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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ontem foi Dia de Machado de Assis

Ontem foi dia de Machado de Assis. Mais uma primavera conquistada, 172 anos de genialidade.
Mas, a cada ano, parece que as lembranças dos gênios do passado se contrapõem à medíocre realidade do presente. Até porque, hoje em dia, ser intitulado intelectual não enche o bolso de ninguém, não é mesmo? Pois a realidade do hoje vive em função do dinheiro, da riqueza. Valores são desprezados, a educação é deixada a segundo plano e futilidades são supervalorizadas.
A Academia Brasileira de Letras, há muito tempo, deixou de ser o berço da intelectualidade brasileira para servir aos interesses das vaidades e dos caprichos de boçais e analfabetos que se intitulam doutores da política e da arte brasileira. São intitulados como a ‘nata’, a tal elite intelectual brasileira; na verdade são um bando de caipiras, fruto do coronelismo ainda enraizado em nossa cultura. São poucos os que se salvam.
Para exemplificar o que eu disse acima, recebi o artigo abaixo, que achei muito interessante, e que contrapõe a triste realidade cultural brasileira com os verdadeiros valores de nosso passado cultural, enxergável até por aqueles que são alienígenas em terras tupiniquins.

Para sempre, Machado de Assis

Hoje, 21 de junho de 2011, completam-se exatos 172 anos de nascimento do maior e mais respeitado escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis. Irônico, intelectual, cronista, jornalista e crítico literário, o autor coleciona títulos brilhantes que marcaram a história da literatura brasileira. Um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) foi um dos grandes incentivadores dos escritores tupiniquins. No entanto, para muitos, o ano de 2011 reservou ao escritor um ato insólito capaz de fazê-lo revirar no túmulo.

Polêmica - Foi em abril deste ano, que a medalha Machado de Assis, considerada a máxima honraria da ABL, foi concedida ao jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho. Sim, o próprio, que ganhou a alcunha de "doutor". Para completar, o jogador em entrevista coletiva afirmou que não tinha um livro preferido e ainda que pediria aos imortais dicas de leitura. "- Não tenho livro preferido, ler não é muito a minha, mas fico feliz com a homenagem". O fato gerou protestos na internet, especialmente no twitter, do tipo: "Quem será o próximo homenageado? Tiririca?".

Um dos vídeos mais assistidos em abril foi o desabafo do jornalista Luis Carlos Prestes sobre o fato. Ele evoca o cantor Lobão que reivindica a política da meritocracia no Brasil, ou seja, a escolha baseada no mérito (aptidão) como motivo para se atingir determinada posição. "Ronaldinho agraciado com a medalha da mais alta distinção da inteligência brasileira? Isso me tira a esperança de um Brasil melhor. (...) Eu tenho vontade de rasgar todos os meus livros e de parar de estudar os verbos irregulares".

A academia - E pensar que o Bruxo do Cosme Velho, um dos apelidos de Machado, ao longo da vida e desde o primeiro discurso (em 1897) se mostrou zeloso com os rumos da ABL. "Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira".

Universo machadiano - Apontado como o pai do realismo no Brasil, na lista de livros "coringas" do escritor carioca estão Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e vários outros contos, entre eles, Papéis Avulsos, com o conto O Alienista, em que discute a loucura. Também escreveu poesia e marcou época como um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no país.

Para gringo ler - Já que o brasileiro Ronaldinho Gaúcho nunca leu nenhum livro de Machado de Assis e pediu dicas de leitura, um cineasta norte-americano poderia ajudá-lo. Ninguém menos que Woody Allen citou o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, como um de seus cinco livros favoritos. A lista foi elaborada para o jornal britânico The Guardian.

No artigo, o cultuado diretor comenta suas impressões sobre a obra do carioca. "Eu recebi pelo correio um dia. Algum estranho do Brasil me mandou e escreveu "você vai gostar disso". Como é um livro fino, eu li. Se fosse grosso, eu teria descartado". (...) "Fiquei chocado ao ver como é encantador. Não conseguia acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu. Você pensaria que foi escrito ontem". A obra foi publicada originalmente em 1881.

Frases do bruxo do Cosme Velho

"E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida". Quincas Borba (1891)

"As pessoas valem o que vale a afeição da gente, e é daí que mestre Povo tirou aquele adágio que quem o feio ama bonito lhe parece". Dom Casmurro (1899)

"O melhor drama está no espectador e não no palco". (conto A Chinela Turca)

"Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado".

(Fonte: A Gazeta 21.06)

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