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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Triste Educação do Ciep João Goulart

Escola com Criança Esperança e Affroreggae é a pior do Rio no Ideb.

Projetos sociais, frequentes visitas de presidentes, UPP e PAC não fizeram diferença na educação de Ciep do Cantagalo, em Ipanema.

O Complexo Rubem Braga, no Morro do Cantagalo, em Ipanema, abriga o Espaço Criança Esperança, da Rede Globo, o AffroReggae, o projeto Dançando para não Dançar e o Ciep Presidente João Goulart, da Secretaria Municipal de Educação. Já visitaram o local, inúmeras vezes, o prefeito Eduardo Paes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidenta Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral. A primeira-dama da França, Carla Bruni já esteve no complexo, que recebe visitas diárias de turistas estrangeiros.
O conjunto de favelas Cantagalo/Pavão-Pavãozinho recebeu R$ 71 milhões em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), um elevador panorâmico que virou ponto turístico e uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), instalada em 2009.
Paradoxalmente, apesar da permanente atividade cultural, da estrutura, da projeção e da atenção política, a escola municipal de Ipanema foi a que teve pior desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre as 970 avaliadas da rede municipal do Rio, 1,8 nos anos finais do Ensino Fundamental. No ano anterior, a nota havia sido 3,7. Na Prova Rio, feita em 2010, o resultado também foi ruim: 3,6, deixando a João Goulart em 683º, ainda no pior terço das escolas municipais.
Nos anos iniciais do Ideb, resultado também decepcionante: é a segunda pior nota, 3,1, entre os colégios do município; no Ide-Rio (Índice de Desenvolvimento de Educação Rio), teve a 960ª posição, com 3,4.
“O espaço aqui é bom, a única coisa que estraga é a escola. O resto é legal”, disse a aluna Rayane Santos, 13.
“Os professores não passam muito as coisas. Não me surpreende em nada essa nota. É ruim. Os alunos não prestam atenção, por isso não sabemos nada. Os professores saem da sala quando os alunos estão fazendo bagunça. Só às vezes tem dever de casa. A aula é boa, mas os alunos bagunçam. Depois da refeição, todo mundo joga tangerina, fruta, um no outro, jogam comida debaixo da mesa, pegam a colher e a fazem de catapulta para jogar arroz...”, conta Joice Santos.
A entrada da João Goulart é uma porta de vidro, ladeada por uma bandeira do Brasil em um mastro. Dali, vêem-se uma escada com corrimão e, à direita, andaimes, carrinhos de transporte de material de obra, uma escada desmontável e tapumes – provavelmente restos de uma obra recente.
A cinco metros da porta da escola está o projeto Criança Esperança, da Rede Globo; a outros 10 metros, o projeto Dançando para não Dançar; no andar de baixo, o grupo cultural Affroreaggae. Na sexta-feira (29), um grupo de cerca de 30 estrangeiros estava no local, rotina quase diária desde a instalação do elevador.
Caroline Corrêa, 14 anos, estudou na escola João Goulart até a 3ª série, mas saiu porque “não estava aprendendo nada”. Foi para a Escola Municipal Roma, uma das mais bem colocadas no município, com Ideb de 5,4 nos anos finais, o triplo da nota do ex-colégio. “É muita diferença”, disse Caroline.
A australiana Ruth Hienna, que mora no Rio há um ano e fala bem português, visitava o espaço na sexta-feira (29), disse que a situação é curiosa.
“É curioso, mas nem tão surpreendente. Há muito preconceito no Brasil, muita desigualdade. O governo não está nem aí para a educação. Se a economia está bem, então está tudo ótimo. Mas educação é chave para um país. Parecem estar fazendo o mesmo que a Austrália: evitam educar os aborígenes para não perderem poder”, disse Ruth Hienna, de origem afro-aborígene.
A secretária de Educação, Cláudia Costin, afirmou ao iG que o mau resultado da João Goulart, divulgado em julho de 2010, também deixou todos no órgão “chocados”, por conta do “ambiente cultural rico” que cerca a escola.
A secretaria mudou a direção e a coordenação pedagógica da escola este ano e instituiu uma série de programas de reforço e estendeu o horário de funcionamento para sete horas diárias.

(Por Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 03/08/2011 07:00)

Algumas coisas têm que ser esclarecidas. O Ciep João Goulart faz parte de um complexo, onde estão inseridos o Espaço Criança Esperança e o AffroReggae. Daí, talvez, venha o espanto. A proximidade com projetos assistenciais famosos, bem como, o complexo ser o cenário ideal para poses de personalidades do mundo, dá a impressão que a educação do Ciep também seja referência e exemplo para todos que queiram ver, diferentemente dos outros Cieps espalhados pelo Estado. Porém, a realidade é bem diferente, pois, segundo a reportagem acima, o Ciep esta longe de ser considerado uma escola. É uma pena.
A respeito dos movimentos assistenciais (Criança Esperança e AffroReggae) não tenho muita coisa a dizer, pois apenas se limitam às atividades de dança e esporte.
Quanto à verdadeira educação, o Ciep João Goulart é mais um espaço de total desinteresse do estado, dos professores, dos pais e dos alunos. E isso está claramente registrado na triste pesquisa do Ideb sobre a nossa pífia educação. O vilão é sempre o mesmo, o estado. Mas prefiro acreditar que pais, professores e alunos tenham sua parcela de culpa nos problemas da falta de aprendizagem.
Se o estado não faz a sua parte; pais, professores e alunos não podem cruzar os braços e esperar a morte chegar. E se há omissão dos órgãos responsáveis pela educação, que sejamos mais proativos na busca de melhores condições de vida.
Reivindicar, protestar, exigir direitos parece não fazer parte da cultura do brasileiro, mas se quisermos melhorar a nossa vida e a vida de nosso país, temos que começar a pensar no coletivo, na busca de melhorias, para assim, exercemos a nossa cidadania.

(Por Franco Aldo – 03/08/2011 – 08:09hs)

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