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terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Essência da Legião Urbana

(Marcel ao lado do seu amigo, Dado Villa-Lobos)

Outro dia fiz uma pergunta ao Marcel sobre a Legião Urbana. Perguntei quais as três músicas, segundo ele, caracterizariam a essência da banda. É claro que a pergunta foi dificílima, pois cada um teria sua música favorita, até porque, poderíamos, aqui, apontar mais de 20 músicas da banda que poderiam perfeitamente simbolizar sua existência.
Mesmo assim quis saber a resposta e sinceramente não me lembro quais foram as músicas que o Marcel escolheu. Aliás, a única que me lembro foi ‘Faroeste Caboclo’, por sinal muito bem escolhida. Mas posso ousar aqui com o meu ponto de vista a respeito da banda. As minhas três músicas são: ‘Ainda é Cedo’, do primeiro álbum; ‘Tempo Perdido’, do Dois e ‘Pais e Filhos’ do quarto, poderia, ainda, colocar uma quarta música, 'Que País é Este', do terceiro disco.
Analisando os álbuns da Legião, é bem perceptível uma evolução de conduta e pensamento nas músicas, até por que, o cérebro, Renato Russo, clamava por algo, por transformação; um ser inquieto, a frente do seu tempo..., um poeta que não queria ser poeta, muito menos símbolo de uma geração, que renascia num mundo em plena transformação.
O primeiro álbum, intitulado apenas ‘Legião Urbana’, foi um disco com muitas influências do punk, tão compactuado pelos meninos de Brasília, foi lançado em 1985; temos como exemplo ‘Geração Coca-cola’, ‘Será’, ‘Ainda é Cedo’ e Baader-Meinhof-Blues. Um sucesso. Aliás, um estrondo. Nenhuma banda da época produziu músicas tão bem trabalhadas e tão ritmadas como o primeiro disco da Legião.

(O primeiro disco, 'Legião Urbana', lançado em 1985)

O segundo, ‘Dois’, foi a consagração, lançado em 1986. Lembro-me muito bem quando costumava caminhar pelo meu bairro, as casas, que ousavam tocar música alta, tocavam Legião. Hits como ‘Eduardo e Mônica’, ‘Faroeste caboclo’, ‘Tempo perdido’ e ‘Quase sem querer’ eram ouvidos exaustivamente em casa, nas rádios, nas festas de bairro, nas festas americanas, em todo o lugar. Nesse tempo era brega e pobre ouvir funk.

(O álbum 'Dois', a consagração, lançado em 1986)

Já o terceiro disco manteve a essência dos filhos da revolução. Em 1987, a Legião Urbana lançou o inesquecível ‘Que país é este’, um álbum de forte apelo político, mas ainda com os lampejos do movimento punk. Foi o disco de hits inesquecíveis como ‘Que país é este’, ‘Eu sei’, ‘Faroeste caboclo’ e ‘Angra dos Reis’. Nessa época, quando a Legião Urbana lançava um álbum novo de grande sucesso, a expectativa de todos ficava no próximo álbum, no próximo disco. Era como aquelas coisas muito gostosas que comemos, que quanto mais se tem, mais dá vontade de comer. Nessa altura, era impossível imaginar que a banda pudesse produzir um disco ruim.

('Que País é Este', de 1987)

O quarto disco, ‘As quatro estações’, lançado em 1989, colocou a Legião Urbana na eternidade. Não conheço outra banda de rock nacional nos fins dos anos 80 que tenha alcançado tanto esplendor poético, com músicas bem arranjadas e ritmos tão variados, ao ponto de cada música parecer ter vida própria, aliás, alma própria. Todas as faixas fizeram sucesso! As onze faixas eram tocadas exaustivamente em todos os lugares. Se ‘Há tempos’, hit que abriu os sucessos do álbum, já estava mais do que rodada nas rádios, então surgia ‘Pais e Filhos’ que foi uma espécie de terremoto poético, um sucesso espantoso. ‘Pais e Filhos’ consagrou o álbum e selou de vez à eternidade Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

