade. Que apareçam filmes com outras temáticas. Tenho projeto de lançar outro livro do Luiz (Eduardo Soares), mas não será um ‘Elite da Tropa 3’”, avisa.

- Por Leandro Souto Maior – Repórter de O Dia -

O que leva um filme como ‘Tropa de Elite’ atingir tanto sucesso aqui no Brasil?
A violência desenfreada, a ousadia de marginais de todos os níveis e classes sociais, bem como, a própria imagem do aparelho repressivo do Estado perante a opinião pública – a polícia –, podem ser alguns condimentos que fazem de ‘Tropa de Elite’ sucesso de bilheteria.
Mas esse sucesso, talvez, esteja relacionado com algo ainda mais invisível, pra não dizer inconsciente, que a sociedade não vê no dia-a-dia e que se sente satisfeita quando vê na grande tela. É o reflexo de uma profunda carência que tem como responsável as ações e omissões do Estado, portanto são reflexos de uma ausência de sede de justiça que se misturam a outros descasos sociais e que levam o cidadão comum a viver em um profundo estado de enfermidade.
Existem outros fatores, talvez até mais profundos e psicológicos, que levam milhares de pessoas a se interessarem por filmes que têm como fundamento a violência, e já não é de hoje que filmes desse tipo vêm se destacando no cenário cinematográfico nacional, vale lembrar ‘O Homem da Capa-Preta’, de 1986, e mais recentemente, ‘Carandiru’, de 2002, e ‘Cidade de Deus’, também de 2002.
É claro que não vi ainda a continuação de ‘Tropa de Elite 2’, mas o fulcro, a essência, imagino que deve ser o mesmo do primeiro.
Delirar e vibrar com as ações, quase sempre fora da órbita legal, do Capitão Nascimento, que em ‘Tropa de Elite 2’ é Coronel, é a forma de o oprimido vencer o descaso do poder legal constituído, como também a constatação moral de que o bem sempre vence o mal, portanto no filme do diretor José Padilha, a sociedade se sente vingada de suas principais opressões e também é protagonista de seu próprio destino.
Seja como for, filmes como ‘Tropa de Elite’ enaltecem muito mais uma carência social, através do herói proclamado – Capitão Nascimento –, mesmo que para isso a banalização da violência seja a sua viga mestra, isto é, o fulcro de condutas obscuras em que o Estado é o seu principal articulador. No fundo, no inconsciente das pessoas, é como se o Estado se munisse dos mesmos artifícios utilizados pelos bandidos para a propagação de sua força-legal, isto é, tratar a ilegalidade de forma ilegal, ou então, olho por olho, dente por dente.
Aguardarei com ansiedade pela estréia do longa-metragem e, também, com a curiosidade de constatar que o mundo violento descrito no filme é o mesmo ao qual eu pertenço.

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