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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Centenário de Nelson Rodrigues

Às vésperas do centenário, Nelson Rodrigues deve ganhar fundação.
Escritor faria 100 anos em 2012, mas comemorações para o autor de 17 peças começam em agosto.


Não é de hoje que Nelson Rodrigues aparece saudado como o maior dramaturgo do País. Talvez um dos maiores do mundo. Será mesmo? "Essa é a nossa pergunta e é para isso que queremos resposta", diz Marco Antonio Braz, diretor devotado à obra rodriguiana desde os anos 1990. "Não queremos criar um novo mito, mas revelar aquilo que ele, de fato, fez."
Às vésperas do centenário do autor - que completaria 100 anos em 2012 - Braz capitaneia um movimento pela revisão de sua vasta obra. Uma iniciativa que deve ter início oficial no próximo dia 23.

Para a data em que Nelson completaria 99 anos, o encenador prepara a estreia de O Beijo no Asfalto. Mas a peça será apenas o prenúncio de uma série de montagens e atividades que estão previstas para o ano que vem. Entre os planos, merece relevo a intenção de se criar uma fundação inteiramente dedicada ao escritor. Nela, reuniriam-se, pela primeira vez, várias informações hoje dispersas.

"Se você quiser saber quantas montagens foram feitas do Nelson Rodrigues no exterior, ninguém saberá responder a isso formalmente. É uma vergonha", aponta Braz. Da mesma maneira, também são controversos os relatos sobre quantas teses de mestrado e doutorado já foram dedicadas ao autor de A Falecida. Ou sobre quais seriam as traduções já feitas de suas peças. A ideia que se aventa para o centenário é a de lançamento de uma "fundação virtual", espaço em que todos esses dados estariam à disposição do público.

Inicialmente, explica Braz, os planos previam a construção de uma fundação com sede física. "Mas isso só poderia ser feito pelos herdeiros", relata ele. "E, como as coisas não evoluíam, começamos a buscar soluções mais práticas."

Parceiros do governo e da iniciativa privada estão sendo procurados para auxiliar na empreitada. Os planos para a fundação virtual já são objeto de negociação com o Itaú Cultural. E poderiam culminar, inclusive, com uma exposição nos moldes daquelas que o instituto organizou recentemente para outros notáveis, como José Celso Martinez Corrêa e Flávio Império.

Outro dos focos do centenário será um amplo ciclo de leituras. "É o que eu chamo de inventário e exumação do legado do Nelson", comenta Braz. O projeto contemplará todas as 17 peças do autor, que serão apresentadas na ordem cronológica em que foram escritas. Sempre com a participação de quatro ou cinco convidados.

Para a leitura de O Beijo no Asfalto, deve-se contar com a presença de Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Suely Franco e Sérgio Britto. Atores que participaram da primeira montagem da obra, em 1962, no Teatro dos Sete. "É importante não só a leitura, mas o depoimento deles sobre a história de concepção desse espetáculo, que foi escrito especialmente para a Fernanda e para esse grupo de intérpretes", diz Braz. Ao fim do ciclo, a intenção seria conseguir reunir e documentar os depoimentos de cerca de 90 estudiosos e/ou contemporâneos do escritor.

As leituras não devem excluir a realização de espetáculos. Além da produção que entra em cartaz no dia 23, Braz prepara versões de Os Sete Gatinhos, Valsa n.º 6 e Boca de Ouro.

Desde o início de sua trajetória, o diretor sempre esteve vinculado ao teatro de Nelson Rodrigues. Já assinou encenações de oito dos seus textos. Alguns deles montados mais de uma vez. Para essas novas criações, contudo, Braz conta com o auxílio de veteranos do palco que nunca antes enveredaram pelo universo do autor. É o caso de Renato Borghi, que poderá ser visto tanto em O Beijo no Asfalto quanto em Os Sete Gatinhos. "Borghi é um ator completamente rodriguiano que não tinha feito Nelson Rodrigues", observa o diretor. Quem também debuta na poética do dramaturgo é Marco Ricca, que deve produzir e protagonizar a futura encenação de Boca de Ouro.

Em espanhol. Existem algumas poucas traduções de Nelson Rodrigues para o francês. E também um volume em língua inglesa. Agora, uma das promessas é verter seis peças para o espanhol. Trabalho a ser coordenado por José Sanchis Sinisterra, um dos mais destacados dramaturgos e diretores castelhanos da atualidade.

Mostrar esses títulos em um contexto que não nutra os mesmos preconceitos que ainda vigoram no Brasil também poderia nos trazer outras perspectivas. "Aqui, muitos não entendem que, mesmo que ele tenha sido reacionário, a obra não guarda vestígio disso", observa Braz.

Mais do que revelar o próprio autor, essas traduções também poderiam trazer determinante colaboração para o teatro nacional, acredita o diretor. "Estamos diante da possibilidade de uma nova revolução do teatro brasileiro. Mostrando o que temos de melhor, conseguiríamos uma abertura, uma troca."

(Por Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S.Paulo 27 de julho de 2011 | 0h 00)

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