('As Quatro Estações', a obra prima da Legião, lançado em 1989)

O quinto álbum, intitulado ‘V’, lançado em 1991, seguiu um pouco a essência do quarto, mas guardada as suas proporções. Hits como ‘Metal contra as nuvens’, ‘Vento no Litoral’ e ‘Teatro dos Vampiros’ lembravam um pouco aquilo que foi ‘As quatro estações’, mas nascia um pouco da melancolia que se faria presente nos últimos álbuns da banda. Apesar das letras não serem exclusividade de Renato Russo, sua melancolia pareceu ter contagiado os demais integrantes, aliás, Russo era o líder, portanto era ele quem ditava o ritmo, era ele a alma do grupo.

(O quinto álbum, 'V', de 1991. Início de uma melancolia)

O sexto disco foi lançado em 1993. ‘O descobrimento do Brasil’ é um disco muito bem produzido e com belas composições. Aqui, a melancolia de Renato Russo começa a ditar os novos horizontes da banda. Nada lembra a Legião dos três primeiros discos. Parece o álbum da consolidação de um amadurecimento que muitos rejeitavam, principalmente os fãs, mas, mesmo assim, o disco lançou belas músicas como ‘Perfeição’, ‘Os barcos’, ‘Vamos fazer um filme’ e ‘Giz’.

('Descobrimento do Brasil', lançado em 1993)


O sétimo disco, ‘A tempestade ou o livro dos dias’, foi o último lançado pelo grupo quando Renato Russo ainda estava vivo, em 1996. Se achávamos que depois de ‘As quatro estações’ a Legião Urbana estava descendo a ladeira da melancolia, perdemos a nossa dúvida com esse disco. ‘A via láctea’ é o exemplo da enfermidade do cantor. Todas faixas lembram sofrimento, dor, paixão não correspondida. A única música que lembra um pouco o início da banda é ‘Dezesseis’.

(O sétimo disco de estúdio da banda, 'A Tempestade ou O Livro dos Dias', de 1996)

‘Uma outra estação’ é o oitavo, e último, álbum de estúdio do grupo. Quando Renato morreu, já estava pronto, mas só fora lançado três meses depois de sua morte, em 1997. Foi um disco que vendeu mais pelo saudosismo do cantor do que pelas próprias músicas. Aliás, muitas músicas são desconhecidas, até hoje, por muita gente. Destaque para ‘Uma outra estação’, ‘Marcianos invadem a Terra’, ‘Comédia romântica’ e ‘A tempestade’. Quem conhece esse disco pode ser considerado fã número um da Legião Urbana.
Até hoje ouço os disco da Legião Urbana e é difícil não lembrar os anos 80, pois a banda respira anos 80. Foi um período em que a democracia brasileira estava engatinhando, pois acabávamos de soltar os grilhões do regime militar. A juventude transpirava agitação e rebeldia, o mundo inteiro ouvia, comia e bebia rock. Aqui o rock foi adaptado aos nossos anseios, ao nosso modo de ver e sentir o mundo. Foi nesse período que surgiu a maior banda de rock nacional de todos os tempos, a Legião Urbana.

(O último disco de estúdio da Legião. Lançado em 1997, três meses após a morte de Renato Russo)

(Por Franco Aldo – 02/08/2011 – às 22:12hs)

2 comentários:

  1. Bom, eu não tive o prazer de acompanhar tão bem assim essa banda....mas gosto muito das poucas musicas que conheço!

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  2. Pra quem viveu e acompanhou a trajetória da Legião Urbana é prazerozo comentar a seu respeito. Renato Russo e seus 'asseclas' eram diferentes; suas composições e músicas são da melhor qualidade, diferente de tudo que rolava na época.
    Você ainda vai se surpreender com músicas antigas que soarão como algo novo, inédito.

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